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Wey Hui lança obra censurada pelo governo chinês
ANA WEISS
DA REDAÇÃO
Groupie de bandas outsider, leitora de Jack Kerouac, Sylvia Plath
e Henry Miller, a estudante de Letras da Universidade Fundan
Zhou Wei Hui tinha tudo pra ser
uma quase famosa em Xangai nos
anos 90.
A censura literária do governo
chinês, entretanto, fez da beldade
uma verdadeira popstar da literatura ao recolher e eliminar 40 mil
exemplares de "Xangai Baby",
novela urbana que deste lado do
mundo passaria como uma autobiografia temperada com sexo
adolescente e referências do universo pop. Mas lá, vista como libertinagem emprestada do ocidente pelos organismos de censura, passou a ser consumida em
larga escala no mercado pirata.
No mês seguinte à apreensão do
livro, que será lançado no Brasil
durante a Bienal, foram vendidas
cerca de 5 milhões de cópias no
mercado negro chinês.
Classificada como pornográfica
pelo governo de seu país e de fraude por colegas como Mian Mian,
que também lança livro na Bienal
(leia ao lado), Wei Hui, 28, (pronuncia-se uei uei) falou à Folha
sobre as influências de sua literatura, sobre as acusações de plágio
e sobre sua vida (nada) privada.
Leia alguns trechos:
Folha - "Xangai Baby" parece um
relato autobiográfico, apesar da
condução ficcional como a relação
com Tian Tian, o namorado impotente que suspeita do assassinato
da mãe, e Mark, o alemão que surge de repente na trama. Há passagens de sua vida que transpôs para
a de Nikki (protagonista do livro)?
Zhou Wei Hui - Sim, algumas histórias minhas, alguns de meus
amigos estão no livro. Todos os
nomes de bares, clubes e restaurantes são reais. Basicamente, todos os detalhes são reais. Um ex-namorado meu é impotente sexual, outro é alemão.
Folha - Além de referências literárias como Henry Miller e Sylvia
Plath, você cita figuras como Coco
Chanel, Madonna e Lorena Bobbitt.
Por que essas imagens femininas
tão distantes?
Wei Hui - Por que não? Elas são
interessantes, inspiradoras para
uma jovem mulher chinesa.
Trouxeram cores e um mundo de
criatividade para uma escritora
como eu.
Folha - Mian Mian, escritora chinesa que também produz livros urbanos com alto teor sexual, a acusou de plágio em "Xangai Baby". O
que você tem a dizer sobre isso?
Wei Hui - Não tenho nada a falar.
A venda em 25 línguas, 40 países,
a venda dos direitos para cinema
e a opinião de críticos sérios como
o do [jornal" "New York Times" e
da [revista" "New Yorker" dão informação suficiente sobre meu
trabalho. Só copio a minha vida e
mostro meu respeito à geração
beat ("On the Road") em tópicos
eternos como sexo, amor, drogas,
música, ódio, desespero, paixão.
Folha - Mian Mian também vem
para a Bienal lançar um novo livro.
Vocês já se conhecem pessoalmente? Você aceitaria participar de debates com ela?
Wei Hui - Eu prefiro debater com
a Madonna ou alguma outra estrela de Hollywood. Algumas pessoas vêm debater comigo para
conseguir autopromoção e fama.
Na China, depois que meu livro
foi publicado, uns cinco ou seis jovens escritores venderam seus livros me atacando. Não foi uma
surpresa. Meu livro, o primeiro
dessa geração, foi lançado em setembro de 99.
XANGAI BABY - De: Zhou Wei Hui.
Editora: Globo. Tradução Domingos
Damasi Filho. Quanto: R$ 36 (360 págs.).
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