São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FESTIVAL DE VENEZA

Vencedor da 61ª edição da mostra, diretor inglês diz que prêmio encoraja cinema independente e engajado

Mike Leigh recebe Leão de Ouro contra o "cinismo"

DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor inglês Mike Leigh recebeu o Leão de Ouro da 61ª Mostra de Cinema de Veneza, no último sábado, como um antídoto ao "cinismo do mundo".
Em "Vera Drake", seu filme vencedor, a personagem-título só não é uma típica dona-de-casa inglesa dos anos 50 porque, nos fundos de sua casa, realiza abortos clandestinamente.
"Num mundo cínico, [receber este prêmio] é algo maravilhoso e ainda mais reconfortante quando filmes europeus de baixo orçamento, sérios, independentes e engajados são reconhecidos e encorajados dessa forma, o que ajuda a atrair a atenção do público para eles", disse Leigh, logo após a cerimônia de premiação.
Pela interpretação da protagonista Vera Drake, Imelda Staunton recebeu o prêmio de melhor atriz do festival e fez multiplicar os comentários sobre o talento de Leigh para levar seu elenco a desempenhos memoráveis, como no "duelo" de Phyllis Logan e Brenda Blethyn em "Segredos e Mentiras" (1996).
No entanto não era no filme de Leigh, e sim no espanhol "Mar Adentro", de Alejandro Amenábar, que estava depositada a principal aposta de vitória, na véspera do anúncio das escolhas do júri oficial, presidido pelo cineasta inglês John Boorman.
Depois de concorrer ao Leão de Ouro em 2001 com o suspense "Os Outros", Amenábar retornou ao festival com um drama sobre a luta de um paraplégico, interpretado por Javier Bardem, pelo direito à morte assistida.
O filme, que deu a Bardem o prêmio de melhor ator, é baseado na vida real de Ramón Sampedro, um espanhol que se tornou tetraplégico aos 26 anos de idade e que, durante 30 anos, solicitou à Justiça espanhola autorização para eutanásia, sempre negada. Em 1998, Sampedro morreu pela ingestão de cianureto. "Mar Adentro" recebeu também o Leão de Prata de Grande Prêmio do Júri.
O coreano Kim Ki-duk (o mesmo de "Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera"), cujo "Bin Jip" (A Casa Vazia) foi acrescentado à disputa (como 22º concorrente, na qualidade de filme-supresa pelo diretor do festival, Marco Müller), acabou recebendo o prêmio da crítica e o prêmio especial do júri pela direção.
Sob críticas à intensa desorganização do festival, que chegou a exibir com rolos trocados um dos títulos ("Eros", filme em três episódios dirigido por Steven Soderbergh, Wong Kar-wai e Michelangelo Antonioni), Müller disse que a edição apresentou uma "sólida programação" e que é necessário trabalhar para que as próximas sejam caracterizadas também por uma "sólida organização".


Com agências internacionais


Texto Anterior: Prince Po
Próximo Texto: Direitos autorais: Congresso discute a propriedade artística
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.