São Paulo, sábado, 13 de abril de 2002

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Wey Hui lança obra censurada pelo governo chinês

ANA WEISS
DA REDAÇÃO

Groupie de bandas outsider, leitora de Jack Kerouac, Sylvia Plath e Henry Miller, a estudante de Letras da Universidade Fundan Zhou Wei Hui tinha tudo pra ser uma quase famosa em Xangai nos anos 90.
A censura literária do governo chinês, entretanto, fez da beldade uma verdadeira popstar da literatura ao recolher e eliminar 40 mil exemplares de "Xangai Baby", novela urbana que deste lado do mundo passaria como uma autobiografia temperada com sexo adolescente e referências do universo pop. Mas lá, vista como libertinagem emprestada do ocidente pelos organismos de censura, passou a ser consumida em larga escala no mercado pirata.
No mês seguinte à apreensão do livro, que será lançado no Brasil durante a Bienal, foram vendidas cerca de 5 milhões de cópias no mercado negro chinês.
Classificada como pornográfica pelo governo de seu país e de fraude por colegas como Mian Mian, que também lança livro na Bienal (leia ao lado), Wei Hui, 28, (pronuncia-se uei uei) falou à Folha sobre as influências de sua literatura, sobre as acusações de plágio e sobre sua vida (nada) privada. Leia alguns trechos:

Folha - "Xangai Baby" parece um relato autobiográfico, apesar da condução ficcional como a relação com Tian Tian, o namorado impotente que suspeita do assassinato da mãe, e Mark, o alemão que surge de repente na trama. Há passagens de sua vida que transpôs para a de Nikki (protagonista do livro)?
Zhou Wei Hui -
Sim, algumas histórias minhas, alguns de meus amigos estão no livro. Todos os nomes de bares, clubes e restaurantes são reais. Basicamente, todos os detalhes são reais. Um ex-namorado meu é impotente sexual, outro é alemão.

Folha - Além de referências literárias como Henry Miller e Sylvia Plath, você cita figuras como Coco Chanel, Madonna e Lorena Bobbitt. Por que essas imagens femininas tão distantes?
Wei Hui -
Por que não? Elas são interessantes, inspiradoras para uma jovem mulher chinesa. Trouxeram cores e um mundo de criatividade para uma escritora como eu.

Folha - Mian Mian, escritora chinesa que também produz livros urbanos com alto teor sexual, a acusou de plágio em "Xangai Baby". O que você tem a dizer sobre isso?
Wei Hui -
Não tenho nada a falar. A venda em 25 línguas, 40 países, a venda dos direitos para cinema e a opinião de críticos sérios como o do [jornal" "New York Times" e da [revista" "New Yorker" dão informação suficiente sobre meu trabalho. Só copio a minha vida e mostro meu respeito à geração beat ("On the Road") em tópicos eternos como sexo, amor, drogas, música, ódio, desespero, paixão.

Folha - Mian Mian também vem para a Bienal lançar um novo livro. Vocês já se conhecem pessoalmente? Você aceitaria participar de debates com ela?
Wei Hui -
Eu prefiro debater com a Madonna ou alguma outra estrela de Hollywood. Algumas pessoas vêm debater comigo para conseguir autopromoção e fama. Na China, depois que meu livro foi publicado, uns cinco ou seis jovens escritores venderam seus livros me atacando. Não foi uma surpresa. Meu livro, o primeiro dessa geração, foi lançado em setembro de 99.


XANGAI BABY - De: Zhou Wei Hui. Editora: Globo. Tradução Domingos Damasi Filho. Quanto: R$ 36 (360 págs.).



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