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ILUSTRADA
Ex-líder da banda Beach Boys toca em São Paulo no dia 7 de novembro e anuncia álbum com ex-beatle em 2005
Brian Wilson encontra o Brasil e grava com McCartney
THIAGO NEY
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Brian Wilson vai fazer um disco
com Paul McCartney no começo
do ano que vem. Brian Wilson está em concorrida turnê americana
e fez ontem o primeiro dos dois
shows na imponente casa nova-iorquina Carnegie Hall. Brian
Wilson acaba de recriar o que foi
chamado de Santo Graal da música pop. Brian Wilson estará em
São Paulo para apresentação inédita em novembro. Aos 63 anos,
Brian Wilson não pára, e a reportagem da Folha constatou in loco.
O ex-líder dos Beach Boys (hoje
é o ex-parceiro de Wilson, Mike
Love, quem detém os direitos do
nome do grupo) reservou o final
da manhã/início da tarde de ontem para entrevistas. Mesmo após
receber uma equipe da rede britânica BBC e outros dois jornalistas,
ele continuava animado para esta
última conversa.
Com pouco mais de 1,80 m de
altura, Wilson parece mais alto do
que em fotos ou na TV. Veste camisa, calça e sapatos pretos e ostenta, no dedo mindinho da mão
direita, um anel com uma pedra
verde. Antes da entrevista, vem o
aviso: deve-se falar num tom acima do normal, pois Wilson "está
ficando surdo". Ele senta-se numa mesa. E logo no inicio já mostra excitação ao falar de "Smile", o
disco perdido de 1967 que foi recriado e oficialmente lançado no
começo do mês. Ao gentilmente
tentar abrir espaço na mesa, faz
uso de muita força e bate um telefone no abajur colocado em cima
do móvel.
Por quase todos os 15 minutos
de entrevista, segura uma caneta
azul e bate-a na mesa quando
quer realçar uma idéia. Fala pausadamente, mas por várias vezes
estende-se nas respostas. Em nada parece com o sujeito descrito
como arredio, supertímido e
combalido pelo uso excessivo de
drogas, como vem sendo descrito
desde os anos 60 até hoje.
Nestes poucos minutos, Wilson,
que comandará uma noite do
Tim Festival, em 7/11 -que até o
fechamento desta edição ainda tinha ingressos disponíveis-, falou sobre o porquê do relançamento de "Smile", da tão comentada "rivalidade" com os Beatles e
contou qual canção escolheria se
fosse viver numa ilha deserta.
Folha - "Smile" era para ter saído
em 1967, mas o sr. abortou o projeto. Quando e por que resolveu retomá-lo?
Brian Wilson - Porque não era a
época certa. Mas minha mulher e
minha empresária me convenceram a tocar as músicas do disco
depois do sucesso dos shows de
"Pet Sounds" [em 2002, ele saiu
em turnê apresentando a obra-prima de 1966 dos Beach Boys por
inteira].
Quando foi isso? E a idéia de regravar o disco e lançá-lo oficialmente?
Wilson - Foi há nove meses. Depois, em um mês, gravamos o álbum. Decidi que iria tocar primeiramente em Londres, pois meus
shows lá foram sucesso.
Folha - O "Smile" que está nas lojas hoje é o mesmo que o sr. tentou
completar em 67?
Wilson - O disco está dividido
em três elementos [que representariam a América, a perda da inocência e a Terra; veja texto nesta
página]. Nós [ele e o letrista Van
Dyke Parks] completamos os dois
primeiros e adicionamos o terceiro elemento.
Folha - Sempre se falou numa
competição criativa entre os Beach
Boys e os Beatles. Existia realmente isso?
Wilson - Aquela foi uma época
muito boa. Não havia competição, éramos amigos. Conhecia
Paul McCartney. Uma vez, ele me
disse: "Vou fazer um disco melhor do que "Pet Sounds'". Respondi: "Não vai!". E ele: "Vou
sim. Vai ser um chute na sua bunda". E ele fez.
Folha - Fez o quê?
Wilson - "Sgt. Pepper".
Folha - Mas o sr. realmente acha
que "Sgt. Pepper" é melhor do que
"Pet Sounds"?
Wilson - Acho. Acho que é mais
abrangente, mais experimental...
Folha - É verdade que o sr. e
McCartney farão um disco juntos?
Wilson - Sim! Em janeiro ele virá
à Califórnia para gravarmos. Já tenho duas músicas escritas.
Os Beach Boys sempre foram considerados uma banda associada à
América, aos seus costumes. O sr.
ainda acredita nisso?
Wilson - Acredito que hoje estou
mais feliz hoje do que jamais estive. Minha banda atual é muito
melhor que os Beach Boys. E eu
não gosto mais de Mike Love. Não
nos falamos desde que meu irmão
Carl morreu...
Folha - Nos anos 60 o sr. chegou a
dizer que "Smile" era uma "sinfonia adolescente endereçada a
Deus". O que quis dizer?
Wilson - É porque eu queria fazer
uma ópera-rock, alegre, jovial, como o que Phil Spector fazia. E ele é
o melhor produtor de música do
mundo.
Folha - Se o sr. tivesse que ir a
uma ilha deserta e pudesse levar
apenas uma canção, qual seria?
Wilson - "You've Lost that Loving Feeling".
Folha - Mas qual dos Beach Boys?
Wilson - "California Girls".
O jornalista Thiago Ney viajou a convite
do Tim Festival
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