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Para artista haitiano, oboé
soa como a voz humana
Jean Gerald conta que começou a gostar de música ao frequentar igreja
Jovem aprendeu a tocar
sax aos 11 e só mudou de
instrumento porque um
professor precisava de
um oboísta na orquestra
DA ENVIADA A TATUÍ
Filho de um funcionário
do governo e de uma contadora de Porto Príncipe, Jean
Gerald cresceu num ambiente fortemente religioso. E é na
igreja que começa sua história artística.
Desde pequeno, Gerald
frequentava a igreja Pentecostal, mas, mais do que as
preces, o que o deixava encantado eram os cantos e os
acordes que acompanhavam
os rituais.
Aos 11 anos, começou a tocar saxofone na igreja. Gostava muito da música, mas, na
escola, encantava-se tanto
com as aulas de arte que, no
início da adolescência,
achou que viraria pintor.
Houve um dia, porém, em
que as aquarelas perderam a
vez. Ele tinha 16 anos e ganhou da mãe um saxofone.
Com o instrumento em casa, atirou-se aos estudos.
Conseguiu, graças aos conhecimentos de solfejo e à
técnica apurada, uma vaga
na Holy Trinity School, de
Porto Príncipe.
"Consegui logo uma bolsa", conta. "E, desde o início,
fui um aluno brilhante, simplesmente porque sou apaixonado por música."
Atento ao "aluno brilhante", um professor que havia
tempos tentava, sem sucesso, encontrar um jovem que
pudesse tocar oboé na orquestra, propôs a Gerald que
testasse o instrumento.
"Ele me disse que, pelo
modo como eu tocava sax, tinha certeza de que poderia
tocar bem o oboé e aprender
sozinho", diz. Dito e feito.
SOM FEMININO
Discreto, pouco conhecido
dos leigos, o oboé é um instrumento de sopro, feito de
madeira, de difícil execução.
"Nos Estados Unidos, tem
gente que diz que faz explodir o cérebro", diz Gerald.
"Mas não é nada disso. É um
instrumento muito romântico, seu som é próximo do da
voz humana."
Para o jovem haitiano, o
saxofone é como um canto
masculino, enquanto o oboé
é o canto feminino. "É um
som difícil de ser identificado
em uma orquestra."
Mas, em 2005, o oboé de
Jean Gerald chamou a atenção de um professor norte-americano que foi conhecer a
orquestra do Holy Trinity.
No ano seguinte, o rapaz
seria convidado para fazer
um curso na Bradley University, em Illinois. Passou lá
três meses e, quando retornou ao Haiti, começou a ensinar oboé.
Voltou aos EUA em 2009,
para a Lawrence University,
em Wisconsin, mas não conseguia fixar-se.
"Há muito tempo eu estava em busca de um lugar que
pudesse me oferecer uma
bolsa. Só não podia imaginar
que esse lugar seria o Brasil."
(ANA PAULA SOUSA)
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