São Paulo, domingo, 13 de maio de 2007

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Crítica

"Kill Bill" faz bom cinema do clichê

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Num artigo no jornal "O Globo", o diretor Helvécio Ratton se queixou de jornalistas que condenam as cenas de tortura em seu filme "Batismo de Sangue" e se mostram condescendentes com a violência dos filmes de Quentin Tarantino.
A comparação talvez não seja a mais apropriada, embora o ponto do cineasta seja compreensível. A violência de filmes como "Kill Bill vol. 2" (Telecine Action, 22h) é estritamente cinematográfica. Para eles -como Godard disse certa vez-, não se trata de sangue; trata-se de vermelho.
Talvez as cenas de "Batismo" referidas sejam mais próximas d" "A Paixão de Cristo", na medida em que ambas aspiram a reproduzir a realidade.
Um filme não é condenável em si como cinema, seja qual for seu gênero. O água-com-açúcar tem sua função, assim como o policial. "Kill Bill vol. 2" não é cinema da violência, mas cinema do clichê. É esse o mérito e, quiçá, a limitação de Tarantino. É um pouco como a paródia: traz subversão, mas também submissão ao original.
Ao evocar todos os clichês do mundo, das caminhadas de faroeste às lutas com espadas, Tarantino trabalha um público que gosta de ser visto como culto -reconhece os clichês e, ao fazê-lo, acredita-se isento da sedução que eles representam.
A ambigüidade de Tarantino, nesse sentido, é imensa e talvez o condene, ao longo do tempo, à inconseqüência. Mas não se pode deixar de reconhecer: ele a pratica com grande talento.


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