São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2004

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ILUSTRADA

Ex-líder da banda Beach Boys toca em São Paulo no dia 7 de novembro e anuncia álbum com ex-beatle em 2005

Brian Wilson encontra o Brasil e grava com McCartney

THIAGO NEY
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Brian Wilson vai fazer um disco com Paul McCartney no começo do ano que vem. Brian Wilson está em concorrida turnê americana e fez ontem o primeiro dos dois shows na imponente casa nova-iorquina Carnegie Hall. Brian Wilson acaba de recriar o que foi chamado de Santo Graal da música pop. Brian Wilson estará em São Paulo para apresentação inédita em novembro. Aos 63 anos, Brian Wilson não pára, e a reportagem da Folha constatou in loco.
O ex-líder dos Beach Boys (hoje é o ex-parceiro de Wilson, Mike Love, quem detém os direitos do nome do grupo) reservou o final da manhã/início da tarde de ontem para entrevistas. Mesmo após receber uma equipe da rede britânica BBC e outros dois jornalistas, ele continuava animado para esta última conversa.
Com pouco mais de 1,80 m de altura, Wilson parece mais alto do que em fotos ou na TV. Veste camisa, calça e sapatos pretos e ostenta, no dedo mindinho da mão direita, um anel com uma pedra verde. Antes da entrevista, vem o aviso: deve-se falar num tom acima do normal, pois Wilson "está ficando surdo". Ele senta-se numa mesa. E logo no inicio já mostra excitação ao falar de "Smile", o disco perdido de 1967 que foi recriado e oficialmente lançado no começo do mês. Ao gentilmente tentar abrir espaço na mesa, faz uso de muita força e bate um telefone no abajur colocado em cima do móvel.
Por quase todos os 15 minutos de entrevista, segura uma caneta azul e bate-a na mesa quando quer realçar uma idéia. Fala pausadamente, mas por várias vezes estende-se nas respostas. Em nada parece com o sujeito descrito como arredio, supertímido e combalido pelo uso excessivo de drogas, como vem sendo descrito desde os anos 60 até hoje.
Nestes poucos minutos, Wilson, que comandará uma noite do Tim Festival, em 7/11 -que até o fechamento desta edição ainda tinha ingressos disponíveis-, falou sobre o porquê do relançamento de "Smile", da tão comentada "rivalidade" com os Beatles e contou qual canção escolheria se fosse viver numa ilha deserta.
 

Folha - "Smile" era para ter saído em 1967, mas o sr. abortou o projeto. Quando e por que resolveu retomá-lo?
Brian Wilson -
Porque não era a época certa. Mas minha mulher e minha empresária me convenceram a tocar as músicas do disco depois do sucesso dos shows de "Pet Sounds" [em 2002, ele saiu em turnê apresentando a obra-prima de 1966 dos Beach Boys por inteira].

Quando foi isso? E a idéia de regravar o disco e lançá-lo oficialmente?
Wilson -
Foi há nove meses. Depois, em um mês, gravamos o álbum. Decidi que iria tocar primeiramente em Londres, pois meus shows lá foram sucesso.

Folha - O "Smile" que está nas lojas hoje é o mesmo que o sr. tentou completar em 67?
Wilson -
O disco está dividido em três elementos [que representariam a América, a perda da inocência e a Terra; veja texto nesta página]. Nós [ele e o letrista Van Dyke Parks] completamos os dois primeiros e adicionamos o terceiro elemento.

Folha - Sempre se falou numa competição criativa entre os Beach Boys e os Beatles. Existia realmente isso?
Wilson -
Aquela foi uma época muito boa. Não havia competição, éramos amigos. Conhecia Paul McCartney. Uma vez, ele me disse: "Vou fazer um disco melhor do que "Pet Sounds'". Respondi: "Não vai!". E ele: "Vou sim. Vai ser um chute na sua bunda". E ele fez.

Folha - Fez o quê?
Wilson -
"Sgt. Pepper".

Folha - Mas o sr. realmente acha que "Sgt. Pepper" é melhor do que "Pet Sounds"?
Wilson -
Acho. Acho que é mais abrangente, mais experimental...

Folha - É verdade que o sr. e McCartney farão um disco juntos?
Wilson -
Sim! Em janeiro ele virá à Califórnia para gravarmos. Já tenho duas músicas escritas.

Os Beach Boys sempre foram considerados uma banda associada à América, aos seus costumes. O sr. ainda acredita nisso?
Wilson -
Acredito que hoje estou mais feliz hoje do que jamais estive. Minha banda atual é muito melhor que os Beach Boys. E eu não gosto mais de Mike Love. Não nos falamos desde que meu irmão Carl morreu...

Folha - Nos anos 60 o sr. chegou a dizer que "Smile" era uma "sinfonia adolescente endereçada a Deus". O que quis dizer?
Wilson -
É porque eu queria fazer uma ópera-rock, alegre, jovial, como o que Phil Spector fazia. E ele é o melhor produtor de música do mundo.

Folha - Se o sr. tivesse que ir a uma ilha deserta e pudesse levar apenas uma canção, qual seria?
Wilson -
"You've Lost that Loving Feeling".

Folha - Mas qual dos Beach Boys?
Wilson -
"California Girls".


O jornalista Thiago Ney viajou a convite do Tim Festival


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