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Crítica/"O Incrível Hulk"
Filme é correto, mas sem graça
Na nova versão para cinema, prevalecem visual simples e obediência às exigências de um blockbuster
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
O
"caso Hulk" é um dos
mais interessantes
exemplos do atual modus operandi de Hollywood. Há
cinco anos, o personagem dos
quadrinhos da Marvel ganhou
seu primeiro filme, com direção de Ang Lee. Recém-saído
do sucesso de "O Tigre e o Dragão", Lee aceitou tourear um
orçamento de mais de US$ 130
milhões, mas "Hulk" foi mal recebido pela crítica e pelo público e, apesar de ter faturado US$
230 milhões no mundo, foi
considerado um fracasso (como metade da renda fica com
os exibidores, o filme não se pagou nos cinemas).
Outra indústria hesitaria em
investir nova fortuna no mesmo personagem -mas eis que
lá vem Hulk de novo, confiante
na curta memória do espectador e na esperança de que o público tenha rejeitado a versão
de Lee, e não o personagem.
A Marvel, agora com seu estúdio, deu um "reboot" na franquia com a preocupação de oferecer um novo produto (não
necessariamente um novo filme). O resultado é um estranho
híbrido de continuação e primeiro capítulo que não promete novos "Hulks", e sim uma
nova série, "Os Vingadores"
(como nos quadrinhos).
Além do "Incrível" incorporado ao título, a principal diferença entre a versão de 2003 e
esta, dirigida por Louis Leterrier ("Carga Explosiva"), está
no visual simples e na obediência às exigências de um blockbuster. O anterior experimentava em dois sentidos: na montagem, com recursos para absorver o ritmo dos quadrinhos,
e na narrativa, que mais fazia a
linha de um drama psicológico
do que de um filme de ação.
O principal elo entre os dois
filmes, curiosamente, é a imagem de Hulk. A animação digital evoluiu nesses cinco anos,
mas o monstro verde criado em
computador manteve a aparência artificial. Nada se fez, ainda,
em relação ao principal problema das aparições da criatura
desde o primeiro filme: sua
proporcionalidade em relação
ao resto da cena.
Por mais que o aspecto de
Hulk seja fiel aos quadrinhos e
que seu tamanho para tela retangular tenha sido calculado
matematicamente, a presença
da criatura é estranha. Parte da
dificuldade de convencimento
está no fato de Bruce Banner
(Edward Norton) ser um homem e Hulk uma animação e
na variação de tamanho da
criatura diante dos olhos do espectador. Hulk não parece ter
sempre o mesmo tamanho,
principalmente quando posto
ao lado de um ser humano.
A versão de Ang Lee pode ter
sido um erro, mas é mais interessante que o novo filme: correto, mas sem graça. Na falta de
estímulos aos olhos e ouvidos, a
diversão que nos resta está nos
(bons) primeiros 20 minutos se
passarem no Rio de Janeiro
-mais precisamente na favela
de Tavares Bastos, travestida
de Rocinha- e na atuação de
Tim Roth, como o vilão da vez.
O INCRÍVEL HULK
Produção: EUA, 2008
Direção: Louis Leterrier
Com: Edward Norton, Liv Tyler, Tim Roth e William Hurt
Onde: a partir de hoje no Cine TAM,
Iguatemi Cinemark e circuito;
classificação: 10 anos
Avaliação: regular
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