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MÚSICA/LANÇAMENTOS
Cantora e compositora escocesa lança terceiro solo
Annie Lennox despe sua tristeza no orgulhoso "Bare"
Divulgação
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A britânica Annie Lennox, revelada nos 80 com o Eurythmics, que lança seu terceiro disco solo |
DA REPORTAGEM LOCAL
De volta à carreira solo autoral, a cantora e compositora escocesa Annie Lennox, 49, parece disposta a recolher seus cacos
de vidro, sem qualquer pendor à
autocondescendência -"nua",
como quer definir o título de seu
terceiro álbum solitário.
"Bare" é sua volta às canções
inéditas solo, após 11 anos -desde "Diva" (92) ela não o fazia. O
único interlúdio de lá para cá foi o
desorientado "Peace" (99), que
marcou breve volta do duo
Eurythmics, que a celebrizou a
partir de 83.
Sozinha, ela registrara também
"Medusa" (95), que no entanto se
tratava de um CD de intérprete,
em que dava impressão digital
própria a canções anteriores de Al
Green, Neil Young, Procol Harum, The Clash e outros.
"Bare" é um disco dado à melancolia, se não em diversos momentos à própria depressão. Os
títulos das canções quase bastam
para ser expressivos nesse sentido: "The Saddest Song I've Got"
(Minha Canção Mais Triste), "Loneliness" (Solidão), "The Hurting
Time" (A Hora da Dor), "Twisted" (Enroscada)...
Há o contraponto, é claro, como
acontece na mais cândida e eficiente balada do disco, "A Thousand Beautiful Things" (Mil Coisas Lindas). Não é esse, entretanto, o ambiente predileto de Lennox em "Bare".
Na maior parte do disco, ela
quer mesmo expor, descrever,
discutir e dissecar sentimentos
corrosivos, como se eles fossem as
reais sementes germinantes de
seu solo artístico -OK, arte tem
sido sempre um modo de predileção para veicular a dor.
Entregue ao ouvinte, tal alternativa resulta em momentos de forte
beleza melancólica, de intensa delicadeza triste. Torna, ao mesmo
tempo, o disco difícil de engolir,
penoso, um exercício de dor a
quem quiser acompanhar seus
textos, seus raciocínios.
Musicalmente a engrenagem é
equivalente, embora talvez invertida. Ao abordar a busca pelos
sentimentos mais brandos (em
"A Thousand Beautiful Things"),
Annie costura baladas das mais
tristes e emocionantes.
Ao mergulhar nos sentimentos
mais afogueados (como em "The
Saddest Song I've Got"), tenta expor uma vivacidade, uma agressividade ríspida, que transforma a
canção na mais zangada de todas,
não na mais triste.
Esse, aliás, é o tom predominante de "Bare" -mais que de baladas de acariciar a dor, ele é feito de
lampejos ácidos, às vezes pouco
digeríveis porque bordados em
musicalidade pouco sutil, não pelo mal-de-século que encerram.
A inserção entre pop art e música comercial aparece enviesada,
como era desde a fundadora
"Sweet Dreams (Are Made of
This)" (83), dos Eurythmics. Não
se identifica ao certo se é arte
exorcizando demônios ou dor dirigida às massas.
Talvez seja os dois, talvez sua faca de dois gumes corte por ambos
os lados. De todo modo, Annie
Lennox goza as delícias e padece
das angústias de falar de dor com
secreta alegria, de cantar o vigor
com disfarçado desânimo.
É coragem que pouco seria permitida hoje em dia num país tropical feito o Brasil, cercado de
"alegria" por todos os lados. Tem
esse mérito, inquestionável. Mas é
doído, dolorido, doloroso. É essa
a nudez orgulhosa e nunca envergonhada de Annie Lennox.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Bare
Artista: Annie Lennox
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 28, em média
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