São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 2000

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ARTES PLÁSTICAS
Saatchi Gallery abre amanhã a segunda parte de "Ant Noises" com os polêmicos artistas de "Sensation"
Londres amplifica barulho de formigas

Divulgação
"Angel", escultura em silicone do inglês Ron Mueck, que integra a mostra "Ant Noises", na Saatchi Gallery, em cartaz até novembro


FABIO CYPRIANO
EM LONDRES

Quem não se lembra das polêmicas que a exposição "Sensation", organizada pelo colecionador inglês Charles Saatchi, provocou até o ano passado?
Elas começaram em 1997, quando "Sensation" foi aberta em Londres e a tela "Myra", de Marcus Harvey, chegou a levar ovadas por apresentar o rosto de Mira Hindley, uma assassina de crianças dos anos 60.
Depois foi no Museu de Arte do Brooklyn, em Nova York, no ano passado, quando o prefeito Rudolph Giuliani atrapalhou o quanto pôde a exposição por considerar uma blasfêmia a tela "A Sagrada Virgem Maria", de Chris Ofili, que utilizava fezes de elefante no quadro.
Ironizando a repercussão que "Sensation" alcançou, a Saatchi Gallery, de Londres, abre amanhã "Ant Noises" (barulho das formigas), que expõe as novas obras de dez artistas integrantes da "Sensation".
As "formigas" que voltam agora mostram que trabalharam muito nos últimos tempos e não estão mais tão decididas a provocar polêmicas.
"Ant Noises" foi dividida em duas partes. A primeira ficou em cartaz de abril a agosto, e o único polemista desta vez foi Damien Hirst. Em "Sensation" ele apresentava animais seccionados dentro de caixas de vidro, nas quais era possível ver sua entranhas.
Hirst fez uma enorme escultura de cinco metros de altura, representando um tronco humano, também seccionado, que expõe os órgãos internos. A obra lhe causou um processo, pois ela é apenas uma réplica em grande escala de um modelo para ensinar anatomia. Ao menos desta vez ele não utilizou um humano de verdade.
A segunda parte, que abre amanhã, não promete grandes polêmicas. Chris Ofili continua a fazer suas telas com fezes de elefantes, mas desta vez dá nomes bastante genéricos aos quadros.
Entretanto, a falta de confusão é mesmo salutar. Sem ela as obras podem ser admiradas de maneira mais adequada, como as esculturas hiper-realistas de Ron Mueck. O artista apresenta cinco esculturas que só faltam falar. São perfeitas. Como a pequena "Angel". Para compor essas esculturas, ele chega a aplicar cada pêlo com uma seringa, um trabalho meticuloso de grande efeito.
Brincar com as dimensões do real é uma das grandes idéias de Mueck. Ele cria bebês com quase um metro de altura e apresenta o auto-retrato de seu rosto com quase dois metros.
Lá também estão as pinturas de Gary Hume e Jenny Saville, que derrubam a tese da morte da pintura. Polêmicas à parte, "Ant Noises" comprova que a Inglaterra é quem produz hoje a melhor arte contemporânea.


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