São Paulo, quinta, 13 de agosto de 1998

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NOVELA - CRÍTICA
"Brida' traz à TV o melhor do humor involuntário


PAULO VIEIRA
especial para a Folha

A julgar pelo primeiro capítulo -e pelas cenas compactadas do próximo-, "Brida", novela baseada no livro de Paulo Coelho e que estreou anteontem na Manchete, já exibiu todos os seus personagens, boa parte de suas locações, e explicitou o que é a trama.
Vargas (Rubens de Falco) tem poderes sensoriais e manipula -por algo parecido a transe hipnótico- seu chefe, de nome Fradique, uma discípula, Priscila (Guilhermina Guinle, desde já concorrendo ao disputado título de pior atuação do horário adulto), e quem aparecer, incluindo Brida e suas amigas. Brida é a única que poderá lhe fazer frente, sendo considerada, portanto, uma força do bem. Eis a trama.
Mas é preciso voltar ao século 13, Irlanda segundo o crédito, para entendermos melhor. Falco aparece junto a penhascos enevoados, ladeado por uma ampulheta, tentando eliminar quatro bruxas, então ainda candidatas a Brida.
Isso redunda na melhor sequência de humor involuntário produzida nos últimos 45 anos da TV brasileira: elas correm em "slow motion"; Falco diz (palavras textuais): "só há uma solução, a fogueira"; elas aparecem amarradas a postes. Ouve-se fogo crepitando.
Mas elas sobrevivem, e agora Falco, já Vargas, caminha pelo calçadão de Ipanema. Cheira uma flor, a imagem congela. Corta para uma festa, e lá estão Brida e as outras três a serem manipuladas remotamente por Falco, recém-despertado para a velha missão quando a ampulheta (aquela) súbito se coloca em movimento.
Quem suportou esses 15 minutos dalinianos não perde por esperar. Estamos na festa de 18 anos de Inês, filha do figurão Fradique, e não haverá doravante um olho feminino que não fique marejado. O de Inês, porque decide trocar de roupa e abafar quando aparecer na escada; ela aparece na escada, mas ninguém dá a mínima (também com a figurinista que a emissora contratou!); Brida, solidária, chora pela amiga. Outras mulheres, incluindo a tia-governanta Bete Mendes, fazem o mesmo.
Há vantagem nessa opção pela ação: não há diálogos em "Brida". No jantar, ninguém fala -mesmo quando Brida destrói um copo, sangra a mão e deixa a mesa. (Restam, é verdade, os monólogos de Falco -destaque para o tremular de seu lábio superior quando quer colocar alguém em transe).
Walter Avancini, o diretor, não esqueceu de colocar neste capítulo alguns elementos cenográficos alusivos, como umas cabeças de gesso, entalhes pré-colombianos, além de umas pitadinhas de sexo. Também deixou Inês de calcinha (da mesma padronagem do papel de parede de seu quarto).
Em resumo, um lixo. Bem que Paulo Coelho, entrevistado minutos antes no "Jornal da Manchete", tentou se esquivar: "sou, em última análise, um espectador" ou "meu livro não é novela". Não bastassem os detratores que o perseguem nos jornais, Coelho acaba de ganhar uma penca na TV.



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