São Paulo, sexta-feira, 13 de abril de 2007

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Cinema

Crítica/"Viúva Rica Solteira Não Fica"

Co-produção luso-brasileira mais parece reprise de minissérie de época

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Em 1890, uma fidalga portuguesa, Ana Catarina (Bianca Byington), volta a seu país depois de viver durante anos no Brasil com o pai, sobre o qual pesa a suspeita de ter feito fortuna como "negreiro" (comerciante de escravos). Dias depois de um casamento de ocasião com um palerma, ela fica viúva -uma viúva jovem, bonita e rica, portanto cobiçada.
Segue-se uma farsa de costumes em que a protagonista se livra sucessivamente seus pretendentes -um conde (Diogo Dória), um capitão (Rogério Samora), um lorde inglês (Anton Skrzypiciel)-, uma vez que seu verdadeiro amor está voltado para um rústico campônio (Ricardo Pereira), afilhado do abade de sua quinta. A história é boa, ainda que previsível; a produção, competente; o elenco, de primeira linha.
Só que a impressão geral é de "déjà-vu", como se estivéssemos assistindo à reprise de uma minissérie de época. O substrato feminista do relato causaria furor... no final do século 19. Se o texto é uma diluição da mordacidade social de um Eça de Queiroz, a dramaturgia -eficaz, mas convencional- faz pensar em Joaquim Manuel de Macedo ou Martins Pena.
De certo modo, essa co-produção luso-brasileira é um passo atrás na própria filmografia de José Fonseca e Costa, veterano realizador de "Kilas, o Mau da Fita", "Balada da Praia dos Cães" e "Cinco Dias, Cinco Noites", entre outros títulos relevantes. Aqui, a intenção satírica raramente vai além do estereótipo e da caricatura, como a do padre glutão e mulherengo, que cochila com a taça de vinho na mão enquanto uma cantora lírica solta seus trinados numa festa.
A propósito: a melhor cena talvez seja aquela em que os convidados de uma festa no solar da viúva se põem a cantar o hino patriótico "Maria da Fonte" quando o lorde inglês desafia o capitão para um duelo. Momento de brilho num filme em que escasseia a invenção.


VIÚVA RICA SOLTEIRA NÃO FICA
Direção:
José Fonseca e Costa
Produção: Portugal/Brasil, 2006
Onde: no Frei Caneca Unibanco Arteplex 7
Avaliação: regular


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