São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 2011

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Festival terá videoarte política de Israel

Videobrasil, que começa no dia 30, apresentará obras de cinco artistas que lidam com questões de identidade

Em paralelo, Centro da Cultura Judaica de São Paulo faz mostra que terá obra apresentada na 54ã Bienal de Veneza


FÁBIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A TEL AVIV

Poucos lugares do mundo são palco de um conflito tão marcante como Israel.
De cunho religioso, político e social, esse conflito acabou fornecendo um amplo material de inspiração para a arte contemporânea.
"Aqui, o artista que trabalha em fotografia e vídeo tem que fazer um esforço muito grande para não olhar a realidade", conta Sergio Edelsztein, criador e diretor do Centro de Arte Contemporânea (CCA), em Tel Aviv.
Parte dessa contundência toda será vista na 17ª edição do festival Videobrasil, que terá início no próximo dia 30 e apresentará trabalhos de cinco artistas de Israel, na seção Panoramas do Sul.
"Esse é o maior grupo de artistas de Israel em toda a história do festival e reflete bem como a questão política é abordada pela arte naquele país", conta Solange Farkas, diretora do festival.
"Vivemos uma urgência, há sempre algo acontecendo. E, se os trabalhos aqui são políticos, o vídeo é mais, por sua própria característica de gravar o real", avalia Edelsztein.
Além do Videobrasil, o Centro da Cultura Judaica organizou um programa paralelo ao festival, com 14 filmes, organizado por Edelsztein.
Entre eles está a polêmica trilogia "E a Europa se Abismará", da israelense Yael Bartana, atualmente em cartaz no pavilhão da Polônia na 54ª Bienal de Veneza.

TERRITÓRIOS OCUPADOS
Entre os trabalhos mais políticos dos artistas de Israel está "H2", de Nurit Sharett, que retrata o cotidiano de um grupo de jovens mulheres que fizeram um workshop de vídeo com a artista.
Elas vivem em Hebron, cidade próxima a Tel Aviv, dividida em duas seções: H1, que pertence à Palestina, e H2, um dos territórios ocupados por Israel.
Nessa última seção, onde vive o grupo de alunas de Sharett, os palestinos sofrem uma série de limitações, até mesmo para andar de carro.
A câmera da artista, então, registra as ruas dessa área e as famílias das alunas. "É um trabalho de arte pela paz militante", explica Sharett.
Ela chegou a participar de um casamento, mas não pôde registrá-lo.
"Fiquei muito surpresa ao ver como, por baixo de toda aquela roupa, elas estão com vestidos brilhantes e alegres. Resolvi fazer o oposto, gravando a minha transformação ao usar um hijab [tipo de véu islâmico].
Foi uma forma de respeito", conta a artista.
Sharett, apesar de ser uma artista respeitada em seu país, nem sequer comercializa seus trabalhos em galerias de arte, financiando-os com prêmios e bolsas.
"Uma das razões para obras aqui terem esse caráter político é que o mercado de arte é pequeno e insignificante", afirma Edelsztein.
Outro exemplo dessa abordagem política é "Melancias sob a Cama", de Dor Guez.
De ascendência árabe-cristã, o artista usa memórias de infância, como a relação de seu avô com as melancias, um símbolo de Israel.
"A maioria nunca sabe nada da minoria. Não sou anti-Israel, mas me sinto na responsabilidade de tratar desses assuntos", diz Guez.

O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite do Centro da Cultura Judaica de São Paulo.



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