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Chinês analisa violência em sua mostra no Masp
Yang Shaobin investiga atentados terroristas com traços neoexpressionistas e românticos nas 50 telas que traz a SP
Artista já participou da Bienal de Veneza e está entre os nomes fortes da geração surgida depois dos massacres da praça da Paz Celestial
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Yang Shaobin pegou em armas antes de tentar desarmar a
violência. Foi policial até
aprender a pintar suas telas
que, não à toa, chama de "batalhas corporais em vermelho".
Nome autodidata da geração
de artistas chineses que veio no
rastro dos massacres da praça
da Paz Celestial, há 20 anos,
Yang desviou do realismo cínico dessa época para fazer de sua
obra uma reflexão sobre abusos
políticos seguidos dos bélicos.
É certo que algumas de suas
50 telas expostas agora no
Masp transbordam um panfletarismo fácil, de quem viveu
acostumado às mordaças de
um país até pouco tempo atrás
lacrado para o resto do mundo.
Mas importa mais o que ultrapassa o documental. Yang
renuncia ao caráter teatral e caricato de sua geração. Se antes
pintou policiais com grandes
sorrisos estampados no rosto,
foi mais contundente quando
fez o retrato de um artista.
"Strong Face (Martin Kippenberger)" é o rosto do artista
alemão que dá nome à tela envolto em esparadrapos e curativos. Kippenberger havia pintado um autorretrato quando levou uma surra nas ruas de Berlim, refeito agora pelo chinês
em homenagem deslavada.
"É difícil ser artista na China", diz Yang. Por isso, buscou
fora de lá influências de um
Kippenberger, o neoexpressionismo agressivo de Julian
Schnabel, as figuras torcidas e
deformadas de Francis Bacon.
Numa primeira leitura, é fácil enquadrar Yang entre esses
arroubos neoexpressionistas.
Mas há ali um substrato romântico espesso. Quando revê
os atentados de Madri, copia no
alto da tela um rosto desesperado das batalhas de Délacroix.
É o único ponto nítido, já que
o resto da tela se perde na indefinição de volteios luminosos
mergulhados em vermelho
denso -sua cor-assinatura.
São tons cavernosos borrados e contornados pela luz rarefeita. Yang cresceu numa região mineradora da China e
pintou os trabalhadores de carvão numa de suas primeiras séries. Van Gogh aprendeu a retratar a luz intensa de suas telas
quando desceu aos fundos das
minas carvoeiras da Bélgica.
Yang reverencia o holandês
na forma e resgata conteúdos
dos realistas franceses, como
Courbet -o chinês também fez
uma mulher de pernas arreganhadas, que o Masp decidiu não
expor para manter livre a classificação indicativa da mostra.
Sem sexo, o resto do conjunto carrega na violência em estocadas de cor. Nessa agressividade, Yang busca a paz com o conhecimento de causa de quem
já carregou um revólver.
YANG SHAOBIN
Quando: de ter. a dom., das 11h às 18h;
qui., das 11h às 20h; até 18/10
Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, tel.
0/xx/11/3251-5644)
Quanto: R$ 15
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