São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2008

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"Era uma Vez..." põe à prova o "filme de favela"

Novo longa de Breno Silveira ("2 Filhos de Francisco") explora conflito social no Rio

Patrocinadores do sucesso anterior não aderiram ao novo projeto, mas diretor diz confiar em sua "sensibilidade para emocionar o público"

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

O público brasileiro quer ver mais um "filme de favela" -rótulo no qual se aninham os títulos em torno do atrito "morro x asfalto" no Rio, em voga desde "Cidade de Deus" (2002)?
Breno Silveira, diretor do maior sucesso nacional recente -"2 Filhos de Francisco", sobre a trajetória dos irmãos Zezé di Camargo & Luciano, que foi o filme mais visto no país em 2005, por 5,4 milhões de espectadores- acha que sim.
"Eu me sinto chegando um pouco atrasado [ao tema], mas confio na minha sensibilidade de tocar as pessoas", diz ele.
Os patrocinadores que investiram R$ 5,7 milhões (segundo dados na Agência Nacional do Cinema) em "2 Filhos de Francisco" acham que não. "Nenhum deles está nesse filme. Acharam que o assunto já foi muito explorado", diz Silveira.
No entanto, o novo filme do diretor, "Era uma Vez...", que tem estréia prevista para o próximo dia 25 de julho, conseguiu reunir com outros investidores R$ 6,5 milhões em patrocínio, pelos cálculos de Silveira. O orçamento do longa registrado na Ancine é de R$ 8,6 milhões.
O apresentador Luciano Huck assina a co-produção de "Era uma Vez...". "Ele me ajudou a ter o dinheiro. Trouxe parceiros financeiros, além de ter colaborado com algumas coisas no roteiro", diz o diretor.
Em outubro passado, Huck protagonizou uma polêmica, ao publicar, na Folha, o artigo "Pensamentos quase póstumos", em que relatava assalto que sofreu em São Paulo, no qual perdeu seu relógio Rolex, e dizia: "Onde está a polícia? Onde está a "Elite da Tropa'? Quem sabe até a "Tropa de Elite'! Chamem o comandante Nascimento!", em referência ao filme de José Padilha, líder nacional de bilheteria do ano.
"Não acho que a gente está aí para achar que o Bope [Batalhão de Operações Policiais Especiais da PM do Rio] é a solução", afirma Silveira, explicando por que o foco central de "Era uma Vez..." é o amor de um rapaz do morro do Cantagalo por uma garota de Ipanema, que mora na Vieira Souto.
A Folha assistiu a "Era uma Vez" anteontem. O romance de Dé (Thiago Martins) e Nina (Vitória Frate) evoca a história de Romeu e Julieta.
O fator impeditivo (e trágico) ao amor, que na trama shakespeariana tem a forma da rivalidade entre as famílias Montecchio e Capuleto, no filme é dado pelo fosso econômico e social entre os amantes.

Ecos
Na contextualização das condições de vida no "morro" e no "asfalto", o longa ecoa exemplares da recente produção brasileira dedicada ao tema.
Há sanguinolentos chefes do tráfico que apontam armas para crianças (como em "Cidade de Deus"); há baile funk, corrupção policial em conivência com o tráfico e consumo de droga pela classe média (como em "Tropa de Elite"); há a paixão que move a menina da zona sul até a favela (como em "Quase Dois Irmãos"); há o ator Babu Santana na pele de um traficante (como em "Maré").
Silveira acha que há também uma particularidade em seu filme: "Todo mundo falou desse assunto, mas sem essa delicadeza, sem esse lado humano".
O cineasta avalia que "cada vez mais, vivemos, no Rio, e também em São Paulo, depois [dos ataques] do PCC, como duas cidades lado a lado, com leis diferentes e próprias. A mensagem importante desse filme é: Olhe para o lado!".


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