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"Era uma Vez..." põe à prova o "filme de favela"
Novo longa de Breno Silveira ("2 Filhos de Francisco") explora conflito social no Rio
Patrocinadores do sucesso anterior não aderiram ao novo projeto, mas diretor diz confiar em sua "sensibilidade para emocionar o público"
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O público brasileiro quer ver
mais um "filme de favela" -rótulo no qual se aninham os títulos em torno do atrito "morro x
asfalto" no Rio, em voga desde
"Cidade de Deus" (2002)?
Breno Silveira, diretor do
maior sucesso nacional recente
-"2 Filhos de Francisco", sobre a trajetória dos irmãos Zezé
di Camargo & Luciano, que foi
o filme mais visto no país em
2005, por 5,4 milhões de espectadores- acha que sim.
"Eu me sinto chegando um
pouco atrasado [ao tema], mas
confio na minha sensibilidade
de tocar as pessoas", diz ele.
Os patrocinadores que investiram R$ 5,7 milhões (segundo
dados na Agência Nacional do
Cinema) em "2 Filhos de Francisco" acham que não. "Nenhum deles está nesse filme.
Acharam que o assunto já foi
muito explorado", diz Silveira.
No entanto, o novo filme do
diretor, "Era uma Vez...", que
tem estréia prevista para o próximo dia 25 de julho, conseguiu
reunir com outros investidores
R$ 6,5 milhões em patrocínio,
pelos cálculos de Silveira. O orçamento do longa registrado na
Ancine é de R$ 8,6 milhões.
O apresentador Luciano
Huck assina a co-produção de
"Era uma Vez...". "Ele me ajudou a ter o dinheiro. Trouxe
parceiros financeiros, além de
ter colaborado com algumas
coisas no roteiro", diz o diretor.
Em outubro passado, Huck
protagonizou uma polêmica, ao
publicar, na Folha, o artigo
"Pensamentos quase póstumos", em que relatava assalto
que sofreu em São Paulo, no
qual perdeu seu relógio Rolex,
e dizia: "Onde está a polícia?
Onde está a "Elite da Tropa'?
Quem sabe até a "Tropa de Elite'! Chamem o comandante
Nascimento!", em referência
ao filme de José Padilha, líder
nacional de bilheteria do ano.
"Não acho que a gente está aí
para achar que o Bope [Batalhão de Operações Policiais Especiais da PM do Rio] é a solução", afirma Silveira, explicando por que o foco central de
"Era uma Vez..." é o amor de
um rapaz do morro do Cantagalo por uma garota de Ipanema, que mora na Vieira Souto.
A Folha assistiu a "Era uma
Vez" anteontem. O romance de
Dé (Thiago Martins) e Nina
(Vitória Frate) evoca a história
de Romeu e Julieta.
O fator impeditivo (e trágico)
ao amor, que na trama shakespeariana tem a forma da rivalidade entre as famílias Montecchio e Capuleto, no filme é dado pelo fosso econômico e social entre os amantes.
Ecos
Na contextualização das condições de vida no "morro" e no
"asfalto", o longa ecoa exemplares da recente produção
brasileira dedicada ao tema.
Há sanguinolentos chefes do
tráfico que apontam armas para crianças (como em "Cidade
de Deus"); há baile funk, corrupção policial em conivência
com o tráfico e consumo de
droga pela classe média (como
em "Tropa de Elite"); há a paixão que move a menina da zona
sul até a favela (como em "Quase Dois Irmãos"); há o ator Babu Santana na pele de um traficante (como em "Maré").
Silveira acha que há também
uma particularidade em seu filme: "Todo mundo falou desse
assunto, mas sem essa delicadeza, sem esse lado humano".
O cineasta avalia que "cada
vez mais, vivemos, no Rio, e
também em São Paulo, depois
[dos ataques] do PCC, como
duas cidades lado a lado, com
leis diferentes e próprias. A
mensagem importante desse
filme é: Olhe para o lado!".
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