São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003 |
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ARTES PLÁSTICAS Intervenções de Neville d"Almeida concedem nova roupagem à obra do artista brasileiro, 30 anos depois Obra de Oiticica reinstala-se com açúcar
RODRIGO MOURA FREE-LANCE PARA A FOLHA Luis Buñuel está estatelado. Sobre a capa de uma "The New York Times Magazine" de 1973, o surrealista espanhol, os olhos esbugalhados, tem cocaína delineando seu rosto. O mito Marilyn Monroe está com lábios besuntados pelo pó estimulante. A performática Yoko Ono, com o nariz tampado por uma pelota da droga. Na sala ao lado, o cineasta Neville d"Almeida, 61, desenha grossas fileiras sobre fotos no jornal. Três décadas depois, elas só poderiam ser de açúcar. César Oiticica Filho, 35, sobrinho de Hélio Oiticica (1937-1980) e dedicado curador de sua obra, fotografa tudo. Exatos 30 anos após a gênese da série "Quase-Cinema", as imagens das "Cosmococas" ganham novos suportes. Este é o nome da série de instalações de Oiticica e Neville d"Almeida em que se projetavam as imagens acima descritas, além de outras em salas que obedeciam aos preceitos ambientais da obra do artista brasileiro. Sua nova edição será vista a partir de hoje, em contexto comercial, quando a galeria Fortes Vilaça exibe uma série de cópias fotográficas feitas recentemente a partir de eslaides originais das instalações. E como edições de obras póstumas sempre são complicadas, o que estabeleceu maior liberdade para recriar é o fato de o co-autor estar vivíssimo e, ao lado dos herdeiros, definiu a transposição fotográfica das imagens. "Minha intenção e a do Hélio era fazer as ampliações fotográficas no dia seguinte ao que tivemos a idéia, em 1973, além de um livro, uma caixa com as imagens e pôsteres", conta Neville. As fotos têm, em sua nova roupagem, cerca de 110 x 80 cm e um acabamento brilhante um pouco estranho para uma obra de 30 anos. A abertura de hoje marca a primeira fase do projeto, com exibição de imagens (cerca de 90) das seguintes "Cosmococas": "CC1: Trashiscapes", "CC2: Onobject" e "CC3: Maileryn". São as que trazem Buñuel, Yoko e Marilyn. Todas as obras são de 1973 e foram feitas no loft de Oiticica em Nova York. Na segunda fase da mostra, a partir de 25 de abril, serão exibidas imagens de "CC4: Nocagions" e "CC5: Hendrix-War": "estrelando" John Cage e Jimi Hendrix. Neville define sua amizade com Oiticica como "artística". "Ele viu meu primeiro longa, "Jardim de Guerra" (1967), e adorou. Ficamos de fazer um filme juntos, e cheguei à idéia de um filme de eslaides. Ele achou genial." Canibalizando o cinema, as "Cosmococas" realizam a idéia da imagem estática em movimento. Oiticica fez as fotos, e Neville, os desenhos. Sobre o uso da cocaína nas obras, Neville minimiza e lembra que o poder transformador da droga pode ser comparado ao da arte, além de apontar para contexto histórico de contestação pela consciência. Mas enfatiza o uso de elementos como facas, canivetes, canudos, pedra, livros, discos, parangolés, plásticos -numa lista feita que chega a 40 nomes. "Cocaína não é nada. Invenção é tudo", decreta Neville. Depois de revisitar as imagens da dupla, é impossível ter opinião diferente. MOMENTOS - FRAMES, COSMOCOCA. Exposição com fotos da série de Hélio Oiticica e Neville d"Almeida. Onde: Galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, São Paulo, tel. 0/xx/11/ 3032-7066). Quando: abertura hoje, às 20h; até 17/4. De ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h. Quanto: grátis. Veja galeria de fotos em www.folha.com.br/ilustrada Texto Anterior: Música 1: China pede que Stones não toquem 4 músicas Próximo Texto: Pinacoteca mostra trabalho inédito do artista plástico Índice |
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