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Comentário
Livres, autores acertam em misturas
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Além de qualidade,
o que esses jovens
compositores têm
em comum é a despreocupação com o que é puro
-essa fantasia regressiva
que ainda paira sobre o debate musical do país. Os
sons deles, sempre com alguma dose de mistura, são
on the rocks, funks, sambas, cirandas e o que mais
está à disposição de quem
faz música no Brasil.
Mesmo Rodrigo Maranhão e Edu Krieger, cariocas que bebem em fontes
nordestinas, não parecem
ter obsessão pelo "autêntico". Prova disso é "Baião
Digital", bem-humorado
encontro entre tradição e
presente que é um dos
destaques do CD de Maranhão. Ou o uso de programações, guitarra e piano
rhodes no CD de Krieger,
cheio de choros e cirandas.
Maranhão e Krieger são
autores próximos da maturidade, talvez por conciliarem uma consistente
formação nas tradições
brasileiras, incluindo a dos
grandes letristas, com a liberdade para usarem os
recursos possíveis hoje.
Estando livres, não precisam se exceder, e usam só
o que serve às suas composições delicadas, que têm
cativado intérpretes.
Quito Ribeiro caminha
na mesma faixa livre, combinando atabaques e sintetizadores, mas sua origem geográfica (no caso,
baiana) está mais impressa na sua música, ainda
que ele esteja radicado no
Rio. Algumas dessas referências, como a levada de
guitarra que remete ao
samba-reggae, cansam,
mas prevalecem no CD as
boas composições ("Nêga", "Água e Sal", "Morro
da Viúva") e as inventivas
soluções sonoras.
Em Plinio Profeta o que
há, sobretudo, são soluções sonoras, já que o DJ
compõe a partir de samplers e células musicais
que pesca por aí. "Samba
Cubano", explícita mistura, é o que há de melhor,
mas existem outras boas
alquimias. Quando usa
aquele marca-passo da
eletrônica é o que o disco
cai, pois aí sucumbe a um
outro tipo de índex, este
tão ou mais nefasto do que
os purismos nacionalistas.
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