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ARTES PLÁSTICAS
Mostra descobre caminhos de Siron
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
Outubro de 1987. Um acidente
nuclear com Césio 137 contamina
Goiânia e deixa mais de cem vítimas, várias delas fatais. Siron
Franco, 51, cria então uma série de
trabalhos sobre o tema, seis dos
quais estão na mostra "Siron
Franco - Pinturas dos 70 aos 90",
que a Pinacoteca inaugura hoje em
sua segunda sede, no parque Ibirapuera.
Localizadas no final da mostra,
as seis telas servem como um resumo -embora frouxo- da trajetória e das atitudes do artista e cidadão goiano. Os trabalhos têm
sim um certo caráter político, que
poderia prejudicar ou direcionar
demais o olhar. Observados de
perto (e de longe, cronologicamente falando), porém, falam
mais alto que a militância do artista, que já se rebelou contra a tortura durante os regimes militares, o
assassinato do índio Galdino Jesus
dos Santos e as mazelas sofridas
pelos povos indígenas.
"Rua 57", por exemplo, uma das
telas da série sobre a tragédia do
Césio, mostra com absoluta economia de meios uma das vítimas
do acidente, morta simplesmente
porque comeu um ovo. Isso mesmo, um ovo, mas contaminado.
Algo que, na simplicidade de sua
forma -sinônimo da vida-, pôde também se tornar o receptáculo
perfeito do segredo e da morte.
"Sou engajado porque sou cidadão, mas isso não tem a ver com a
minha pintura", já disse Siron, e
"Rua 57" é um exemplo disso. Onze anos depois da tragédia, desvinculada de sua motivação empírica,
a tela se torna mais impactante, sedimentada apenas em sua composição, coesão cromática e mistério.
Patrocinada pela Petrobrás, a
mostra conta com outros 41 óleos
sobre tela e sobre madeira e tem
curadoria do editor de arte Charles Cosac. O curador não trata a
mostra como uma retrospectiva,
algo que exigiria muito mais
obras, mas como um olhar sobre a
produção do artista goiano.
Ali é possível encontrar obras da
série "Madonas", em que faz leituras da religiosidade no Planalto
Central; telas que retratam a tortura durante os regimes militares
("A idéia era fazer, mais que um
registro, uma caricatura do momento" , disse); e exemplares da
recente série "Peles", em que a figuração cede lugar à abstração.
Essa última traz ainda números
que representam calibres de armas
recolhidos em notícias de jornal.
Siron não poupa padres, políticos ou profissionais liberais. Com
rigor técnico, cria seus seres híbridos e antropomorfos, carregados
de tragicidade e humor.
Sua inspiração vem de toda parte. Pode ser de lembranças, como
em "Menino Morto", retrato do filho da empregada, morto ao nascer e sepultado por massas cromáticas horizontais. Já "Hábitos Estranhos" faz referências às histórias em quadrinhos e também às
pinturas rupestres.
Nos últimos anos, tem se mostrado mais livre para aceitar o gesto em vez da narrativa. Em "Objeto Mágico", de 1994, por exemplo,
beira a abstração total ao preencher uma tela azul com remissões
a culturas ancestrais e indígenas.
Em "Jardim da Infância", de 1996,
o tema se revela nas pequenas
mãos e na trama que a separa do
mundo adulto.
Compacta, a mostra apresenta
grande coerência. Pode ser apenas
um olhar, mas enxerga longe.
Mostra: Siron Franco - Pinturas dos 70 aos
90 (42 óleos sobre tela e madeira)
Onde: Pinacoteca do Estado (Pavilhão
Manoel da Nóbrega, portão 10 do parque
Ibirapuera, tel. 011/549-8073)
Vernissage: hoje, às 19h30
Quando: de terça a domingo, das 10h às
18h. De amanhã a 3 de maio
Quanto: R$ 5
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