São Paulo, quinta-feira, 13 de agosto de 2009

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Chinês analisa violência em sua mostra no Masp

Yang Shaobin investiga atentados terroristas com traços neoexpressionistas e românticos nas 50 telas que traz a SP

Artista já participou da Bienal de Veneza e está entre os nomes fortes da geração surgida depois dos massacres da praça da Paz Celestial

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Yang Shaobin pegou em armas antes de tentar desarmar a violência. Foi policial até aprender a pintar suas telas que, não à toa, chama de "batalhas corporais em vermelho".
Nome autodidata da geração de artistas chineses que veio no rastro dos massacres da praça da Paz Celestial, há 20 anos, Yang desviou do realismo cínico dessa época para fazer de sua obra uma reflexão sobre abusos políticos seguidos dos bélicos.
É certo que algumas de suas 50 telas expostas agora no Masp transbordam um panfletarismo fácil, de quem viveu acostumado às mordaças de um país até pouco tempo atrás lacrado para o resto do mundo.
Mas importa mais o que ultrapassa o documental. Yang renuncia ao caráter teatral e caricato de sua geração. Se antes pintou policiais com grandes sorrisos estampados no rosto, foi mais contundente quando fez o retrato de um artista.
"Strong Face (Martin Kippenberger)" é o rosto do artista alemão que dá nome à tela envolto em esparadrapos e curativos. Kippenberger havia pintado um autorretrato quando levou uma surra nas ruas de Berlim, refeito agora pelo chinês em homenagem deslavada.
"É difícil ser artista na China", diz Yang. Por isso, buscou fora de lá influências de um Kippenberger, o neoexpressionismo agressivo de Julian Schnabel, as figuras torcidas e deformadas de Francis Bacon.
Numa primeira leitura, é fácil enquadrar Yang entre esses arroubos neoexpressionistas. Mas há ali um substrato romântico espesso. Quando revê os atentados de Madri, copia no alto da tela um rosto desesperado das batalhas de Délacroix.
É o único ponto nítido, já que o resto da tela se perde na indefinição de volteios luminosos mergulhados em vermelho denso -sua cor-assinatura.
São tons cavernosos borrados e contornados pela luz rarefeita. Yang cresceu numa região mineradora da China e pintou os trabalhadores de carvão numa de suas primeiras séries. Van Gogh aprendeu a retratar a luz intensa de suas telas quando desceu aos fundos das minas carvoeiras da Bélgica.
Yang reverencia o holandês na forma e resgata conteúdos dos realistas franceses, como Courbet -o chinês também fez uma mulher de pernas arreganhadas, que o Masp decidiu não expor para manter livre a classificação indicativa da mostra.
Sem sexo, o resto do conjunto carrega na violência em estocadas de cor. Nessa agressividade, Yang busca a paz com o conhecimento de causa de quem já carregou um revólver.


YANG SHAOBIN
Quando: de ter. a dom., das 11h às 18h; qui., das 11h às 20h; até 18/10
Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, tel. 0/xx/11/3251-5644)
Quanto: R$ 15




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