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Novo Polanski é engenhoso, mas decepciona
Estreia mais comentada do 60º Festival de Berlim, thriller de viés político "The Ghost Writer" teve poucos aplausos
Diretor, que continua em prisão domiciliar, foi tratado como herói; longa "Howl", com James Franco, foi boa surpresa da competição
CRISTINA FIBE
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
Era a estreia mais comentada
em Berlim. "The Ghost Writer", de Roman Polanski, levou
curiosa vantagem em relação a
seus concorrentes ao Urso de
Ouro -nenhum está cercado
de tanto burburinho, com direito a empurra-empurra entre
jornalistas, ontem.
Isso porque o diretor, alvo de
processo nos EUA desde 1978
por fazer sexo com uma garota
de 13 anos, foi preso em setembro na Suíça, que se recusa a extraditá-lo até que a Justiça de
Los Angeles tome decisão definitiva sobre o caso.
Ausente, Polanski foi tratado, no 60º Festival Internacional de Cinema de Berlim, como
um herói que recebia DVDs na
cadeia para finalizar sua obra.
O resultado é um thriller engenhoso, mas aquém das expectativas e modestamente
aplaudido. Suas chances de sair
da Berlinale com um troféu residem no possível desejo do júri
-presidido pelo alemão Werner Herzog- de protestar contra a prisão do cineasta de 76
anos, Urso de Ouro em 1966
com "Armadilha do Destino".
Outro fator que pode contribuir é o seu viés político -o alvo do filme é o ex-premiê britânico Tony Blair (1997-2007),
envolvido em uma conspiração
fictícia que é mero pano de fundo para que os autores critiquem o apoio inglês aos EUA e
à Guerra do Iraque.
"Dizem que o veredito da história demora anos", afirmou o
corroteirista Robert Harris,
ontem. "Mas o veredito da história, em geral, vem na hora. E
temos um veredito sobre a
guerra e sua legalidade."
Pierce Brosnan foi o escolhido para interpretar o premiê,
aqui chamado Adam Lang, que
precisa de um novo "ghost-writer", após a morte suspeita do
antigo encarregado.
Ewan McGregor surge como
o escritor que pouco se interessa por política, mas que será
agraciado com US$ 250 mil pela missão. Só que ele precisa se
mudar para a casa do biografado, agora nos EUA, para manter
em sigilo as informações.
Além de se envolver com a
misteriosa mulher do chefe
(Olivia Williams), ele quer saber o que Lang não lhe conta e
descobre um conluio que transforma o filme num suspense
que não chega a amedrontar.
Concorrente cult
A boa surpresa de ontem foi
outro filme, "Howl", primeira
ficção de Rob Epstein e Jeffrey
Friedman, que abriu o Festival
de Sundance neste ano.
Eles usam passagens da vida
de Allen Ginsberg, criado com
charme por James Franco
("Milk"), para fazer uma longa
interpretação de seu poema
mais célebre, "Howl".
Os diretores misturam animação, entrevistas e transcrições de um processo contra o
editor, pela "obscenidade" da
obra, para criar um filme de potencial cult entre poetas, gays e
simpatizantes.
A repórter CRISTINA FIBE está hospedada a
convite do festival
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