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Roberta Sá vai além do samba em seu 2º disco
Após o elogiado "Braseiro", intérprete aposta agora em novos compositores
"É um encontro com meus contemporâneos", afirma a cantora, sobre seu novo álbum, "Que Belo Estranho Dia pra se Ter Alegria"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Os sambas predominam em
"Braseiro" (2004), CD de estréia que rendeu a Roberta Sá,
26, elogios de colegas, imprensa e Caetano Veloso. Mas ela fica incomodada quando a chamam de "cantora de samba".
"Adoraria vestir a carapuça,
mas não visto até por respeito
ao samba. Sou intérprete de
música brasileira", diz.
É para firmar essa posição
ampla que a jovem potiguar radicada no Rio lança "Que Belo
Estranho Dia pra se Ter Alegria", CD em que abre seu leque
de ritmos, possibilidades vocais
e compositores. Sem simular
modéstia, ela classifica de "evolução" o novo trabalho.
"No primeiro, nem cantora
eu me sentia. Fiz um extrato
das referências da minha vida.
Agora, estou falando das referências que adquiri nos últimos
dois anos. É um encontro com
meus contemporâneos."
Em vez de Dorival Caymmi,
Chico Buarque e Paulinho da
Viola, expoentes de "Braseiro",
aparecem agora Junio Barreto,
Moreno Veloso/Quito Ribeiro,
Rodrigo Maranhão -presente
também no primeiro- e Edu
Krieger. Embora co-assine o
samba-choro "Janeiros" com o
namorado, Pedro Luís, ela diz
que quer permanecer como voz
("Não tenho vontade ou vaidade de ter um monte de composições minhas num disco") e
que gostaria de ver, com mais
freqüência, compositores dando suas criações às cantoras.
"Há músicas que mereciam
ser mais bem cantadas. Mas é
claro que todo mundo faz o que
bem quiser, e um compositor
tem todo o direito de gravar
suas obras. Só sinto falta de
uma relação mais próxima entre autores e intérpretes. As
músicas poderiam ser mais espalhadas, o que levaria a criar
mais e melhor", acredita.
Bom humor
Roberta foi à luta para montar o repertório. Pediu canções
aos contemporâneos e também
a Roque Ferreira, papa baiano
do samba-de-roda, e Lula Queiroga, experiente pernambucano que já constava em "Braseiro" e que criou o verso-título do
novo CD. Ele está em "Belo Estranho Dia de Amanhã", leve
como quase todas as faixas, mas
com lamentos pela escassez de
tempo no mundo atual.
"O disco é bem-humorado,
mas não totalmente alienado",
ressalta ela. As duas parcerias
de Pedro Luís e Carlos Rennó,
"Fogo e Gasolina" e "Samba de
Amor e Ódio", têm formas "envenenadas" de se falar de amor.
Bem diferente de "Interessa?",
marcha de Carvalhinho que foi
sucesso com Linda Batista em
1951, e "Alô Fevereiro", samba
de Sidney Miller (1945-1980).
As duas foram pinçadas do passado ao lado de "Cansei de Esperar Você", samba de Dona
Ivone Lara e Délcio Carvalho.
O repertório diversificado
ganha versões idem, com arranjos de Rodrigo Campello
que, para espanto de eventuais
puristas, unem programações
eletrônicas com sanfona, trompas, violões e cavaquinho.
"O Rodrigo usa as programações de maneira elegante. Não
é agressivo, modernoso", defende ela, livre para cantar o
que quer num tempo em que
não há divas vendendo 1 milhão
de cópias. "Isso não existe mais,
é ilusão. Fico contente só de as
pessoas cantarem as músicas
nos shows. Onde elas aprenderam? Não foi no rádio."
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