São Paulo, sexta-feira, 13 de julho de 2007

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Cinema/Estréias

Filme exibe "turnê" da vida de Tom Zé

Altos e baixos, sucesso e conflitos do cantor com companheiros de geração são tema de documentário que estréia hoje

"Fabricando Tom Zé" segue giro pela Europa e traz depoimentos de Caetano e Gil sobre o período de "esquecimento" do cantor

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O mais paulista e ao mesmo tempo mais nordestino dos tropicalistas baianos, segundo a boa definição de Arnaldo Antunes, chega hoje a 12 salas de cinema no país.
Ele é cheio de arestas, diz Arnaldo no filme. "Um contraponto constante; ele sempre quer fazer um contraponto a tudo", afirma Decio Matos Jr., diretor de "Fabricando Tom Zé". Seu documentário segue o cantor e compositor por uma turnê na Europa em 2005, enquanto entrevistados vão tentando esclarecer o "biografado" para a platéia. Tudo vai bem, formal e ortodoxo até que a banda chega ao festival de Montreux.
Passagem de som, uma tentativa de ensaio, e Tom Zé e os músicos não estão satisfeitos com a equalização. Ele tenta se fazer entender. Os técnicos locais parecem resistir a aceitar qualquer pedido de mudança feito pelo brasileiro. Um deles sobe ao palco e age de forma frontalmente arrogante.
Após um chilique (justíssimo) de fazer inveja a Caetano Veloso, Tom Zé quase sai no braço com o rapaz. Adiante no filme, ele e platéia vão se desentender, receberá vaias, para só no fim, já em Paris, reencontrar as graças do público.

Paralelos
O que é narrado paralelamente a isso não é uma história muito diferente: a da carreira de Tom Zé, seu sucesso inicial com o tropicalismo, o esquecimento pelas gravadoras simultâneo ao sucesso pop de Gilberto Gil e Caetano, seu ressentimento, a redenção final pelas mãos de David Byrne, que o redescobriu para o mundo e para o Brasil.
Matos Jr. diz que o efeito é deliberado. "A linha da turnê corre de forma linear. Fui filmando. Quando voltei e me dei conta, achei perfeito. Aparece em paralelo a linha narrativa do filme e a da vida dele."
O ponto crucial aí é a antiga história das responsabilidades sobre o "esquecimento" de Tom Zé, de seus discos, de sua magra recepção popular quando radicaliza sua pesquisa na música brasileira.
Para Gil, no filme, o afastamento de seus antigos companheiros se deu em grande medida por um retraimento de Tom Zé no momento da volta do hoje ministro e de Caetano de Londres. Esse, por sua vez, se pergunta: "Por que ninguém disse nada? Por quê?". "É evidente que todo mundo tem sua dose de egoísmo. Às vezes podia ser mais fácil não ter esse complicador que era o Tom Zé, entendeu? Há algo de mesquinho, talvez inconscientemente, na atitude nossa."
A participação da dupla baiana foi motivo de briga entre o diretor e seu personagem. Tom Zé diz que não queria que fossem ouvi-los sobre o velho assunto. "Fiquei muito aborrecido quando ele disse que ia entrevistá-los. Tinha pedido para não incomodá-los. Todo mundo que vem me ver me usa como passo para chegar a eles."
Estremeceu-se ali uma relação que começara bem. Esse é o primeiro longa de Matos Jr., 27, que estudou cinema na Universidade de Nova York. Procurou Tom Zé, que disse ter achado interessante aquele grupo de jovens "de classe média provida" dispostos a trabalhar "em vez de ficarem estragando o dinheiro do pai". Ele assistiu depois ao filme pronto e, como público e cantor, os dois fizeram enfim as pazes.


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