UOL


São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Grupo, um dos principais do pop latino, ataca discriminação em disco

Preconceito é alvo do rock do Molotov

SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO

Não havia pela frente correntezas do Pacífico, tubarões do rio Grande nem truculentos policiais da aduana. Os mexicanos do Molotov chegaram aos EUA pela porta da frente, celebrados como uma das pontas-de-lança do rock latino. Mas não foi "gracias" que o irmão do norte ouviu em retribuição, e sim o ataque verbal que notabilizou o explosivo quarteto.
"Stay on your side of that goddamn river" ("fique no seu lado desse rio desgraçado") e outras frases não tão publicáveis embalam "Frijolero", uma polca norteña, cantada em uma mistura de espanhol e inglês, que mira o racismo contra hispânicos nos EUA e é o primeiro single do disco "Dance and Dense Denso".
O tradicional ritmo mexicano, um reforço ao sempre presente tom jocoso do Molotov, soma-se aos elementos sonoros -hip hop, metal, punk, ragga- em que o quarteto se aventura desde a estréia com "Donde Jugaran las Niñas?" (1997).
Mesmo sob o histerismo patriótico dos tempos da Doutrina Bush, "Frijolero" ainda não provocou boicote de rádios nem a queima de discos do grupo em praça pública. Para o guitarrista e vocalista Tito Fuentes, em entrevista à Folha, falando da Cidade do México, isso se explica pela verdadeira base de fãs do Molotov no país.
"A maior parte do nosso público nos EUA é composta por descendentes de mexicanos e hispânicos em geral, com uma consciência muito diferente. Não é o republicano armado com uma escopeta. A canção está servindo como uma bandeira para essas pessoas, que têm respondido fortemente a ela nos shows", diz.
Curioso é saber que a idéia de "Frijolero" -um termo pejorativo que identifica o trabalhador mexicano- partiu do integrante norte-americano do Molotov, Randy Ebright, conhecido como "el gringo loco". "Ele mora há mais de dez anos no México, casou-se com uma mexicana, tem uma filha aqui e já sentiu o que é o preconceito quando voltou aos EUA. Então, tem plena consciência do que é o problema."
As controvérsias que envolvem o grupo, os problemas com a censura (que cobre de "beeps" músicas do Molotov em seu país por causa de palavrões) foram responsáveis, porém, pelo aumento da popularidade do quarteto. Não seria a polêmica, mais uma vez, um marketing poderoso?
"Nós começamos como um grupo de amigos que queria tocar e compor o que gostávamos. A paixão pela música e pela mensagem não nos permite que sejamos tão baratos a ponto de nos submetermos ao que a censura pensa. E é preciso apreciar muito que te insultem para embarcar nesse esquema de provocar a censura para vender mais discos", rebate.


DANCE AND DENSE DENSO. Artista: Molotov. Lançamento: Universal. Quanto: R$ 28, em média.


Texto Anterior: Artes plásticas: Localização de obras traz à luz tesouro artístico de Turner
Próximo Texto: Frase
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.