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depoimento
Deveríamos fechar o teatro em memória
BIBI FERREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Eu e o Paulo trabalhamos juntos em dois
musicais que marcaram nossas carreiras. Em
1962, fizemos "My Fair
Lady", ao lado de Jaime Costa, Elza Gomes, Marília Pêra,
Sérgio Viotti e outros, com
direção de Victor Berbara.
Dez anos depois, foi a vez de
"O Homem de La Mancha",
dirigido por Flávio Rangel.
Uma coisa maravilhosa na
vida do Paulo é que ele nunca
cedeu em fazer algo mais fácil para angariar mais. Sempre trabalhou com uma decência artística incrível.
É um exemplo de vida de
um homem de teatro. Ele se
dizia "apenas" um homem de
teatro, mas era um verdadeiro homem de teatro. Acho
que nós, da classe teatral, deveríamos fechar os teatros
em respeito à memória desse
homem fantástico. Não sei se
Paulo aprovaria, mas é um
luto para o teatro nacional.
Paulo era digno não só sobre o palco mas fora dele, fazendo questão de transmitir
aos colegas, nos bastidores,
respeito para entrar em cena
e receber os aplausos mais
merecidos. Era cavalheiro,
homem educado e alegre.
Lembro-me que em "My
Fair Lady" ele sofreu um acidente e ficou semanas num
hospital. Ele superou aquela
fase, porque era um homem
otimista. Quando via que não
podia com a saúde, logo se
tratava para voltar ao palco.
Paulo Autran foi o maior
ator do moderno teatro brasileiro. Perdemos um grande
amigo, representante da geração de força que atravessou décadas.
BIBI FERREIRA , 85, é atriz e diretora
de teatro
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