São Paulo, domingo, 13 de março de 2011

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O humor era escudo, diz Claudia Jimenez

Atriz, que estreia esta semana nos palcos de SP, afirma que sentimento de rejeição fez aflorar seu lado cômico

Peça "Mais Respeito que Sou Tua Mãe!" põe em cena dona de casa incapaz de controlar família disfuncional

LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A dona de casa que Claudia Jimenez, 52, interpreta na peça "Mais Respeito que Sou Tua Mãe!", uma das estreias da próxima sexta em São Paulo, é daquelas que, "se o filho [na verdade só um deles, o primogênito] mata alguém, ajuda a esconder o corpo", nas palavras da atriz.
Algemada a uma família disfuncional -o sogro planta maconha no quintal, a filha faz shows eróticos na webcam e é alvo do comichão sexual do irmão-, Nalva até tem seus rompantes "civilizatórios" e dias de sermão, mas costuma aceitar as regras do cárcere doméstico.
A primeira, diz Claudia, é não hesitar face à questão: quero ser feliz ou ter razão? A caminho dos 35 anos de carreira, a atriz já se fez a pergunta algumas vezes. A garota que recebia chokito dos colegas de escola para subverter os ensinamentos da madre na aula de religião vai dizer que sempre riu diante da encruzilhada ("Sou engraçada desde pequena..."; "As pessoas esperam isso de mim...").
Os óculos escuros grudados no rosto por uma hora na nublada tarde de verão carioca e a voz que míngua (ou fica embargada) no fim de algumas frases discordarão, como a lembrar sorrateiramente o quinhão de melancolia demarcado na alma de todo clown.
Claudia teve câncer no mediastino (na região do tórax), sofreu um infarto, colocou cinco pontes de safena e nutriu "uma relação não muito satisfatória" com o pai.
Mas o que reveste de nuances graves e circunspecção a conhecida máscara cômica da atriz é a razão que a levou a empunhá-la pela primeira vez: o sentimento de rejeição.
"Não tinha sensualidade, era muito mais gorda do que sou hoje. Não tinha forma nem vaidade. Achava que não tinha cacife para seduzir um homem. Como tinha de ser amada, me joguei nas mulheres", diz.
"Com o humor, foi a mesma coisa: me servia de escudo, de instrumento de defesa. "Olha como sou "fodona", como nem ligo se alguém me chamar de feia!" Mentira!" Insegurança intuída por Chico Buarque a certa altura dos ensaios de "Ópera do Malandro", musical que a projetou, em 78. Ela havia sido escalada pelo diretor Luis Antônio Martinez Corrêa para encarnar a chefe do bordel da Lapa, Dorinha Tubão.
"O Chico me viu em cena e falou: "Ela é a Mimi Bibelô, Luís!". Ele sacou tudo. Eu era virgem. Tinha de fazer essa prostituta que finge ser virgem para excitar os homens", lembra Claudia.

BEIJINHO, BEIJINHO
Adeus, peças infantojuvenis no Tijuca Tênis Clube e aulas para a molecada do jardim de infância.
O pouso pós-"Ópera" seria a TV, primeiro como integrante do balé de abertura de "Viva O Gordo", e logo pinçada por Chico Anysio e matriculada, sob a graça de Cacilda, no que ela classifica de "Sorbonne do humor": "A Escolinha do Professor Raimundo".
Talvez só a Edileuza de "Sai de Baixo" a tenha desbancado em popularidade. Mais recentemente, a atriz interpretou a editora-chefe de uma revista de fofocas no seriado "A Vida Alheia", sátira à imprensa de celebridades.
Quanto o assédio dos candongueiros realmente incomoda quem abre a guarda sobre a vida íntima até sem estímulo do interlocutor e a todo momento é "flagrada" em poses favoráveis em restaurantes e shoppings badalados da zona sul do Rio? "Quando optei por essa carreira, sabia que ia ficar exposta. Que seja então pela minha boca", diz ela.
"Não tenho nada a esconder, nada de que me envergonhe. Porque tem um monte de gente, né, que chega a casar e ter filhos para fingir que é o que não é."
O repórter insiste no ponto do excesso de concessões à imprensa de futilidades. "Essa não sou eu! Não vou fingir que sou discreta. E tem mais:
só desce para o "playground" quem sabe brincar!" É seu jeito de responder àquela pergunta que espreita Nalva.

MAIS RESPEITO QUE SOU TUA MÃE!
QUANDO estreia sexta (18); sex. e sáb., às 21h30, dom., às 19h
ONDE Procópio Ferreira (r. Augusta, 2.823, tel. 0/xx/11/ 3083-4475)
QUANTO de R$ 70 a R$ 90
CLASSIFICAÇÃO 18 anos


O jornalista LUCAS NEVES viajou a convite da produção do espetáculo.


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