|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
"Remake" de "Disque M para Matar" estréia nos EUA; recriações de "Psicose" e "Janela Indiscreta" estão a caminho
Refilmagem de Hitchcock honra o original
AMIR LABAKI
de Nova York
Hitchcock voltou. Um ano antes
das celebrações do centenário de
seu nascimento, três refilmagens
preparam a festa. A primeira estreou há uma semana, com boa bilheteria: "A Perfect Murder"
(Um Assassinato Perfeito), dirigido por Andrew Davis (O Fugitivo), revisita "Disque M Para Matar" (1954). A caminho, estão o
"remake" de "Psicose", sob a
batuta de Gus van Sant, e o de "Janela Indiscreta", que o tetraplégico Christopher Reeve promete dirigir e estrelar.
Os nostálgicos que me perdoem,
mas "A Perfect Murder" é dessas
raras refilmagens que honram o
original. O roteiro de Patrick
Smith Kelly expande para a permissiva Manhattan do final dos
anos 90 a trama adúltero-criminal
escrita por Frederick Knott para
os palcos da "pré-swinging"
Londres dos anos 50.
Na primeira versão cinematográfica, que Knott adaptou para a
direção de Hitchcock, a teatralidade era evidente, assim como os estreitos limites morais do que poderia ser mostrado. Os tempos são
outros. Sexo e violência explicitaram-se nas telas. O "remake" de
Davis-Kelly não se limita a aproveitar dessa maior liberdade.
Em "Disque M para Matar",
um escritor americano (Robert
Cummings) destrói o equilíbrio de
um casal londrino de classe média
(Ray Milland e Grace Kelly) ao se
envolver com ela. É mais por orgulho ferido do que por cobiça
que Milland contrata um pequeno
vigarista para liquidar a esposa.
"A Perfect Murder" transfere o
enredo para endereços poderosos
de Nova York. Uma mansão na
Quinta Avenida, um escritório em
Wall Street, a ONU e o museu Metropolitan fazem o habitat do casal
Steven e Emily Taylor (Michael
Douglas e Gwyneth Paltrow).
O Steven de Douglas é um personagem pós-crise das bolsas asiáticas. A falência de seu casamento é
fichinha perto do desastre financeiro. Assim, ao descobrir que o
amante da esposa (Viggo Mortensen) disfarça-se de pintor perturbado mas não passa de um golpista de extensa ficha criminal, Steven fecha o melhor negócio do ano
ao contratá-lo para matar Emily.
Passaram-se 40 anos entre as
duas versões e a dupla Davis-Kelly
assina uma evidente fábula moral
sobre o triunfo do capitalismo
nesse período. Mais do que nunca,
é "money, money, money, money" que faz o mundo girar.
São todos egocêntricos e ultra-individualistas em "A Perfect
Murder", mesmo que uma sequência de delegacia procure suavizar um pouco Emily. Até o
amante vira vilão (secundário) como que dizendo: nem o adultério
pode ser levado a sério. Lá em cima, um perplexo Hitchcock deve
estar se embriagando, abraçado a
um desolado Nelson Rodrigues.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|