São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2008

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Crítica/"O Incrível Hulk"

Filme é correto, mas sem graça

Na nova versão para cinema, prevalecem visual simples e obediência às exigências de um blockbuster

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

O "caso Hulk" é um dos mais interessantes exemplos do atual modus operandi de Hollywood. Há cinco anos, o personagem dos quadrinhos da Marvel ganhou seu primeiro filme, com direção de Ang Lee. Recém-saído do sucesso de "O Tigre e o Dragão", Lee aceitou tourear um orçamento de mais de US$ 130 milhões, mas "Hulk" foi mal recebido pela crítica e pelo público e, apesar de ter faturado US$ 230 milhões no mundo, foi considerado um fracasso (como metade da renda fica com os exibidores, o filme não se pagou nos cinemas).
Outra indústria hesitaria em investir nova fortuna no mesmo personagem -mas eis que lá vem Hulk de novo, confiante na curta memória do espectador e na esperança de que o público tenha rejeitado a versão de Lee, e não o personagem. A Marvel, agora com seu estúdio, deu um "reboot" na franquia com a preocupação de oferecer um novo produto (não necessariamente um novo filme). O resultado é um estranho híbrido de continuação e primeiro capítulo que não promete novos "Hulks", e sim uma nova série, "Os Vingadores" (como nos quadrinhos).
Além do "Incrível" incorporado ao título, a principal diferença entre a versão de 2003 e esta, dirigida por Louis Leterrier ("Carga Explosiva"), está no visual simples e na obediência às exigências de um blockbuster. O anterior experimentava em dois sentidos: na montagem, com recursos para absorver o ritmo dos quadrinhos, e na narrativa, que mais fazia a linha de um drama psicológico do que de um filme de ação.
O principal elo entre os dois filmes, curiosamente, é a imagem de Hulk. A animação digital evoluiu nesses cinco anos, mas o monstro verde criado em computador manteve a aparência artificial. Nada se fez, ainda, em relação ao principal problema das aparições da criatura desde o primeiro filme: sua proporcionalidade em relação ao resto da cena.
Por mais que o aspecto de Hulk seja fiel aos quadrinhos e que seu tamanho para tela retangular tenha sido calculado matematicamente, a presença da criatura é estranha. Parte da dificuldade de convencimento está no fato de Bruce Banner (Edward Norton) ser um homem e Hulk uma animação e na variação de tamanho da criatura diante dos olhos do espectador. Hulk não parece ter sempre o mesmo tamanho, principalmente quando posto ao lado de um ser humano.
A versão de Ang Lee pode ter sido um erro, mas é mais interessante que o novo filme: correto, mas sem graça. Na falta de estímulos aos olhos e ouvidos, a diversão que nos resta está nos (bons) primeiros 20 minutos se passarem no Rio de Janeiro -mais precisamente na favela de Tavares Bastos, travestida de Rocinha- e na atuação de Tim Roth, como o vilão da vez.


O INCRÍVEL HULK
Produção:
EUA, 2008
Direção: Louis Leterrier
Com: Edward Norton, Liv Tyler, Tim Roth e William Hurt
Onde: a partir de hoje no Cine TAM, Iguatemi Cinemark e circuito; classificação: 10 anos
Avaliação: regular


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