São Paulo, domingo, 13 de junho de 2010

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Para artista haitiano, oboé soa como a voz humana

Jean Gerald conta que começou a gostar de música ao frequentar igreja

Jovem aprendeu a tocar sax aos 11 e só mudou de instrumento porque um professor precisava de um oboísta na orquestra

DA ENVIADA A TATUÍ

Filho de um funcionário do governo e de uma contadora de Porto Príncipe, Jean Gerald cresceu num ambiente fortemente religioso. E é na igreja que começa sua história artística.
Desde pequeno, Gerald frequentava a igreja Pentecostal, mas, mais do que as preces, o que o deixava encantado eram os cantos e os acordes que acompanhavam os rituais.
Aos 11 anos, começou a tocar saxofone na igreja. Gostava muito da música, mas, na escola, encantava-se tanto com as aulas de arte que, no início da adolescência, achou que viraria pintor.
Houve um dia, porém, em que as aquarelas perderam a vez. Ele tinha 16 anos e ganhou da mãe um saxofone.
Com o instrumento em casa, atirou-se aos estudos. Conseguiu, graças aos conhecimentos de solfejo e à técnica apurada, uma vaga na Holy Trinity School, de Porto Príncipe.
"Consegui logo uma bolsa", conta. "E, desde o início, fui um aluno brilhante, simplesmente porque sou apaixonado por música."
Atento ao "aluno brilhante", um professor que havia tempos tentava, sem sucesso, encontrar um jovem que pudesse tocar oboé na orquestra, propôs a Gerald que testasse o instrumento.
"Ele me disse que, pelo modo como eu tocava sax, tinha certeza de que poderia tocar bem o oboé e aprender sozinho", diz. Dito e feito.

SOM FEMININO
Discreto, pouco conhecido dos leigos, o oboé é um instrumento de sopro, feito de madeira, de difícil execução.
"Nos Estados Unidos, tem gente que diz que faz explodir o cérebro", diz Gerald. "Mas não é nada disso. É um instrumento muito romântico, seu som é próximo do da voz humana."
Para o jovem haitiano, o saxofone é como um canto masculino, enquanto o oboé é o canto feminino. "É um som difícil de ser identificado em uma orquestra."
Mas, em 2005, o oboé de Jean Gerald chamou a atenção de um professor norte-americano que foi conhecer a orquestra do Holy Trinity.
No ano seguinte, o rapaz seria convidado para fazer um curso na Bradley University, em Illinois. Passou lá três meses e, quando retornou ao Haiti, começou a ensinar oboé.
Voltou aos EUA em 2009, para a Lawrence University, em Wisconsin, mas não conseguia fixar-se.
"Há muito tempo eu estava em busca de um lugar que pudesse me oferecer uma bolsa. Só não podia imaginar que esse lugar seria o Brasil." (ANA PAULA SOUSA)


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