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DANÇA - CRÍTICA
Bolshoi é convite ao cochilo
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
O empresário Serge Diaghilev,
que no início do século conquistou
Paris com seus Balés Russos, costumava dizer ao escritor e artista
plástico francês Jean Cocteau:
"Surpreenda-me!".
Assim como Cocteau, Diaghilev
representou uma vanguarda que
ressoa até hoje. Certamente, o diretor dos Balés Russos execraria a
versão do balé "Spartacus", feita
em 1968 por seu conterrâneo, Yuri
Grigorovich, que inaugurou na
terça-feira a temporada do Ballet
Bolshoi em São Paulo.
Atuando na época como o todo-poderoso do Bolshoi, Grigorovich
promoveu uma assepsia estética
na companhia russa, mantendo-a
afastada de qualquer influência
(para se ter idéia, em 1968 Merce
Cunningham já havia revolucionado os conceitos da dança ao abolir,
por exemplo, o centro do palco como foco principal de ação).
Mais do que desgastada, a proposta de Grigorovich estampada
em "Spartacus" serve apenas para
constatar o que não mais funciona
e o que não mais se faz num espetáculo que pretende ter ressonância
contemporânea.
Além de restringir a ocupação do
palco por meio de alinhamentos
tão previsíveis quanto os de um
desfile militar, Grigorovich tampouco extrai do vocabulário clássico de balé um conjunto original de
possibilidades.
Para completar, o Bolshoi de hoje não conta mais com bailarinos
como Vassiliev e Liepa, que, no
passado, emprestaram vigor pessoal à versão de Grigorovich.
"Spartacus" não convence nem o
elenco atual. Tudo indica que o
grupo parece ter perdido a paixão,
dançando sem brilho e coesão.
Um convite ao cochilo, o Bolshoi
de hoje é uma sombra melancólica
de seu passado.
Avaliação:
Espetáculo: Ballet Bolshoi
Quando: hoje, às 20h30 ("Spartacus");
amanhã, 20h30, e domingo, às 18h ("Gala");
sábado, às 20h30, e domingo, às 10h30
("Raymonda")
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de
Azevedo, s/nº; SP, tel. 011/223-3022)
Quanto: R$ 60 a R$ 220
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