São Paulo, segunda, 13 de abril de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA ERUDITA
Joshua Bell tira Barber,Bloch e Walton do limbo

LUIS S. KRAUSZ
especial para a Folha

Muitos dos mais influentes críticos e teóricos da música das últimas seis ou sete décadas olharam com desdém para toda a música erudita do século 20 que não seguisse os princípios dodecafônicos, ou que não rompesse, com equivalente radicalismo, com a tradição musical do século 19.
Mas à medida que nos aproximamos do final do século, essas exigências modernistas com a música do tempo que vai ficando para trás vão se atenuando, ao mesmo tempo em que o próprio modernismo deixa de ser moderno.
Com o distanciamento, já não é mais obrigatório franzir o nariz ao ouvir os prelúdios ou concertos para piano de Rachmaninoff, por tantas décadas desprezados como anacrônicos, nem é preciso ser condescendente para apreciar Richard Strauss ou Jan Sibelius.
Cada vez mais, a sua grandeza é reconhecida, independentemente do que estivessem fazendo, à mesma época, os seus contemporâneos mais "modernos".
Assim é, também, com a música de Samuel Barber, Ernest Bloch e William Walton. Estes três românticos compuseram à sombra da Segunda Guerra Mundial.
Por muito tempo relegados, são abordados com justeza no novo CD que o ex-menino prodígio de violino Joshua Bell gravou no ano passado com a Sinfônica de Baltimore, sob regência de David Zinman, e que acaba de chegar ao Brasil.
Bell toca um Stradivarius de 1727 e é um sério candidato ao posto de estrela maior na pequena constelação dos grandes violinistas do próximo século.
Sua atitude, aqui, tem a nostalgia de quem dá voz a um mundo esquecido, como se essas músicas pertencessem a um passado inacessível -uma atitude, aliás, essencialmente afinada com a dos próprios compositores que, num mundo à beira da catástrofe, mergulharam nas areias mornas da idealização do passado.
Os concertos para violino dos ingleses William Walton, de 1938, e de Samuel Barber, de 1939, são o que esses músicos têm de mais romântico. O concerto de Walton representou, se é possível usar esta expressão, um passo atrás em sua carreira. Baseado em temas de natureza "cantabile", tem melodias sonhadoras e grandiloquentes.
No caso da suíte Baal Shem, de Ernest Bloch, o "mundo esquecido" é o dos judeus aniquilados pelo Holocausto. Composta em 1923, essa peça premonitória recebeu a versão orquestral aqui registrada em 1939, quando Bloch estava bem consciente das ameaças que pairavam sobre o seu universo de origem.

Disco: Joshua Bell (violino) e Orquestra Sinfônica de Baltimore (regência de David Zinman) interpretam Samuel Barber e William Walton (Concertos para Violino) e Ernest Bloch (suíte Baal Shem)
Lançamento: Decca
Quanto: R$ 25 (em média)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.