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ANÁLISE
Revisão do maoísmo é tendência na China
JAIME SPITZCOVSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA
As turbulências da Revolução Cultural, momento de
radicalização das teses maoístas,
se transformam hoje em fonte de
inspiração para uma geração de
escritores e artistas chineses que
atravessaram a chamada "década
perdida". Gao Xingjian exemplifica essa tendência, que chega a ter,
às vezes, a companhia de ninguém menos do que o Partido Comunista da China.
A Revolução Cultural, que se estendeu de 1966 a 1976, não é alvo
de críticas apenas de intelectuais
exilados no Ocidente. O PC também avalia o movimento deslanchado por Mao Tse-tung como
um erro histórico, que resultou
em maior isolamento da China e
em sua estagnação econômica.
Em nome da "pureza ideológica", Mao Tse-tung estimulava os
"guardas vermelhos" a perseguirem "resquícios da China feudal,
da influência ocidental e de valores contrários aos interesses dos
camponeses e proletários". A cruzada maoísta tinha entre suas
principais vítimas intelectuais,
enviados a "campos de reeducação" em pontos remotos do país.
Gao Xingjian foi um desses jovens intelectuais condenados a viver nos confins da China para
"aprender com os camponeses".
Destino semelhante teve Dai Sijie,
escritor também exilado em Paris
e autor de um livro que é hoje um
sucesso de vendas na França
("Balzac e a Costureirinha Chinesa"), que oferece a Revolução Cultural como pano de fundo.
Há ainda o exemplo de Jung
Chang, escritora radicada em
Londres e autora de "Os Cisnes
Selvagens". O livro, sobre a vida
de três gerações de mulheres chinesas, tem como um de seus pontos altos a Revolução Cultural.
O PC já desistiu de deificar Mao
Tse-tung, embora continue a reverenciá-lo. A ideologia oficial
aponta o fundamentalismo
maoísta da Revolução Cultural
como o principal erro do líder comunista. Hoje, esse período de
turbulências entre 1966 e 1976 inspira livros e peças que revêem os
excessos impostos pelo maoísmo.
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