|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Tate dá início a "mês Cildo" na Europa
Museu londrino abre exposição com 80 obras do artista brasileiro; Chelsea College of Art exibe instalação a partir do dia 21
Antologia apresenta trabalho sensorial e político de Meireles, que tem ganhado mais destaque na cena internacional
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Tate Modern, um dos mais
importantes museus do mundo, abre suas espaçosas galerias
em Londres para abrigar 80
obras de Cildo Meireles, nome-chave das artes plásticas no
Brasil que tem ganhado cada
vez mais espaço no circuito internacional.
Elas serão expostas no museu a partir de hoje (para convidados) e permanecem até 11 de
janeiro no local.
"O pessoal do museu é muito
profissional, eles estão desenvolvendo essa mostra desde
2003. Quando recebi a visita
deles em meu ateliê [em Botafogo, zona sul do Rio], foi engraçado, eles pareciam conhecer mais minha obra do que eu
mesmo", disse Cildo Meireles à
Folha, por telefone, da Tate,
onde cuidava dos últimos ajustes na montagem da exposição.
O espanhol Vicente Todoli,
diretor do museu, assina a curadoria da mostra, auxiliado
pelo crítico britânico Guy
Brett, co-curador e um dos
grandes especialistas em arte
brasileira no mundo. Amy
Dickson é a curadora-assistente. "Cildo Meireles" não vai se
restringir a Londres: seu roteiro inclui Barcelona, Houston,
Los Angeles e Toronto. "O Brasil ficou fora, é uma exposição
muito cara", diz ele.
Itinerário
A mostra tem como foco
principal oito instalações de
grande porte. Elas sintetizam a
obra de forte carga conceitual
de Cildo, que, com grande habilidade, consegue envolver o espectador com trabalhos de apelo sensorial.
É o caso de "Através", cuja
terceira versão está em caráter
permanente no Centro de Arte
Contemporânea Inhotim, em
Brumadinho (MG), que faz
com que o público caminhe sobre um chão forrado de vidro e
pontuado por diversas barreiras (grades, cercas e até uma
cortina de banheiro). Ou "Babel", coluna formada por centenas de aparelhos de rádio dos
mais diversos tipos, sintonizados em diferentes estações.
Também estarão presentes
instalações de tom político, outra característica da obra do artista. "Missão/Missões" utiliza
600 mil moedas, 800 hóstias e
2.000 ossos compondo um ambiente que remete à morte.
Sua leitura política se relaciona aos massacres empreendidos contra indígenas nas missões sul-americanas e contra
outras populações nativas em
diferentes momentos da história. A Igreja Católica é criticada
por suas iniciativas de aculturação empreendidas na América e em outros continentes por
religiosos.
Também serão exibidas as
instalações "Desvio para o Vermelho", "Eureka/Blindhotland", "Cruzeiro do Sul", "Volátil" e "Fontes", além de séries
de menor porte, como os desenhos "Ocupações" e "Volumes
Virtuais", desenvolvidos por
Cildo no começo de sua carreira, no final dos anos 60.
"Vejo a mostra como uma antologia, não como uma retrospectiva, já que obras recentes,
como "Marulho", não entraram.
As instalações sofreram poucas
alterações, estão bem de acordo com o que já foi apresentado
outras vezes", diz o artista.
Outros espaços
A abertura da mostra no museu britânico não encerra as
atividades em torno do artista.
O "mês Cildo" em Londres
prosseguirá, no dia 21, com o
Chelsea College of Art apresentando a instalação "Ocasião",
inédita no Brasil e exibida apenas na Alemanha, em 2004.
No dia 25, na Tate, uma versão de "Malhas da Liberdade"
será montada. "Vai ser uma espécie de escultura feita com peças de Lego durante o dia todo",
explica o artista.
Em 2010, outra grande mostra de Cildo acontece no museu
Reina Sofía, em Madri.
"Esta terá trabalhos recentes
e criados especialmente para lá.
Tenho uma reunião ainda neste mês para começar a montá-la", conta ele.
Antes de Cildo, a Tate abriu
suas portas para Hélio Oiticica
(1937-1980), hoje considerado
uma referência quando se fala
em arte latino-americana.
O museu apresentou no ano
passado "The Body of Color",
exposição com 150 obras do artista carioca, que participou da
arte construtivista e teve uma
trajetória marcada pelo experimentalismo.
Texto Anterior: Comentário: Ator propõe problema que não existe Próximo Texto: Frases Índice
|