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Filadélfia exibe incertezas de Gober e Balka
MÁRCIA FORTES
especial para a Folha, na Filadélfia
O amante da arte moderna e contemporânea encontrará na cidade
da Filadélfia -duas horas de estrada de Nova York- uma ótima
oportunidade para excitar seus
sentidos nesta temporada.
Além das preciosas obras de
Constantin Brancusi (incluindo a
famosa "O Beijo" e diversos "Pássaros", insuperáveis na sofisticação da forma) e Marcel Duchamp
em exposição permanente no Philadelphia Museum of Art (leia texto abaixo), o visitante poderá ver
uma instigante mostra no Institute
of Contemporary Arts (ICA) da cidade, que presta homenagem a
dois relevantes artistas da atualidade: Robert Gober e Miroslaw
Balka.
Intitulada "Three Stanzas"
("Três Estrofes"), a mostra no ICA
é um curioso exercício de curadoria, trazendo para o espaço físico
da exposição a combinação de
poesia e escultura como forma de
incentivar uma reação mais emotiva por parte do espectador.
Além de incluir dez obras do escultor americano Robert Gober
(que já mereceu exposições em importantes museus da Europa e
EUA) e do polonês Balka (que representou seu país na última Bienal de São Paulo), "Three Stanzas"
exibe também um poema do premiado escritor irlandês Seamus
Heaney.
Pintado verso a verso em grandes
letras em uma das paredes centrais
da exposição, o poema de Heaney
"The Bastion" ("O Baluarte"), uma
dolorosa meditação sobre memória e perda da infância, estabelece o
tom de toda a mostra, que fica
aberta até 17 de março.
Memória e perda
Em fluente continuidade temática, a exposição demonstra que
sensações experimentadas na infância, como memória, vulnerabilidade e perda, são forças emocionais propulsoras tanto no desenvolvimento da obra de Gober
quanto na de Balka.
A mostra revisa duas peças criadas pelos artistas na década de 80.
Em "Santa Clauses" (1986), composta de 43 pequenas estátuas de
papais-noéis com narizes quebrados, expressões árduas e inclusive
um enforcado, Balka transforma
esse ícone de excitação infantil em
algo sinistro e macabro.
Já em "Slanted Playpen" (1987),
Gober perverte a idéia de segurança de um cercadinho de criança ao
emprestar uma forma de trapézio
ao objeto.
A referência autobiográfica e a
ênfase nas qualidades evocativas
dos materiais são importantes elementos para os dois artistas.
Balka, que nasceu em Varsóvia
em 1958 e hoje utiliza a casa onde
cresceu com sua família como o
seu atelier, adquiriu nos anos 90 a
tendência de expressar o seu particular sentido de sentimento e material em formas mais abstratas.
Cinco peças de Balka incluídas
nessa mostra têm como título dimensões de partes da casa da família e incorporam paradoxos entre a
beleza de suas formas e o peso de
seus obtusos significativos.
A peça intitulada "2 x (60 x 185)"
é composta de duas belas colunas,
atraentes na sua aparência translúcida, mas repelentes por serem feitas da pele e intestinos de porcos.
Já Gober, nascido em Vermont,
em 1954, combina esse sentido de
material com um imaginário mais
surrealista e representações mais
figurativas.
O artista brincou com as escalas
ao recriar em cera um enorme tablete de manteiga em 1993.
Em contraste, a sua obra mais recente na mostra, datada de 1997,
descreve um efeito perturbador
em pequena escala: uma cadeirinha de criança serve de base para
uma caixa de lenços de papel e esconde, sob ela, um ralo no chão.
Aqui, como é recorrente na obra
de Gober, se estabelece uma tensão
entre a inusitada disposição de objetos "banais" e a insólita relação
entre eles.
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