São Paulo, sexta-feira, 13 de abril de 2007

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Música

Crítica/"Baden Plays Vinicius"

Baden Powell troca força por lirismo em grande álbum

Violonista dissecou parcerias com Vinicius em gravação pouco antes de morrer

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

É pena que o CD "Lembranças", o último gravado por Baden Powell, já esteja fora de catálogo. Ele forma um par perfeito com "Baden Plays Vinicius", feito um mês antes, em abril de 2000, e só agora lançado no Brasil, após edições no Japão e na França.
Em "Lembranças", Baden dedicou apenas duas das 11 faixas à sua própria obra, priorizando um inventário de composições que marcaram sua infância: "Pastorinhas", "Molambo" (de seu professor Jayme Florence, o Meira) e "Dora".
Conscientemente ou não, ele, que enfrentava problemas de saúde e morreria quatro meses depois, aos 67 anos, realizou de maneira extremamente delicada, sem a força característica de sua mão direita, um retorno ao momento em que tudo começou.
Já em "Plays Vinicius", o repertório são oito criações suas com seu maior parceiro, mas interpretadas da mesma maneira suave -e só em versão instrumental, tornando o título meio estranho, já que seria mais apropriado se chamar "Baden Plays Baden".
Um caso exemplar é o de "Apelo". Embora belíssimo, o samba foi ficando, com o passar das gravações, um tanto gasto, o seu crescendo servindo de estímulo para exibições exageradas de cordas vocais -solo ou, o que é freqüentemente pior, em coro.
Já nessa última versão, Baden mostra o esqueleto da música, dissecada das gorduras acumuladas ao longo do tempo, e faz um registro ainda mais emocionado do que qualquer outro, mesmo sem o apoio da bela letra de Vinicius. A dissecação é tal que o samba se torna praticamente uma valsa, pois perde parte de sua síncopa em prol da revelação de sua grandeza melódica.
Guardadas as diferenças, pois cada tema ou interpretação de Baden é uma pirâmide (dada a quantidade de camadas que tem), ele faz abordagens semelhantes em "Consolação", "Samba em Prelúdio" e "Deixa". Não são (apenas) os sambas marcantes aquilo que se ouve, mas toda uma história de vida e de música, que passa por Bach, pelo choro e por outras referências.
No "Samba da Benção", o violonista, que tinha trocado os cultos afro-brasileiros pela fé cristã e parado de tocar "Berimbau" e outros afro-sambas, parece querer afastar um pouco a melodia dos terreiros, mas a pulsação é negra, apenas apontando outros e igualmente belos caminhos.
O Baden deste CD, em suma, não tem o violão dobrado (como se fossem duas pessoas tocando) e intenso que o tornou o maior violonista popular brasileiro. É um Baden lírico, mais contido, e ainda imenso.
A emoção aumenta ao saber que tudo foi gravado em um único dia, 13 de abril de 2000 -e registrado pelo produtor Armando Pittigliani. Resta agora, na celebração dos 70 anos de Baden, a gravadora Trama relançar "Lembranças".


BADEN PLAYS VINICIUS
Gravadora:
Deckdisc
Quanto: R$ 23, em média
Avaliação: ótimo


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