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Crítica
"Kill Bill" faz bom cinema do clichê
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Num artigo no jornal "O Globo", o diretor Helvécio Ratton
se queixou de jornalistas que
condenam as cenas de tortura
em seu filme "Batismo de Sangue" e se mostram condescendentes com a violência dos filmes de Quentin Tarantino.
A comparação talvez não seja
a mais apropriada, embora o
ponto do cineasta seja compreensível. A violência de filmes como "Kill Bill vol. 2"
(Telecine Action, 22h) é estritamente cinematográfica. Para
eles -como Godard disse certa
vez-, não se trata de sangue;
trata-se de vermelho.
Talvez as cenas de "Batismo"
referidas sejam mais próximas
d" "A Paixão de Cristo", na medida em que ambas aspiram a
reproduzir a realidade.
Um filme não é condenável
em si como cinema, seja qual
for seu gênero. O água-com-açúcar tem sua função, assim
como o policial. "Kill Bill vol. 2"
não é cinema da violência, mas
cinema do clichê. É esse o mérito e, quiçá, a limitação de Tarantino. É um pouco como a
paródia: traz subversão, mas
também submissão ao original.
Ao evocar todos os clichês do
mundo, das caminhadas de faroeste às lutas com espadas,
Tarantino trabalha um público
que gosta de ser visto como culto -reconhece os clichês e, ao
fazê-lo, acredita-se isento da
sedução que eles representam.
A ambigüidade de Tarantino,
nesse sentido, é imensa e talvez
o condene, ao longo do tempo,
à inconseqüência. Mas não se
pode deixar de reconhecer: ele
a pratica com grande talento.
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