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CRISE NO CINEMA BRASILEIRO
Governo pode criar fundo de captação
da Sucursal do Rio
Para o dramaturgo Alcione
Araújo, que participou das discussões para a elaboração da Lei do
Audiovisual, o "alarme que se estabelece num momento de crise como este se deve à política cultural
brasileira estar apoiada apenas na
iniciativa de empresas privadas".
"A cultura não pode ser uma atividade sazonal. Se os recursos são
sazonais o Estado tem que desenvolver uma política pública para
preencher a lacuna que se cria
quando a rentabilidade das empresas diminui", disse Araújo.
"Temo que a reforma fiscal que
será anunciada pelo governo venha alterar as conquistas da cultura. Se o Estado resolver fazer um
corte nos incentivos fiscais ele terá
que assumir politicamente o ônus
de que a cultura vai parar."
A mesma opinião tem a produtora Mariza Leão, que está no momento produzindo "Amores Possíveis", de Sandra Werneck, orçado em R$ 2 milhões, dos quais já
captou 25%, e "Quase Memória",
baseado no livro homônimo de
Carlos Heitor Cony, dirigido por
Ruy Guerra e orçado em R$ 3 milhões, dos quais já captou 30%.
"O governo diz que o setor de audiovisual é estratégico para o país.
Mas esquece que é preciso dar condições para essa atividade caminhar, crescer e se desenvolver. Só
com a Lei do Audiovisual isso não
ocorre, porque os produtores ficam à mercê da rentabilidade das
empresas", disse Leão.
O secretário do Audiovisual,
Moacir de Oliveira, informou que
estão sendo pensadas alternativas
para solucionar o problema. Uma
delas seria a criação de um fundo
de captação.
Dessa forma, os interessados poderiam comprar cotas de participação do fundo, que financiaria a
produção de filmes, sem vinculação com incentivos fiscais.
Para Antônio Fernando De Franceschi , diretor-superintendente
do Instituto Cultural Moreira Salles, braço cultural do Unibanco, "é
sensato esperar uma redução de
investimentos na área cultural
dentro de uma conjuntura de redução de atividades econômicas".
"Nossa prioridade em 1999 será
para a exibição, já que a manutenção de nossas 23 salas nas cidades
de São Paulo, Rio, Belo Horizonte e
Porto Alegre fazem parte dos custos fixos do instituto. Investimento
em produção, só se houver sobra
de dinheiro, o que num momento
de crise é pouco provável", disse
Franceschi.
A coordenadora de projetos da
Shell, Simone Guimarães, disse
que, apesar da recessão que pode
acontecer no próximo ano, a empresa não pretende deixar de investir em cultura. O orçamento para 1999 será o mesmo deste ano:
US$ 1,9 milhão, sendo que, deste
valor, US$ 600 mil serão investidos
em cinema.
(ANNA LEE)
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