|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Público ensaia vaia, mas ovaciona Bob Dylan
MARCELO OROZCO
do "NP"
Bob Dylan acaba de tocar pela
primeira vez no Brasil. Qualquer
um que tenha visto um show dele
no país antes de 1998 esteve diante
de um espectro. Desta vez, veio
um homem com vida e um vigor
renovado, como se viu sábado à
noite no Sambódromo do Rio.
Vivo, mas nenhum Mick Jagger
saracoteante. Os 56 anos de idade
e o físico inchado pesam, ainda
mais após um problema cardíaco
quase fatal ano passado.
Tanto que, ao usar uma de suas
marcas registradas, a gaita, em
"It's All Over Now Baby Blue",
Dylan jogou seu violão para o lado
em vez de tocar simultaneamente
como em tempos de fôlego maior.
Mesmo aí, há uma diferença
enorme para o Dylan arqueado
que "estreou" no Brasil em 1990. O
de agora pode não ser um atleta,
mas está bastante empolgado para
arriscar um ou outro jogo de pernas nos solos de guitarra.
A banda ajuda. Além do cantor,
um quarteto de guitarra (Larry
Campbell), baixo (Tony Garnier),
steel guitar (Bucky Baxter) e bateria (David Kemper) unido, bem
ensaiado, tocando um perto do
outro como num palco de bar.
Já se percebe isso na primeira
das 11 músicas do show de uma
hora, "To Be Alone with You". O
que era um country-rock lépido
no álbum "Nashville Skyline" (69)
tornou-se um rock'n'roll de acordar público, arrancando um "até
que ele não é chato, não" de uma
garota na pista.
Claro que, em se tratando de
Dylan, não se agrada a todos o
tempo todo. O transe pulsante de
"Cold Irons Bound" (do álbum
"Time Out of Mind", do ano passado) e o rock básico de "Silvio"
ainda seguraram a atenção.
Mas o público se dispersou em
conversas durante as três músicas
acústicas. Entre o blues rural tradicional "Cocaine", cover do Reverend Gary Davis, e "Tangled Up
in Blue", alguns focos de apupos
nasciam nas arquibancadas do
Sambódromo.
O ensaio de vaia sumia rápido.
Inofensivo para quem já trocou
provocações pesadas com platéias
hostis ao trocar o folk pelo rock no
meio dos anos 60.
Dylan recuperou o público em
"Stuck Inside the Mobile with the
Memphis Blues Again". Um fã invadiu o palco e o ele parou de cantar por alguns versos. Retomou na
frase exata e foi ovacionado.
No encerramento, baixou o menino roqueiro em Dylan em
"Highway 61 Revisited". Ele desandou com solos sujos de uma
simplicidade quase punk por vários compassos desse blues-rock.
Final apoteótico.
Antes disso, uma garota na platéia, insatisfeita com a parte acústica, perguntou a seu grupo de
amigos se eles preferiam Dylan ou
Eric Clapton (ainda o parâmetro
de blues acústico para muitos). Ela
preferia Clapton. Entre os ternos
Giorgio Armani desse e o chapéu e
terno de caubói de Bob, a resposta
sopra diferente para cada um.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|