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MÚSICA ERUDITA
Joshua Bell tira Barber,Bloch e Walton do limbo
LUIS S. KRAUSZ
especial para a Folha
Muitos dos mais influentes críticos e teóricos da música das últimas seis ou sete décadas olharam
com desdém para toda a música
erudita do século 20 que não seguisse os princípios dodecafônicos, ou que não rompesse, com
equivalente radicalismo, com a
tradição musical do século 19.
Mas à medida que nos aproximamos do final do século, essas
exigências modernistas com a música do tempo que vai ficando para
trás vão se atenuando, ao mesmo
tempo em que o próprio modernismo deixa de ser moderno.
Com o distanciamento, já não é
mais obrigatório franzir o nariz ao
ouvir os prelúdios ou concertos
para piano de Rachmaninoff, por
tantas décadas desprezados como
anacrônicos, nem é preciso ser
condescendente para apreciar Richard Strauss ou Jan Sibelius.
Cada vez mais, a sua grandeza é
reconhecida, independentemente
do que estivessem fazendo, à mesma época, os seus contemporâneos mais "modernos".
Assim é, também, com a música
de Samuel Barber, Ernest Bloch e
William Walton. Estes três românticos compuseram à sombra
da Segunda Guerra Mundial.
Por muito tempo relegados, são
abordados com justeza no novo
CD que o ex-menino prodígio de
violino Joshua Bell gravou no ano
passado com a Sinfônica de Baltimore, sob regência de David Zinman, e que acaba de chegar ao
Brasil.
Bell toca um Stradivarius de 1727
e é um sério candidato ao posto de
estrela maior na pequena constelação dos grandes violinistas do
próximo século.
Sua atitude, aqui, tem a nostalgia de quem dá voz a um mundo
esquecido, como se essas músicas
pertencessem a um passado inacessível -uma atitude, aliás, essencialmente afinada com a dos
próprios compositores que, num
mundo à beira da catástrofe, mergulharam nas areias mornas da
idealização do passado.
Os concertos para violino dos
ingleses William Walton, de 1938,
e de Samuel Barber, de 1939, são o
que esses músicos têm de mais romântico. O concerto de Walton
representou, se é possível usar esta
expressão, um passo atrás em sua
carreira. Baseado em temas de natureza "cantabile", tem melodias
sonhadoras e grandiloquentes.
No caso da suíte Baal Shem, de
Ernest Bloch, o "mundo esquecido" é o dos judeus aniquilados pelo Holocausto. Composta em
1923, essa peça premonitória recebeu a versão orquestral aqui registrada em 1939, quando Bloch estava bem consciente das ameaças
que pairavam sobre o seu universo
de origem.
Disco: Joshua Bell (violino) e Orquestra
Sinfônica de Baltimore (regência de David
Zinman) interpretam Samuel Barber e
William Walton (Concertos para Violino) e
Ernest Bloch (suíte Baal Shem)
Lançamento: Decca
Quanto: R$ 25 (em média)
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