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TEATRO
"ANTIGA"
Em montagem, espectador peregrina por instalações e por performances, guiado por uma banda adolescente
Peça faz busca pela juventude perdida
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Talvez a grande angústia da
geração perdida seja a de perder a juventude. "Antiga", de Dionisio Neto, é um belo exemplo
disso. Há cinco anos, com a "trilogia do rebento", Dionisio se impunha como esperança dessa geração. Ator endossado pelos
maiores diretores da safra anterior -Antunes Filho, José Celso,
Gerald Thomas-, soube igualmente fazer com que se escutasse
atentamente sua prosa torrencial.
Na estréia de "Antiga", sua platéia estava presente, querendo
matar a saudade da multimídia
tribal de "Opus Profundum" e a
fábula beat de "Perpétua". Dionisio tem ainda o direito de ser arrogante, sua principal qualidade e
defeito, mas dá sinais de saber que
não poderá mais ficar só nisso.
O público ávido de modernidade encontrará uma peregrinação
por instalações e performances,
guiada pela adolescente banda ao
vivo. Quando surge Capricórnio,
o bode a ser sacrificado na orgia
rave, no desempenho aeróbico do
autor-protagonista -que arranca um dente a frio, gargareja álcool e clama por Mustafá, seu alter ego perdido-, tudo leva a crer
que estamos diante de um ritual
autocelebrativo.
Porém os que estiverem apenas
à espera de uma outra dose podem se sentir incomodados. O espetáculo se limita a um espaço essencial, um gramado artificial ao
qual adereços são trazidos por um
contra-regras andrógino, eficiente mecanismo para caracterizar o
sufocante ambiente novo-rico
(minimalismo kitsch seria um rótulo tentador, se ele já não sofresse por excesso de rótulos).
Tenta-se então contar uma história. Não há, porém, a prometida
forma "clássica", com começo,
meio e fim. A fábula confusa é
costurada por clichês de melodrama -incestos disfarçados, pai reconhecendo o filho no antagonista, nada que não seja dispensável- e não é tanto sobre uma
"imagem que perdeu seu herói",
mas sobre um herói que tenta
transcender a imagem.
Quase como uma autocrítica, a
musa Gertrúria surge com o rosto
coberto por sua própria foto na
capa do "The New York Times
Magazine". Quase aderindo à
personagem, versão feminina do
narcisismo de Dionisio, a fulgurante beleza de Djin Sganzerla é
um verniz que a desobriga de ser
profunda, mas que não deveria
condená-la a isso. Ainda mais por
ter a seu lado Helena Ignez, mãe
na vida e na fábula, que mantém
intacta a beleza mais profunda da
musa do cinema novo, como
comprova a citação cinematográfica habilmente inserida na trama.
Dionisio encontra José Rubens
Chachá em um aperto de mão
que remete a Gerald Thomas, não
tanto como um pai corrupto, mas
como um futuro possível. Espera-se que sim: Chachá já transcendeu
há muito a avidez pela fama e
mantém a juventude dos melhores tempos do teatro do Ornitorrinco, em pausas brechtianas impagáveis, como a que sucede a declaração de amor de seu pretendente a genro.
Como todo clichê, é falsa a afirmação de que os jovens podem,
mas não sabem, e os velhos sabem, mas já não podem. Chachá e
Helena provam que ainda podem
tudo (e é pelo desempenho deles
que o espetáculo escapa de ser
apenas regular). Djin e Dionisio
mostram que sabem não ter tanto
poder. O que falta agora é o diretor-autor-protagonista criar distanciamento suficiente para enxugar meia hora de espetáculo,
sacrificando cenas e frases de efeito em inglês que acabam diluindo
as histórias.
Um dia Dionisio vai perceber
que o que há de antigo nele é esse
apego a ser inovador, esse anseio
constante pela transgressão que o
absolve de sua época. Um dia vai
relativizar sua genialidade, deixar-se dirigir e ficar assim mais
apto para avaliar sua contribuição. Um dia, em suma, Dionisio
Neto perderá o medo de envelhecer. Enquanto isso, enjoy the
party, cara.
Antiga
Texto e direção: Dionisio Neto
Com: Helena Ignez, Dionisio Neto e José
Rubens Chachá
Onde: Centro Cultural São Paulo (r.
Vergueiro, 1.000, tel. 0/xx/11/3277-3611)
Quando: de qua. a sáb., às 20h30; dom.,
às 19h30, até 16/12
Quanto: R$ 12
Patrocinador: Departamento de
Formação Cultural da Secretaria de
Estado da Cultura
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