São Paulo, segunda-feira, 13 de agosto de 2007

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Eletro show

Começa hoje em SP o File, festival de arte eletrônica com exposição, debates e performances, que destaca obra inspirada em Duchamp, do espanhol Txuspo Poyo, e um novo instrumento, a "Reactable'

Mostra é realizada no Centro Cultural Fiesp, na avenida Paulista, e reúne 23 instalações, além de 200 trabalhos em computadores

Divulgação
Projeção de "Wildlife", de Karolina Sobecka, que percorrerá ruas de São Paulo


TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um tigre caminhará a partir de hoje pela selva paulistana. Entre os pedestres, ele se projetará nas fachadas dos prédios, movendo-se na mesma velocidade do trânsito caótico da metrópole. O animal começa a circular a partir das 17h -saindo da av. Paulista- e fica solto pelas ruas até as 23h. No próximo sábado, ele voltará à "jaula".
Criação da norte-americana Karolina Sobecka, o tigre é "Wildlife", uma das obras da oitava edição do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (File), que começa hoje.
O evento realiza uma exposição no Centro Cultural Fiesp, na Paulista, que reúne 23 instalações, além de 200 trabalhos em computadores. O File promove ainda um simpósio e o Hipersônica, mostra que contempla performances sonoras e visuais desenvolvidas com linguagens eletrônicas.
"Com "Wildlife" quero despertar nas pessoas a capacidade de se surpreender, de observar as coisas com novos olhos. Esse trabalho é uma seqüência da minha trajetória que trata de temas ligados à vida em ambientes construídos [tanto literalmente quanto metaforicamente], o que resulta numa distorção e confusão de conceitos de nosso relacionamento com a natureza", teoriza Sobecka.
O tigre é uma animação pintada à mão. A artista criou um dispositivo que faz com que a imagem se movimente com velocidade igual à do automóvel que transporta seu projetor. "Amo o realismo mágico na literatura e acho que "Wildlife" é seu correspondente visual, uma fusão da realidade física e psicológica/virtual", diz ela.
O fato de suas imagens usarem os prédios como "suporte" gerou comparações entre "Wildlife" e o grafite, mas Sobecka refuta esse paralelo.
"O termo grafite tem geralmente uma conotação de reivindicação, e "Wildlife" é sobre uma presença efêmera. É algo que nós trazemos para qualquer lugar e que some quando nós sumimos", diferencia.

"Grande Vidro"
O espanhol Txuspo Poyo apresenta "Delay Glass" (vidro atrasado), referência ao "Grande Vidro", de Marcel Duchamp. "Delay Glass" é uma animação de oito minutos que tem como trilha "Erratum Musical", partitura composta por Duchamp para seu trabalho.
Na versão original da obra de Poyo, a música é tocada por Gordon Monahan, discípulo de John Cage. Aqui, ela vai ser executada por Antonio Vaz Lemes.
"O interessante é que por muito tempo ele considerou o trabalho inacabado. "Grande Vidro" é uma tecnologia, uma ciência, uma peça mecânica e erótica. Duchamp disse que a obra era o casamento das reações mentais e visuais. Acho que vários desses aspectos me forçaram a observá-la de diferentes maneiras", explica Poyo.
"Delay Glass" será apresentado hoje, na abertura para convidados, e amanhã, dentro do Hipersônica.
Outra atração da inauguração do File é a apresentação da "Reactable". Mesa com superfície translúcida, a "Reactable" reage aos movimentos de pequenas peças soltas e das relações entre elas. Os objetos, seus movimentos e a aproximação deles produzem sons gerados por sintetizadores, além de criarem desenhos sobre a superfície.
Um de seus criadores, o "luthier digital" Martin Kaltenbrunner, tocará o instrumento durante a inauguração. Depois, o aparelho ficará à disposição do público por uma semana.
A "Reactable" é usada pela cantora Björk em sua turnê "Volta", que passará pelo Brasil no fim de outubro, dentro da programação do Tim Festival.
"A "Reactable" é definitivamente um instrumento musical, não uma instalação. É controlável e não faz um som "bacana" por si só, é o músico que decide o que e como tocar. Ela foi concebida como um novo instrumento que possibilita um acesso fácil aos sons eletrônicos para os iniciantes, assim como dispõe de elementos mais complexos para profissionais", afirma Kaltenbrunner.
O sucesso do instrumento fez com que a gigante Microsoft convidasse o grupo para colaborar no desenvolvimento de um projeto similar, a MusicTable. "Em geral, acho uma boa idéia cientistas e artistas trabalharem em cooperação com grandes empresas de tecnologia. Mas a ciência e a arte têm que ficar livres da pressão comercial para desenvolverem suas idéias, que podem não ser consideradas úteis a princípio."

FESTIVAL INTERNACIONAL DE LINGUAGEM ELETRÔNICA
Onde:
Galeria de Arte do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 0/xx/11/3146-7405)
Quando: hoje somente para convidados; ter. a sáb.: 10h às 20h, dom.: 10h às 19h e seg.: 11h às 20h; até 9/9
Quanto: entrada franca


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