BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Para quem zapeia a TV durante a madrugada, o programa "O Show de Jools Holland" ("Later with Jools Holland") -exibido pelo canal People + Arts- chama a atenção por estar escondido em um horário ingrato, apesar de ser a atração televisiva musical mais conceituada da Inglaterra.
Produzido pela BBC, "Later" completou dez anos em 2002 e é uma espécie de "Top of the Pops" com credibilidade. Os conhecidos playbacks dão espaço para músicos que se apresentam de verdade: mesmo não sendo transmitidos ao vivo, os shows são gravados em uma tacada só, de primeira. Desde 1992, mais de 400 artistas já passaram por ali.
Uma amostra do que significa a atração pode ser vista no DVD "10 Years of Later", que reúne 30 artistas de estilos variados e diferentes partes do mundo que já tocaram no programa, como Moby, Baaba Maal e Ibrahim Ferrer.
O britpop, cena que sacudiu a Inglaterra nos anos 90, está representada por The Verve ("Bitter Sweet Symphony"), Blur ("Parklife"), Pulp ("I Spy") e Oasis ("Whatever"); inspiradores, como Morrissey ("Suedehead") e Paul Weller ("Woodcutter's Son"), montam uma espécie de árvore genealógica.
Antes de mais nada um músico, o apresentador, Jools Holland, sabe a diferença que faz uma boa "cama". A presença de uma seção de cordas para o Pulp, por exemplo, aumenta a dramaticidade do performático Jarvis Cocker, enquanto Nick Cave cria um clima de bar decadente ao tocar um piano, em "God Is in the House".
Em alguns momentos, surgem retratos instantâneos da história do rock: o Radiohead tocando uma "Paranoid Android" ainda melhor do que a versão oficial; PJ Harvey no auge de sua fase "femme fatale" em "Down by the Water"; e o vocalista do The Hives, "Howling" Pelle Almqvist, fazendo caretas à Mick Jagger em "Hate to Say I Told You So". Isso sem falar que ainda há espaço para jazz, black music, world music, música portuguesa, latina etc.