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POLÍTICA CULTURAL
Local que abrigava mostras de artes sedia exposição de patrocinador; secretário apura caso
Walkman gera polêmica na Casa das Rosas
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Transformada em espaço de leitura no ano passado, após protestos por ter sido fechada como local de exposição de artes plásticas,
a Casa das Rosas, na Paulista, volta a abrigar mostras. Agora, entretanto, como espaço voltado para
sua patrocinadora, a Sony, segundo material de divulgação, distribuído pela internet anteontem.
No próximo dia 20, será inaugurada "Walkman - A Evolução da
Música Portátil", que irá apresentar modelos do equipamento,
desde o protótipo criado há 26
anos, todos da marca que detém
os direitos da marca Walkman. A
exposição fica em cartaz um mês.
"Isso é usurpação do espaço público pela iniciativa privada. Um
mês é um absurdo. É preciso um
certo equilíbrio por parte dessas
ações de marketing, senão pega
mal, fica uma ação muito violenta
de merchandising. Coitado do
Haroldo de Campos", diz o artista
plástico José Roberto Aguilar, que
foi diretor da Casa das Rosas entre
1995 e 2002, quando o local foi fechado. Atualmente, é representante do Ministério da Cultura em
São Paulo.
Reaberta como Espaço Haroldo
de Campos de Poesia e Literatura,
em dezembro do ano passado, a
Casa das Rosas abriga a biblioteca
do poeta concreto, morto há dois
anos. O local é administrado por
uma organização social, a Abaçai
Cultura e Arte, dentro da ação de
terceirização dos equipamentos
culturais, iniciada pela ação da ex-secretária de Cultura, Cláudia
Costin, e tem patrocínio da Sony.
"A Sony então é a dona, ela pode
fazer o que quiser. O governo do
Estado estava leiloando a Casa das
Rosas. Primeiro, tentaram o grupo Takano. Ficou a Sony", ironiza
Aguilar. "Desde que o espaço teve
sua função alterada, fico muito
triste quando falo do assunto."
Já a artista plástica Dora Longo
Bahia é lacônica. "Isso não se comenta, se lamenta."
Excessos
"Vou verificar se houve algum
exagero na exposição para tomar
medidas cabíveis", disse o secretário estadual da Cultura, João Batista de Andrade, à Folha, anteontem, por telefone, do Rio, onde
lançava sua nova produção, "Vlado - 30 Anos Depois".
Andrade mostrou-se surpreso
com o caráter da mostra. "É fundamental ter o apoio da Sony,
mas a exposição foi organizada
junto com o diretor da Casa das
Rosas [Frederico Barbosa] para
traçar um panorama da música
popular brasileira nos últimos
anos, com a preocupação de apresentar as letras das músicas, já que
se trata de uma casa de leitura. Tivemos a preocupação de fazer algo que não fosse invasivo", afirma. No material de divulgação,
entretanto, não há menção a letras de música e o objetivo da exposição é apresentado como "levar ao público em geral a oportunidade de conhecer de perto a evolução da música portátil e da
tecnologia".
O secretário está insatisfeito em
como a Abaçai administra o local.
"O contrato de gestão foi assinado
na gestão anterior. Estou estudando uma nova forma de gestão,
que junte a Casa das Rosas a projetos semelhantes. A Abaçai cuida
de outros tipos de iniciativa, como o Revelando São Paulo. Já tenho um estudo para acertar isso."
Defesa
O diretor Frederico Barbosa defende a mostra de walkman.
"Desde que foi reinaugurada, a
Casa das Rosas recebeu um apoio
fundamental da Sony. É importante fazer o elogio a uma empresa privada que aloca recursos em
um espaço público."
Entretanto, Barbosa não revelou o valor do patrocínio: "Não sei
se sou autorizado a divulgar".
Ontem, a reportagem tentou localizar representantes da Sony para comentar a exposição, mas não
obteve retorno até o fechamento
desta edição.
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