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NOVELA - CRÍTICA
"Brida' traz à TV o melhor do humor involuntário
PAULO VIEIRA
especial para a Folha
A julgar pelo primeiro capítulo
-e pelas cenas compactadas do
próximo-, "Brida", novela baseada no livro de Paulo Coelho e
que estreou anteontem na Manchete, já exibiu todos os seus personagens, boa parte de suas locações, e explicitou o que é a trama.
Vargas (Rubens de Falco) tem
poderes sensoriais e manipula
-por algo parecido a transe hipnótico- seu chefe, de nome Fradique, uma discípula, Priscila
(Guilhermina Guinle, desde já
concorrendo ao disputado título
de pior atuação do horário adulto), e quem aparecer, incluindo
Brida e suas amigas. Brida é a única que poderá lhe fazer frente, sendo considerada, portanto, uma
força do bem. Eis a trama.
Mas é preciso voltar ao século 13,
Irlanda segundo o crédito, para
entendermos melhor. Falco aparece junto a penhascos enevoados,
ladeado por uma ampulheta, tentando eliminar quatro bruxas, então ainda candidatas a Brida.
Isso redunda na melhor sequência de humor involuntário produzida nos últimos 45 anos da TV
brasileira: elas correm em "slow
motion"; Falco diz (palavras textuais): "só há uma solução, a fogueira"; elas aparecem amarradas
a postes. Ouve-se fogo crepitando.
Mas elas sobrevivem, e agora
Falco, já Vargas, caminha pelo
calçadão de Ipanema. Cheira uma
flor, a imagem congela. Corta para
uma festa, e lá estão Brida e as outras três a serem manipuladas remotamente por Falco, recém-despertado para a velha missão quando a ampulheta (aquela) súbito se
coloca em movimento.
Quem suportou esses 15 minutos dalinianos não perde por esperar. Estamos na festa de 18 anos de
Inês, filha do figurão Fradique, e
não haverá doravante um olho feminino que não fique marejado. O
de Inês, porque decide trocar de
roupa e abafar quando aparecer
na escada; ela aparece na escada,
mas ninguém dá a mínima (também com a figurinista que a emissora contratou!); Brida, solidária,
chora pela amiga. Outras mulheres, incluindo a tia-governanta
Bete Mendes, fazem o mesmo.
Há vantagem nessa opção pela
ação: não há diálogos em "Brida".
No jantar, ninguém fala -mesmo
quando Brida destrói um copo,
sangra a mão e deixa a mesa. (Restam, é verdade, os monólogos de
Falco -destaque para o tremular
de seu lábio superior quando quer
colocar alguém em transe).
Walter Avancini, o diretor, não
esqueceu de colocar neste capítulo
alguns elementos cenográficos
alusivos, como umas cabeças de
gesso, entalhes pré-colombianos,
além de umas pitadinhas de sexo.
Também deixou Inês de calcinha
(da mesma padronagem do papel
de parede de seu quarto).
Em resumo, um lixo. Bem que
Paulo Coelho, entrevistado minutos antes no "Jornal da Manchete", tentou se esquivar: "sou, em
última análise, um espectador" ou
"meu livro não é novela". Não
bastassem os detratores que o perseguem nos jornais, Coelho acaba
de ganhar uma penca na TV.
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