São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2008

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Tate dá início a "mês Cildo" na Europa

Museu londrino abre exposição com 80 obras do artista brasileiro; Chelsea College of Art exibe instalação a partir do dia 21

Antologia apresenta trabalho sensorial e político de Meireles, que tem ganhado mais destaque na cena internacional


MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Tate Modern, um dos mais importantes museus do mundo, abre suas espaçosas galerias em Londres para abrigar 80 obras de Cildo Meireles, nome-chave das artes plásticas no Brasil que tem ganhado cada vez mais espaço no circuito internacional.
Elas serão expostas no museu a partir de hoje (para convidados) e permanecem até 11 de janeiro no local.
"O pessoal do museu é muito profissional, eles estão desenvolvendo essa mostra desde 2003. Quando recebi a visita deles em meu ateliê [em Botafogo, zona sul do Rio], foi engraçado, eles pareciam conhecer mais minha obra do que eu mesmo", disse Cildo Meireles à Folha, por telefone, da Tate, onde cuidava dos últimos ajustes na montagem da exposição.
O espanhol Vicente Todoli, diretor do museu, assina a curadoria da mostra, auxiliado pelo crítico britânico Guy Brett, co-curador e um dos grandes especialistas em arte brasileira no mundo. Amy Dickson é a curadora-assistente. "Cildo Meireles" não vai se restringir a Londres: seu roteiro inclui Barcelona, Houston, Los Angeles e Toronto. "O Brasil ficou fora, é uma exposição muito cara", diz ele.

Itinerário
A mostra tem como foco principal oito instalações de grande porte. Elas sintetizam a obra de forte carga conceitual de Cildo, que, com grande habilidade, consegue envolver o espectador com trabalhos de apelo sensorial.
É o caso de "Através", cuja terceira versão está em caráter permanente no Centro de Arte Contemporânea Inhotim, em Brumadinho (MG), que faz com que o público caminhe sobre um chão forrado de vidro e pontuado por diversas barreiras (grades, cercas e até uma cortina de banheiro). Ou "Babel", coluna formada por centenas de aparelhos de rádio dos mais diversos tipos, sintonizados em diferentes estações.
Também estarão presentes instalações de tom político, outra característica da obra do artista. "Missão/Missões" utiliza 600 mil moedas, 800 hóstias e 2.000 ossos compondo um ambiente que remete à morte.
Sua leitura política se relaciona aos massacres empreendidos contra indígenas nas missões sul-americanas e contra outras populações nativas em diferentes momentos da história. A Igreja Católica é criticada por suas iniciativas de aculturação empreendidas na América e em outros continentes por religiosos.
Também serão exibidas as instalações "Desvio para o Vermelho", "Eureka/Blindhotland", "Cruzeiro do Sul", "Volátil" e "Fontes", além de séries de menor porte, como os desenhos "Ocupações" e "Volumes Virtuais", desenvolvidos por Cildo no começo de sua carreira, no final dos anos 60.
"Vejo a mostra como uma antologia, não como uma retrospectiva, já que obras recentes, como "Marulho", não entraram. As instalações sofreram poucas alterações, estão bem de acordo com o que já foi apresentado outras vezes", diz o artista.

Outros espaços
A abertura da mostra no museu britânico não encerra as atividades em torno do artista. O "mês Cildo" em Londres prosseguirá, no dia 21, com o Chelsea College of Art apresentando a instalação "Ocasião", inédita no Brasil e exibida apenas na Alemanha, em 2004.
No dia 25, na Tate, uma versão de "Malhas da Liberdade" será montada. "Vai ser uma espécie de escultura feita com peças de Lego durante o dia todo", explica o artista.
Em 2010, outra grande mostra de Cildo acontece no museu Reina Sofía, em Madri.
"Esta terá trabalhos recentes e criados especialmente para lá. Tenho uma reunião ainda neste mês para começar a montá-la", conta ele.
Antes de Cildo, a Tate abriu suas portas para Hélio Oiticica (1937-1980), hoje considerado uma referência quando se fala em arte latino-americana.
O museu apresentou no ano passado "The Body of Color", exposição com 150 obras do artista carioca, que participou da arte construtivista e teve uma trajetória marcada pelo experimentalismo.


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