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TELEVISÃO
Joel Zito Araújo pesquisa a presença da comunidade negra nas novelas; evento no CCBB-SP discute hoje o tema
"Da Cor do Pecado" ainda peca com negros, diz cineasta
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A trama "Da Cor do Pecado" é
um marco pela escalação da primeira protagonista negra em novelas da TV Globo. Peca, no entanto, por ter poucos negros no
elenco e pelo fato de, na maior
parte do tempo, inserir a personagem Preta (Taís Araújo) em um
núcleo majoritariamente branco.
Essa é a opinião do cineasta Joel
Zito Araújo, autor do livro e documentário "A Negação do Brasil
- O Negro na Telenovela Brasileira" (2000), resultado de um levantamento da participação de atores
negros em 174 novelas exibidas
entre 64 e 97 pela Globo e Tupi.
Araújo tornou-se um dos principais debatedores do país sobre a
presença do negro na televisão.
Foi convidado para um debate
hoje, Dia da Abolição, no Centro
Cultural Banco do Brasil de São
Paulo, com o apresentador Netinho de Paula, o cineasta Jefferson
De e o ator Maurício Gonçalves.
Araújo só não poderá comparecer porque prepara para o próximo mês o lançamento de seu longa-metragem de ficção "Filhas do
Vento" (com Taís Araújo, Ruth
de Souza, Milton Gonçalves, entre
outros) no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA).
Desde 1997, quando encerrou
sua pesquisa de televisão, o cineasta continua monitorando as
telenovelas. E afirma que a situação melhorou, mais ainda está
longe de ser ideal. "Em termos
numéricos, quase nada mudou. A
participação de negros fica abaixo
dos 10% do elenco, mesmo em
"Da Cor do Pecado". Essa novela
teve uma iniciativa saudável em
escalar uma protagonista negra.
Houve um impacto positivo na
auto-estima dos negros, que vejo
até pela minha família", diz.
Outro problema de "Da Cor do
Pecado", segundo ele, é Preta praticamente não ter convívio com a
comunidade negra, principalmente após a morte da mãe (interpretada por Solange Couto).
"Isso é comum nas novelas. É o
caso também do Bruno, de "Celebridade". É um negro num papel
de famoso, fotógrafo badalado.
Mas não possui família, não tem
história", diz. Na trama, Bruno,
interpretado por Sérgio Menezes,
mora sozinho num flat luxuoso.
Sobre as críticas, Luís Erlanger,
diretor da Central Globo de Comunicação, afirmou: "É muito
comum se culpar a janela pela
paisagem. O destaque de negros
na nossa sociedade ainda não é o
desejado -basta ver, por exemplo, o número de jornalistas negros na Redação da Folha. As novelas retratam essa realidade que,
felizmente, está mudando".
Araújo diz que a TV Globo demonstra estar preocupada com
esse tema, o que não vê em outras
emissoras. Cita explicitamente a
Record, controlada pela Igreja
Universal. "Eles desvirtuaram
completamente o projeto original
da série "Turma do Gueto". Ela
abordaria a realidade dos negros,
mas passou a estereotipá-los, a
explorar a violência. Além disso,
há os programas da Igreja Universal que são preconceituosos com
o candomblé e a umbanda."
O presidente da Record, Dennis
Munhoz, respondeu, por meio de
sua assessoria, que a série "aborda
o problema da violência na periferia de São Paulo, independentemente da raça dos moradores".
Segundo ele, a emissora "abre
espaço em sua programação para
a comunidade negra, tendo os
programas "Domingo da Gente",
apresentado por Netinho de Paula, "Domingo Espetacular", com
Nill Marcondes, e, na Record Internacional, a apresentadora Joyce Ribeiro". Sobre os programas
da Universal, disse: "Eles são exibidos em horários locados à igreja, sendo de nosso conhecimento
que a linha editorial não apresenta nenhum tipo de preconceito".
Na avaliação do senador Paulo
Paim, a situação está melhor. Ele é
autor do Estatuto da Igualdade
Racial, em votação no Congresso,
que prevê cota obrigatória de 20%
de negros na programação.
"Percebi um avanço, mas isso
não significa que as cotas não sejam mais necessárias. Eu adoraria
que não fosse preciso adotar essa
política, mas ainda há muito em
que avançar", afirma o senador.
A Globo, contrária às cotas, está
abaixo dos 20% previstos no estatuto, pelas contas de Araújo.
"Nossas escalações são por critérios artísticos, porque achamos
que o sistema de cotas cria injustiças e não resolve o problema. E se
essa cota for usada em papéis que
reforçam o preconceito contra
negros?", questiona Erlanger.
PARTICIPAÇÃO DOS NEGROS NA TV.
Debate com Netinho, Jefferson De e
Maurício Gonçalves. Onde: CCBB (r.
Álvares Penteado, 112, São Paulo).
Quando: hoje, às 19h. Quanto: grátis.
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