São Paulo, domingo, 13 de maio de 2007

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Mônica Bergamo

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Elas recebem hoje filhos, netos e bisnetos para comemorar uma vida de aproximadamente um século

Mamãe tem (quase) 100

VIOLETA JAFET

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Dona Violeta, 99, na sala de casa; ao fundo, um quadro dela aos 50 anos


Uma vida cheia de vidas

"Sou eu. A grande mãezona", diz dona Violeta Jafet, 99, ao abrir a porta de seu apartamento -ela mora no mesmo condomínio de dona Filomena Matarazzo Suplicy, no Jardim Paulistano. Como a vizinha, fala muito da mãe, Adma Jafet, fundadora do hospital Sírio Libanês. "Ela era libanesa. Tinha 15 anos quando veio ao Brasil, com um homem 20 anos mais velho. E os dois formaram o casal 20." Violeta prossegue: "Era visionária, cem anos à frente de seu tempo. Eu nasci depois de sete anos de casamento. Minha querida irmã Ângela era muito melhor do que eu. Falava cinco línguas, viajou no Zepelim." Ela mostra um quadro de fotografias, "uma vida cheia de vidas, de mortes, de despedidas", diz. Um de seus quatro filhos, Basílio, morreu há poucos anos, com mais de 70.

 

Ao posar para a foto, ela reclama: "Tem que ser com bengala?". Três vezes por semana, dona Violeta vai ao Sírio Libanês. Ela presidiu o hospital até o ano passado, e hoje é presidente honorária. Uma das filhas oferece o livro da instituição à colunista. "Será?", diz dona Violeta. Sorri. "Melhor não. Os outros jornais vão ficar chateados." Diz que hoje é "universalista. Todos têm que estar juntos: maometanos e cristãos, pretos e brancos, judeus e católicos". Pede que não se fale de um político que, no século passado, chegou a desapropriar o hospital. "São três as palavras: esquecer, perdoar, amar. Esquecer é o mais difícil."

FILOMENA MATARAZZO

O tempo passa tão rápido

Dona Filomena Matarazzo Suplicy está sentada na sala. O cabelo impecável, as mãos no colo, ela canta: "Vai lembrar que um dia existiu um alguém que só carinho pediu, e você fez questão de não dar, fez questão de negar... É tão bonita essa música. Você conhece? É da Maysa [que foi casada com André, irmão de dona Filomena]". Aos 98 anos, ela é mãe de 11 filhos (entre eles, Eduardo Suplicy), que lhe deram 38 netos e 58 bisnetos. Todos os dias pede à filha Besita Suplicy, 71, que coloque as músicas de Maysa para tocar no apartamento do Jardim Paulistano.

 

Lá, ela faz fisioterapia três vezes por semana e reza o terço, sempre às seis da tarde. "Você quer perguntar sobre a minha vida? Eu nunca fiz nada de extraordinário", diz. "Minha mãe é que foi uma mulher excepcional. Ela era de uma família de 14 filhos, sendo dez mulheres. Foi uma das primeiras brasileiras a se casar com um italiano. Na época, isso era raro, raro."
 

Muito religiosa, ela vai à missa aos domingos. "Minha mãe fundou a liga das mulheres católicas, eu já te contei? Ela trabalhava muito. E minha casa era movimentada. Eu me lembro com muito carinho. A gente ia andar a pé na avenida Paulista. Era uma obrigação. Todo dia. Ia minha mãe, meu pai, um grupo grande. Eram parentes, amigos. Uma vida quase comunitária. Era gostoso aquele tempo." Para comemorar o Dia das Mães, a família fará um lanche da tarde. "Mas pedimos para os bisnetos não virem. Fazem muito barulho, correm pela casa", diz a filha Besita. No dia 24 de setembro, dona Filomena completará 99 anos. "É bastante tempo", diz e cantarola outra música, agora em francês: "Le temps passe si vite... [O tempo passa tão rápido]".

ALEXANDRA LUTFALLA

Uma boneca no baú

"Quero ver se na minha idade você vai espalhar, e vai comemorar!", diz dona Alexandra Lutfalla, sempre que um dos quatro filhos relembra a idade da mãe: 94 anos. Ela não gosta muito de aniversário, mas comemora o Dia das Mães. E começa a preparar os quitutes com dois dias de antecedência. Afinal, além de filhos, recebe hoje noras, genros (entre eles, Paulo Maluf, casado com sua filha Sylvia), e boa parte dos 15 netos e 40 bisnetos. "Como eu e meu marido, sozinhos, fizemos tudo isso?", diz. Todos os dias, dona Alexandra faz caminhadas no jardim de sua casa de 1000 m2, no Jardim Europa, para se exercitar. Ela lembra de quando, pequena, foi internada no colégio Sion. O pai, Chucre Assad, morava no Ipiranga, e ia visitá-la de carruagem. Ele veio do Líbano já casado com a mãe dela, Adélia, que tinha 14 anos e trouxe uma boneca no baú.

CANÔ & MARIA AMÉLIA

Os meus guris

"Mamãe fala direto a idade que tem. E até aumenta. Ela tem o maior ciúme porque está atrás do [Oscar] Niemeyer e da dona Canô", diz a cantora Ana de Hollanda sobre a mãe, Maria Amélia Buarque de Hollanda -a "mãe do Chico, da Miúcha", de outros cinco filhos, avó de 14 netos e bisa de nove bisnetos. Maria Amélia tem 97 anos. Dona Canô, 99, a "mãe do Caetano, da Bethânia" e de outros seis filhos, faz cem em setembro, pouco antes de Niemeyer. Os filhos de Maria Amélia, que há dois meses sofreu uma queda, quebrou o ombro mas já "está ótima", vão dar uma passadinha hoje na casa dela, no Rio. E só. É que a matriarca dos Buarque de Hollanda é "contra" o Dia das Mães, por seu aspecto comercial. Já dona Canô preparou uma feijoada para os filhos (menos Bethânia, "que estará em Manaus", e Caetano, "que roda tanto que eu nem sei por onde anda"), nove netos e seis bisnetos. E vai comer tudinho. "Ela adora feijoada", diz o filho, Rodrigo Veloso.

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