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MÚSICA
Grupo, um dos principais do pop latino, ataca discriminação em disco
Preconceito é alvo do rock do Molotov
SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO
Não havia pela frente correntezas do Pacífico, tubarões do rio
Grande nem truculentos policiais
da aduana. Os mexicanos do Molotov chegaram aos EUA pela
porta da frente, celebrados como
uma das pontas-de-lança do rock
latino. Mas não foi "gracias" que o
irmão do norte ouviu em retribuição, e sim o ataque verbal que notabilizou o explosivo quarteto.
"Stay on your side of that goddamn river" ("fique no seu lado
desse rio desgraçado") e outras
frases não tão publicáveis embalam "Frijolero", uma polca norteña, cantada em uma mistura de espanhol e inglês, que mira o racismo contra hispânicos nos EUA
e é o primeiro single do disco
"Dance and Dense Denso".
O tradicional ritmo mexicano,
um reforço ao sempre presente
tom jocoso do Molotov, soma-se
aos elementos sonoros -hip
hop, metal, punk, ragga- em
que o quarteto se aventura desde
a estréia com "Donde Jugaran las
Niñas?" (1997).
Mesmo sob o histerismo patriótico dos tempos da Doutrina
Bush, "Frijolero" ainda não provocou boicote de rádios nem a
queima de discos do grupo em
praça pública. Para o guitarrista e
vocalista Tito Fuentes, em entrevista à Folha, falando da Cidade
do México, isso se explica pela
verdadeira base de fãs do Molotov
no país.
"A maior parte do nosso público nos EUA é composta por descendentes de mexicanos e hispânicos em geral, com uma consciência muito diferente. Não é o
republicano armado com uma escopeta. A canção está servindo
como uma bandeira para essas
pessoas, que têm respondido fortemente a ela nos shows", diz.
Curioso é saber que a idéia de
"Frijolero" -um termo pejorativo que identifica o trabalhador
mexicano- partiu do integrante
norte-americano do Molotov,
Randy Ebright, conhecido como
"el gringo loco". "Ele mora há
mais de dez anos no México, casou-se com uma mexicana, tem
uma filha aqui e já sentiu o que é o
preconceito quando voltou aos
EUA. Então, tem plena consciência do que é o problema."
As controvérsias que envolvem
o grupo, os problemas com a censura (que cobre de "beeps" músicas do Molotov em seu país por
causa de palavrões) foram responsáveis, porém, pelo aumento
da popularidade do quarteto. Não
seria a polêmica, mais uma vez,
um marketing poderoso?
"Nós começamos como um
grupo de amigos que queria tocar
e compor o que gostávamos. A
paixão pela música e pela mensagem não nos permite que sejamos
tão baratos a ponto de nos submetermos ao que a censura pensa. E é preciso apreciar muito que
te insultem para embarcar nesse
esquema de provocar a censura
para vender mais discos", rebate.
DANCE AND DENSE DENSO. Artista:
Molotov. Lançamento: Universal.
Quanto: R$ 28, em média.
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