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Pato ou marreco?
Apesar de similares, há diferenças entre as aves; aprenda as principais características de cada uma para evitar confusão
João Brito/Folha Imagem
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Pato na panela à Dr. Ricardo, clássico
do chef Erick Jacquin
LUIZA FECAROTTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O marreco mais conhecido
do mundo é, na verdade, chamado de pato: o Pato Donald.
Com postura mais vertical, o
marreco é esbelto e menos desengonçado. Os patos, apesar
de similares, são maiores e rechonchudos. "Essa bagunça
vem de um efeito Disney", diz
Gabriel Broide, do Dois.
A confusão também alcança
os cardápios de restaurantes e
leva muitos comensais a comer
marreco pensando que é pato.
Este último, no entanto, "é
mais gordo (acumula mais gordura entre a pele e a carne) e
tem crescimento mais lento. Já
o marreco é menor, menos gorduroso e leva metade do tempo
para chegar ao peso ideal de
abate", diz Marcondes Aurélio
Moser, sócio da Villa Germânia, empresa que cria os dois
animais em Santa Catarina.
O troca-troca é ainda maior
ao considerar-se que "chamamos de marreco um animal intitulado pato de Pequim" e que
o pato mais consumido aqui é
da raça mulard -resultado do
cruzamento do marreco com
um pato de raça francesa.
Para a restauratrice Marie-France Henry, do La Casserole,
"fornecedor adora tentar empurrar gato por lebre" (o marreco é mais barato que o pato).
Em seu restaurante, diz, o controle de qualidade é rígido e, se
o produto não está de acordo
com as exigências, é devolvido.
"Na França, há uma tradição
de pato de caça, que geralmente
tem uma carne mais gordurosa
e mais saborosa", conta Marie.
"É como se lá houvesse um solo
fértil para que os produtores tenham uma referência calcada
na própria caça." Segundo ela, o
marreco, na Europa, "é quase
como um frango industrial" e
não é adequado para todos os
preparos, pois tem menos gordura e "pode ficar seco".
Nem todos os chefs encaram
assim. Mais esbranquiçada,
macia e de sabor menos intenso, a carne de marreco atrai
mais facilmente se comparada
à do pato, mais rija, avermelhada e de sabor forte. Por isso, virou estrela de um festival do La
Marie, em cartaz até o dia 23,
compõe um dos pratos servidos
no Dois (até a mesma data) e
faz parte do novo menu do Capim Santo.
Pato de Pequim
Há mil anos na China, o imperador saía para caçar patos e
fazer piqueniques. "Ele caçava
uma raça selvagem, de Pequim,
com pluma branca", conta Pan
Mingtao, da embaixada da China no Brasil. "Depois, deixaram
de ser patos selvagens e passaram a ser confinados, mas ainda hoje alguns camponeses
criam a ave solta em meio ao arrozal, após a colheita."
Antes restrito à corte imperial, o pato de Pequim (laqueado) é hoje uma das mais típicas
receitas chinesas. Com preparo
lento, requer três momentos à
mesa. No primeiro, come-se a
pele crocante, envolta em panquecas. Depois, consome-se a
carne, enrolada da mesma forma. Para finalizar, sopa feita
com os ossos. À maneira antiga,
o pato ia ao forno a lenha para a
gordura derreter. "Mas não era
qualquer lenha, era de árvores
frutíferas", diz Mingtao.
Também se come ganso, sobretudo na Europa e em datas
festivas. Maior e mais difícil de
assar, é uma ave pouco domesticada, facilmente encontrada
em supermercados na Alemanha na época natalina -país
onde também há grande consumo de marreco-, como conta
Tassilo Drosdek, do Lukullus.
"Mas aqui no Brasil é muito difícil conseguir. Um dia fiz uma
festa com ganso e foi horrível,
nunca vou esquecer."
Alexandre Amaral, da Agrivert, que cria patos mulard, diz
que não só no Brasil, mas em
outros países, é difícil criar o
animal em escala maior porque
a espécie se reproduz pouco.
"Uma fêmea de ganso dá 30 filhotes por ano, uma pata, 200."
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