São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 2000

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ANÁLISE

Revisão do maoísmo é tendência na China

JAIME SPITZCOVSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA

As turbulências da Revolução Cultural, momento de radicalização das teses maoístas, se transformam hoje em fonte de inspiração para uma geração de escritores e artistas chineses que atravessaram a chamada "década perdida". Gao Xingjian exemplifica essa tendência, que chega a ter, às vezes, a companhia de ninguém menos do que o Partido Comunista da China.
A Revolução Cultural, que se estendeu de 1966 a 1976, não é alvo de críticas apenas de intelectuais exilados no Ocidente. O PC também avalia o movimento deslanchado por Mao Tse-tung como um erro histórico, que resultou em maior isolamento da China e em sua estagnação econômica.
Em nome da "pureza ideológica", Mao Tse-tung estimulava os "guardas vermelhos" a perseguirem "resquícios da China feudal, da influência ocidental e de valores contrários aos interesses dos camponeses e proletários". A cruzada maoísta tinha entre suas principais vítimas intelectuais, enviados a "campos de reeducação" em pontos remotos do país.
Gao Xingjian foi um desses jovens intelectuais condenados a viver nos confins da China para "aprender com os camponeses". Destino semelhante teve Dai Sijie, escritor também exilado em Paris e autor de um livro que é hoje um sucesso de vendas na França ("Balzac e a Costureirinha Chinesa"), que oferece a Revolução Cultural como pano de fundo.
Há ainda o exemplo de Jung Chang, escritora radicada em Londres e autora de "Os Cisnes Selvagens". O livro, sobre a vida de três gerações de mulheres chinesas, tem como um de seus pontos altos a Revolução Cultural.
O PC já desistiu de deificar Mao Tse-tung, embora continue a reverenciá-lo. A ideologia oficial aponta o fundamentalismo maoísta da Revolução Cultural como o principal erro do líder comunista. Hoje, esse período de turbulências entre 1966 e 1976 inspira livros e peças que revêem os excessos impostos pelo maoísmo.



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