São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 2000

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Craques da arte encontram-se na National Gallery

EM LONDRES

Difícil pensar em encontros mais felizes. A exposição "Encounters - New Art from Old", que termina no próximo domingo, na National Gallery de Londres, reúne 24 dos melhores artistas contemporâneos com obras realizadas especialmente para o museu.
Detalhe: as novas obras são leituras de "masterpieces" da coleção do museu inglês. No time da velha-guarda estão Van Gogh, Turner e Raphael. No time dos jovens, Louise Bourgeois, Anselm Kiefer e Jasper Johns.
De certa forma, a estratégia da National Gallery é atrair um público de arte contemporânea que migrou massivamente para a recém-inaugurada Tate Modern, às margens do Tâmisa. A tática deu certo, as salas nas quais ocorre a exibição andam abarrotadas de visitantes.
A leitura de clássicos por artistas de nova geração não é algo recente. Picasso já utilizou obras de Delacroix em seus quadros, assim como Andy Warhol também já fez sua releitura de De Chirico, para citar apenas dois exemplos.
Mesmo em São Paulo, no início do ano, vários artistas brasileiros apresentaram o seu olhar sobre a obra do pintor brasileiro Almeida Júnior.
O incrível na exposição que o museu inglês organizou é ver obras novas de uma geração que já se encontra no patamar máximo da arte do século 20, dialogando com obras do que melhor se produziu na história das artes plásticas.
Um exemplo é a série produzida pelo inglês David Hockney a partir do retrato do pintor francês Jean-Auguste-Dominique Ingres (1780-1867) "Jacques Marquet, Baron de Montbreton de Novins". Ingres foi um dos grandes retratistas de sua época, responsável por imortalizar imagens de Napoleão e de vários oficiais de suas tropas, como no caso do retrato de Montbreton. O pintor francês foi o tema de uma grande retrospectiva, no ano passado, no Metropolitan, de Nova York.
Para a exposição em Londres, Hockney retratou 12 porteiros da National Gallery e criou ainda 12 dípticos em que apresenta os rostos dos porteiros e suas mãos, como feito nos retratos. Um trabalho de tirar o fôlego.
Outra das preciosidades de "Encounters" é a obra do italiano Francesco Clemente sobre "Uma Alegoria da Prudência", de Ticiano (1506-1576). Clemente fez uma enorme tela, com pequenos homens negros segurando os textos "Smile Now" (sorria agora) e "Cry Later" (chore depois).
São dois casos, entre os 24 apresentados. Surpresa num universo tão cheio de egos inflados, que humildemente se renderam aos mestres e criaram algo tão impactante quanto o original. (FCY)


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