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Opinião
Gramado começou a perder espaço na era Collor
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Nos seus dias de glória,
Gramado dividia com
Brasília as honras de
principal festival de cinema
brasileiro. A Embrafilme, a empresa estatal de produção e distribuição, era quem comandava
a festa, de tal modo que um dos
festivais pontificava sobre o
primeiro semestre, ficando o
segundo para o outro.
Acontece que Gramado é
uma cidade pequena, aprazível,
na montanha, enquanto Brasília é uma capital grande, dispersiva, sem charme. Ao menos
era assim que as coisas eram
vistas. Enquanto em Brasília
comia-se quase todo o tempo
no hotel, em Gramado havia
inúmeras opções de refeição.
Enquanto em Brasília as pessoas transitavam entre o hotel
e o cinema, em Gramado faziam passeios pelos arredores.
Gramado tinha como força
suplementar a cinefilia sulina,
alimentada por críticos como
P.F. Gastal e Goida. Ela gerou,
entre os anos 1970 e 1980 o surgimento de uma jovem geração
de cineastas que demonstravam muito talento (embora, na
maior parte das vezes, não tenham obtido meios para firmar-se). No mais, interessava
ao governo do Rio Grande do
Sul promover a cidade como
centro turístico, o que não
ocorria aos governos do Distrito Federal.
O vento soprou, assim, a favor de Gramado até 1990,
quando o governo Collor fechou a Embrafilme e provocou
a maior crise de produção do cinema brasileiro desde o fechamento da Vera Cruz, nos anos
50 do século 20. Sem filmes
brasileiros à disposição, Gramado optou por mesclar os
poucos filmes brasileiros que
havia com filmes de outros países latinos.
Aí começa a decadência. Como festival latino ou latino-americano, Gramado nunca
passou de um evento secundário. Mudanças de direção, determinadas por mudanças políticas, também não ajudaram.
Aos poucos, Gramado passou à
condição de segundo festival,
deixando a Brasília a incontestável primazia. Aos poucos, outros festivais se destacaram.
Recife traz o calor do Nordeste (em mais de um sentido) e já
começa a trazer atrações internacionais. Paulínia dispõe-se a
premiar regiamente quem se
dispuser a enfrentar seus modos novos ricos, que preveem
até sessões de gala. O espaço de
Gramado estreitou-se dramaticamente, o que é pena. Recuperá-lo exigiria um tanto de sorte
e a atenção e investimento que
sucessivos governos sulistas
aparentemente não quiseram,
ou não souberam, fazer.
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