São Paulo, terça-feira, 13 de abril de 2004

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"Nunca fiz nada sem sexualidade"

DA REDAÇÃO

"A sexualidade sempre esteve presente em minha obra. Não me lembro de nada que eu tenha feito em que esse tema não viesse à mente. Acho algo inerente ao ser humano", disse o coreógrafo Angelin Preljocaj, questionado sobre a presença constante de movimentos e imagens sensuais em suas criações.
Um voluptuoso exemplo é seu "Licores da Carne", que o Balé da Cidade incorpora ao repertório e apresenta a partir de amanhã em temporada no Teatro Municipal, em São Paulo.
Como uma estátua, um homem é colocado no centro do palco e fica rodeado por mulheres que o devoram com os olhos e o tocam com as bocas.
Os corpos se grudam, transitam com e sem saltos altos. Homens e mulheres encaram a platéia com pouquíssima roupa. Por baixo do sobretudo usado pela ala masculina em dados momentos, a nudez, pura e simples. O recurso de movimentação criado a partir dessa peça de roupa demarca e explora o jogo sensual do "esconde aqui, aparece ali".
"Os sobretudos são usados como uma metáfora, que pode parecer óbvia, das couraças e máscaras usadas pelas pessoas. Por baixo dessa capa, pode estar escondido algo belo, que surge quando elas resolvem mostrar sua intimidade", diz o coreógrafo.
Quando estreou na Europa, em 1988, o espetáculo causou furor com os nus, ainda que nada explícitos, dos homens. "Ainda hoje acho que a nudez masculina é pouco explorada na arte. As mulheres estão superexpostas, e eu quis variar um pouco", explica Preljocaj.
Por aqui, durante a remontagem, os bailarinos receberam "partituras coreográficas", uma espécie de mapa da coreografia. Foi um desafio para o elenco da companhia, o Balé da Cidade de SP, decorar e executar as seqüências preestabelecidas na primeira montagem. Cada um dos bailarinos precisou decorar a notação de movimentos, batizada com os nomes do elenco da versão original da obra, e comentaram a dificuldade para encaixar a movimentação na contagem de Preljocaj.
O espetáculo "Licores da Carne" se junta à coletânea de criações de coreógrafos consagrados trazidos pelo BCSP ao país com o objetivo de apresentar obras que dificilmente poderiam ser vistas pelo público brasileiro a preços acessíveis, como no caso do israelense Ohad Naharin e do argentino Oscar Araiz.
Aqui, a remontagem de "Licores da Carne" ficou a cargo da assistente Silvia Bidegain. A música original é do francês Laurent Petitgant.
Em alguns momentos, o elenco é acompanhado pelo som do saxofone, executado ao vivo por dois músicos que se alternam no palco -o próprio Petitgant e o brasileiro Ramiro Marques.


LICORES DA CARNE. Espetáculo de Angelin Preljocaj remontado pelo Balé da Cidade de São Paulo. Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nš, centro, São Paulo, tel. 0/xx/11/222-8698). Quando: de amanhã a sábado, às 21h; e domingo, às 17h. Quanto: de R$ 10 a R$ 60.


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