São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 2000

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SHOW
Atriz interpreta de Cartola a Leandro e Leonardo em "Estrela Tropical", espetáculo que estréia hoje em São Paulo
Marília Pêra assume papel de cantora

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é de agora que Marília Pêra, 57, pende para o microfone. Em 1975, no musical "Feiticeira", ela cantava acompanhada por uma banda na qual davam seus primeiros acordes jovens como Lulu Santos, Ritchie e Lobão. Ali, a atriz mesclava canções populares e dramatizava textos de Clarice Lispector, Jorge Luis Borges e Carlos Castañeda, entre outros.
A personagem da "cantora popular" Marília Pêra finalmente vem à baila em "Estrela Tropical", o show (e não o espetáculo musical, tampouco a montagem teatral), que fez curta temporada no Rio de Janeiro e estréia hoje em São Paulo, no teatro Renaissance, para seis apresentações.
O público da atriz ficará surpreso. "É a primeira vez em minha carreira que não tenho texto para dizer, com exceção de uma ou outra "janela" para uma conversa com a platéia. Eu apareço como cantora mesmo, tentando descobrir o meu personagem de cantora popular", afirma Marília.
Sob direção geral de Antônio Negreiros e direção musical de Roberto Menescal (com quem trabalhou pela última vez há 30 anos, no musical "A Úlcera de Ouro"), ela interpreta cerca de 30 canções. A seleção, feita por ela e Menescal, pretende-se representativa da canção popular brasileira firmada dos anos 50 para cá.
Vai de Cartola ("Acontece") a Tim Maia ("Não Quero Dinheiro, Só Quero Amar"), de Maysa ("Ouça") a Leandro e Leonardo ("Pensa em Mim"). O show é divido em três blocos que podem ser definidos como pop, romântico e "Carmem fake", o bis no qual Marília evoca o espírito solar de Carmem Miranda, cantando três sucessos da "pequena notável".
É a forma dissimulada que "Estrela Tropical" encontrou para não apagar de vez a sua concepção original para evocar a trajetória de Carmem Miranda. Descobriu-se, no entanto, que os direitos artísticos da cantora portuguesa são exclusivos de outra produtora no Brasil. Daí a guinada para a MPB.
Apenas o bis foi cedido, graças a um acordo com os advogados da família. É o momento em que Marília agita os balangandãs e solta o vozeirão em "Sassaricando" (Jota Junior, Oldemar Magalhão e Luis Antônio) e "Chiquita Bacana" (Braguinha e Alberto Ribeiro).
Por conta dos trâmites autorais, curiosamente configuraram-se duas versões do show. A brasileira é a que foi descrita até aqui, com repertório eclético da MPB e um "grand finale" em homenagem à mulher que mostrou ao mundo "O Que É Que a Baiana Tem".
Lá fora, como já foi mostrado em Portugal, o que se verá é um espetáculo que celebra Carmem Miranda de cabo a rabo.
No palco, Marília Pêra acentua o grave na voz, em detrimento do agudo. Para ela, "Começaria Tudo Outra Vez", composição de Gonzaguinha, é a canção que lhe exige mais.
"Emito um agudo aberto, de peito, sem qualquer empostação lírica", diz ela. Opõe-se, assim, à interpretação de "Master Class", solo de quatro anos atrás, quando defendia o papel da soprano Maria Callas.
"Seria petulância sonhar em cantar como Elis Regina, Zizi Possi, Gal, Bethânia ou Elba. Não quero atingir a perfeição", afirma. Ela é acompanhada por cinco músicos e dois backing vocal.


Show: Estrela Tropical
Diretor geral: Antônio Negreiros
Direção musical: Roberto Menescal
Quando: estréia hoje, às 21h; sex. e sáb., às 21h; dom., às 18h.; Até 22/10
Onde: teatro Renaissance (al. Santos, 2.233, Cerqueira César, tel. 0/xx/11/ 3069-2233)
Quanto: R$ 50


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