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Cinema
Crítica/"Viúva Rica Solteira Não Fica"
Co-produção luso-brasileira mais parece reprise de minissérie de época
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Em 1890, uma fidalga portuguesa, Ana Catarina (Bianca
Byington), volta a seu país depois de viver durante anos no
Brasil com o pai, sobre o qual
pesa a suspeita de ter feito fortuna como "negreiro" (comerciante de escravos). Dias depois
de um casamento de ocasião
com um palerma, ela fica viúva
-uma viúva jovem, bonita e rica, portanto cobiçada.
Segue-se uma farsa de costumes em que a protagonista se
livra sucessivamente seus pretendentes -um conde (Diogo
Dória), um capitão (Rogério Samora), um lorde inglês (Anton
Skrzypiciel)-, uma vez que seu
verdadeiro amor está voltado
para um rústico campônio (Ricardo Pereira), afilhado do abade de sua quinta. A história é
boa, ainda que previsível; a produção, competente; o elenco,
de primeira linha.
Só que a impressão geral é de
"déjà-vu", como se estivéssemos assistindo à reprise de
uma minissérie de época. O
substrato feminista do relato
causaria furor... no final do século 19. Se o texto é uma diluição da mordacidade social de
um Eça de Queiroz, a dramaturgia -eficaz, mas convencional- faz pensar em Joaquim
Manuel de Macedo ou Martins
Pena.
De certo modo, essa co-produção luso-brasileira é um passo atrás na própria filmografia
de José Fonseca e Costa, veterano realizador de "Kilas, o
Mau da Fita", "Balada da Praia
dos Cães" e "Cinco Dias, Cinco
Noites", entre outros títulos relevantes. Aqui, a intenção satírica raramente vai além do estereótipo e da caricatura, como
a do padre glutão e mulherengo, que cochila com a taça de vinho na mão enquanto uma cantora lírica solta seus trinados
numa festa.
A propósito: a melhor cena
talvez seja aquela em que os
convidados de uma festa no solar da viúva se põem a cantar o
hino patriótico "Maria da Fonte" quando o lorde inglês desafia o capitão para um duelo.
Momento de brilho num filme
em que escasseia a invenção.
VIÚVA RICA SOLTEIRA NÃO FICA
Direção: José Fonseca e Costa
Produção: Portugal/Brasil, 2006
Onde: no Frei Caneca Unibanco Arteplex 7
Avaliação: regular
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