São Paulo, domingo, 13 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BIA ABRAMO

Pitadas de sabedoria do domingo


Em entretenimento de massa, vale o velho desaforo popular: para quem é, bacalhau basta


FRASE entreouvida durante o programa do Faustão: "O importante é a Glória [Perez] ter pintado esse quadro da psicopatia, diferenciando a psicopatia da loucura". Era domingo e no palco do programa de variedades do apresentador Fausto Silva estavam as estrelas do elenco da novela da Globo "Caminho das Índias".
Tony Ramos, Eliane Giardini, Juliana Paes, Rodrigo Lombardi, todos sorridentes e triunfantes falavam sobre o sucesso da novela, apesar de a tarefa ali -bombar mais um tantinho a audiência da última semana- ser das mais chatinhas. Estava também o diretor-geral Marcos Schechtman. A frase, justamente, era deste último.
A gente pode pensar de dois jeitos sobre isso. Se o dia estiver assim, mais bilioso e difícil, podemos chegar à conclusão de que a frase contém, em si, sua negação. Ora, se a intenção da autora Glória Perez com o tema social da vez era, justamente, utilizar a novela para esclarecer determinadas concepções do senso comum sobre as doenças mentais, como, por exemplo, a diferença entre as psicoses, podemos ver aí na frase o fracasso da empreitada. Pelo jeito, nem sequer o próprio diretor da novela entendeu.
O dia de hoje, entretanto, convida ao bom humor. Daí a gente pode desfranzir o cenho e achar que é isso aí, que existe a loucura genérica, aquela que tem os comoventes olhos azuis de Bruno Gagliasso e merece tratamento, proteção e uma noiva doce (ainda por cima médica!) como Marjorie Estiano, e existe a psicopatia, matriz de todos os vilões e vilãs. E que, para tratar do assunto, uma fórmula moral do tipo "essa loucura genérica é do bem, a psicopatia é do mal" é mais do que suficiente e a gente fica grato por alguém resolver esse problema para a gente, não é mesmo?
E que, quando se trata de entretenimento de massa, vale o velho desaforo popular: para quem é, bacalhau basta. Ou seja, para fazer com que a novela pareça mais do que, de fato, é, não precisa mais do que armar um discurso gago sobre sua profundidade, escrever isso tudo no farto e extenso material de divulgação que circula por terra, mar e ar e deixar a coisa rolar. Todo mundo acredita, repete e, pronto, acaba colando.
Nada como uma boa dose de esclarecimento, uma pitada de sabedoria, para, como dizia a radiosa Juliana Paes alguns momentos antes, a gente ficar refletindo enquanto espera aquilo que de fato interessa, ou seja, as "Videocassetadas"...


Texto Anterior: Coleção exibe tesouros do D'Orsay
Próximo Texto: Resumo das novelas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.