São Paulo, segunda-feira, 13 de agosto de 2007

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Roberta Sá vai além do samba em seu 2º disco

Após o elogiado "Braseiro", intérprete aposta agora em novos compositores

"É um encontro com meus contemporâneos", afirma a cantora, sobre seu novo álbum, "Que Belo Estranho Dia pra se Ter Alegria"

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Os sambas predominam em "Braseiro" (2004), CD de estréia que rendeu a Roberta Sá, 26, elogios de colegas, imprensa e Caetano Veloso. Mas ela fica incomodada quando a chamam de "cantora de samba".
"Adoraria vestir a carapuça, mas não visto até por respeito ao samba. Sou intérprete de música brasileira", diz.
É para firmar essa posição ampla que a jovem potiguar radicada no Rio lança "Que Belo Estranho Dia pra se Ter Alegria", CD em que abre seu leque de ritmos, possibilidades vocais e compositores. Sem simular modéstia, ela classifica de "evolução" o novo trabalho.
"No primeiro, nem cantora eu me sentia. Fiz um extrato das referências da minha vida. Agora, estou falando das referências que adquiri nos últimos dois anos. É um encontro com meus contemporâneos."
Em vez de Dorival Caymmi, Chico Buarque e Paulinho da Viola, expoentes de "Braseiro", aparecem agora Junio Barreto, Moreno Veloso/Quito Ribeiro, Rodrigo Maranhão -presente também no primeiro- e Edu Krieger. Embora co-assine o samba-choro "Janeiros" com o namorado, Pedro Luís, ela diz que quer permanecer como voz ("Não tenho vontade ou vaidade de ter um monte de composições minhas num disco") e que gostaria de ver, com mais freqüência, compositores dando suas criações às cantoras.
"Há músicas que mereciam ser mais bem cantadas. Mas é claro que todo mundo faz o que bem quiser, e um compositor tem todo o direito de gravar suas obras. Só sinto falta de uma relação mais próxima entre autores e intérpretes. As músicas poderiam ser mais espalhadas, o que levaria a criar mais e melhor", acredita.

Bom humor
Roberta foi à luta para montar o repertório. Pediu canções aos contemporâneos e também a Roque Ferreira, papa baiano do samba-de-roda, e Lula Queiroga, experiente pernambucano que já constava em "Braseiro" e que criou o verso-título do novo CD. Ele está em "Belo Estranho Dia de Amanhã", leve como quase todas as faixas, mas com lamentos pela escassez de tempo no mundo atual.
"O disco é bem-humorado, mas não totalmente alienado", ressalta ela. As duas parcerias de Pedro Luís e Carlos Rennó, "Fogo e Gasolina" e "Samba de Amor e Ódio", têm formas "envenenadas" de se falar de amor. Bem diferente de "Interessa?", marcha de Carvalhinho que foi sucesso com Linda Batista em 1951, e "Alô Fevereiro", samba de Sidney Miller (1945-1980). As duas foram pinçadas do passado ao lado de "Cansei de Esperar Você", samba de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho.
O repertório diversificado ganha versões idem, com arranjos de Rodrigo Campello que, para espanto de eventuais puristas, unem programações eletrônicas com sanfona, trompas, violões e cavaquinho.
"O Rodrigo usa as programações de maneira elegante. Não é agressivo, modernoso", defende ela, livre para cantar o que quer num tempo em que não há divas vendendo 1 milhão de cópias. "Isso não existe mais, é ilusão. Fico contente só de as pessoas cantarem as músicas nos shows. Onde elas aprenderam? Não foi no rádio."


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