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Wanderléa grava com associação beneficente e volta ao disco depois de 11 anos
Sentada à beira do caminho
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Sentada à beira do caminho,
Wanderléa, 57, não gravava álbum próprio havia 11 anos. "O
Amor Sobreviverá", que quebra o
jejum, é o primeiro disco que a
cantora mineira afirma ter criado
sem nenhuma interferência externa, de gravadora ou de produtor.
"Eu, Lalo [seu marido e produtor] e a banda entramos em estúdio e gravamos o show da estrada,
sem pensar no que seria "o disco
do mercado'", explica.
Ainda não lançado comercialmente, o CD beneficente foi elaborado em parceria com uma instituição que Wanderléa apóia há
20 anos, a Pequeno Cotolengo,
entidade para "crianças e adultos
com necessidades especiais".
A multinacional BMG confirma
que deve bancar uma edição comercial de "O Amor Sobreviverá", mas diz que a negociação
com a artista não está concluída.
Os últimos 11 anos passados
longe de gravadoras confirmam
sua longa trajetória, de musa máxima da jovem guarda a artista
exilada da condição de pop star.
Hoje desdenha de tal condição:
"O mundo do pop star é uma ficção. Vejo meninos que conheci
antes de fazerem sucesso, me entristeço. O olhar fica vitrificado,
penso: "Pronto, esse foi tomado'".
Diz que a televisão tem sido para ela fonte inesgotável de convites que manteriam esse seu contato com o público, mas é uma forma de estrelato de que tem fugido.
"Minha ética pessoal é rígida. O
que vou fazer num programa de
TV se não tenho algo legal e novo
para mostrar? Me chamam porque acreditam na personagem.
Mas não gosto de me expor."
Wanderléa, uma personagem?
Ela afirma que a musa iê-iê-iê
possuía vitalidade e era verdadeira. "Não havia referencial, não havia pop star antes da gente."
Ela, que fora a "ternurinha" de
Roberto e Erasmo Carlos, afirma
que o sucesso cobrou seu preço à
personagem: "Minha vida pessoal
ficou fechada, deixei de levar uma
vida natural. Ficam escovando
seu ego, você vive dentro de uma
redoma, vira a galinha dos ovos
de ouro de muita gente".
Por isso celebra a independência. "É uma delícia ser dona do
que faço. A única pessoa que me
permitiu isso antes foi Egberto
Gismonti", diz, referindo-se ao
recém-relançado disco "Vamos
que Eu Já Vou" (77), que gravou
com Gismonti, parceiro quase
erudito e ex-namorado.
"Fiz aquele disco com a insegurança de uma adolescente. Na
época as pessoas não entenderam
nunca, acabaram com o trabalho.
Mas foi um salto de auto-afirmação", relembra.
Transfere às duas filhas, de 16 e
18 anos, experiências que lhe faltaram. "Fui uma criança que dava
autógrafo, fiz o que fiz sem nenhum aprendizado. Minhas filhas
estudam, teorizam, analisam e
criticam tudo. Não sei o que elas
vão ser, mas estar na mídia é algo
que não as seduz", conta.
Outro dia, a filha caçula recebeu
de presente anônimo uma guitarra. Tempos depois a família soube
quem enviou: Egberto Gismonti.
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