São Paulo, sexta-feira, 13 de julho de 2001

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CINEMA/ESTRÉIA

"EVOLUÇÃO"

Comédia de ficção científica traz ator como pesquisador que encontra vida alienígena no deserto do Arizona

David Duchovny volta a enfrentar ETs

MILLY LACOMBE
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

David Duchovny estava em casa vendo televisão quando recebeu um telefonema do diretor Ivan Reitman, com quem acabara de filmar "Evolução". Sua voz era urgente: "David, estou aqui fazendo uma exibição-teste do filme e tem uma frase dita por seu personagem que provoca risadas histéricas. O único problema é que essa não era uma das falas que deveria gerar esse tipo de reação".
Duchovny conta que entrou em pânico porque pensou que as risadas eram irônicas e que ele provavelmente havia representado aquela cena de forma exagerada. "Esse é meu maior medo. Tenho pesadelos que um dia vou ser flagrado atuando", disse ele à Folha, em Los Angeles. O que serve para explicar seu comportamento sempre suave e quase monocromático diante das câmeras.
"Pelo amor de Deus, diga qual é a frase?", disparou ele aflito. "Não confie no governo, conheço essa gente", contou Reitman , que, naturalmente, nunca assistiu a um episódio de "Arquivo X" - série televisiva na qual Duchovny interpretou, por sete anos, um agente especial do governo americano que investiga situações alienigenamente sobrenaturais.
"Foi só quando me dei conta da coincidência que respirei aliviado", lembra ele. "Mas durante as gravações, nunca imaginamos que essa frase pudesse ter interpretação dúbia."
Duchovny aceitou fazer o papel de um pesquisador que descobre vida alienígena no deserto do Arizona na comédia de ficção científica "Evolução" porque precisava desesperadamente trabalhar em algo diferente de "Arquivo X". ""Evolução" parecia ser a opção mais radical, mesmo que eu tivesse de voltar a enfrentar ETs. Só não sabia que trabalhar em comédia era tão estressante", disse ele, que no filme se vê metido em esquisitices como ter de duelar com o que só pode ser descrito como um ânus alienígena de quatro metros de largura.
"Chegava ao set pensando como faria para ser engraçado naquela manhã, almoçava pensando em como faria para ser engraçado à tarde e voltava para casa pensando como faria para ser engraçado no dia seguinte. É esgotante." Para ele, drama é mais simples e muito menos cansativo. "Você só precisa ser obscuro e mal humorado, e o trabalho está feito", brinca.
Depois de deixar o agente Mulder de "Arquivo X" para trás, Duchovny pretende dedicar-se à carreira de escritor e diretor. "Escrever é minha evolução natural. Tive de abandonar o hábito por causa do sucesso de "Arquivo X". Agora quero dar um tempo para conseguir roteirizar um filme", diz o homem formado em literatura e que abandonou sua tese de doutorado ("Mágica e Tecnologia na Ficção e na Poesia Contemporânea Americana") pela metade.
"Pretendo escrever algo que seja despretensioso, nada de filmes-cabeça." Casado com a atriz Téa Leoni e pai de uma menina de dois anos, ele diz que essas decisões foram tomadas quando sua filha ficou com pneumonia.
"Vê-la no hospital, indefesa, e perceber que, naquela hora, eu não podia ajudá-la, transformou-me. Eu jurei que, se ela escapasse, não desperdiçaria mais um minuto de minha vida."



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