São Paulo, terça, 13 de outubro de 1998

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CRISE NO CINEMA BRASILEIRO
Governo pode criar fundo de captação

da Sucursal do Rio

Para o dramaturgo Alcione Araújo, que participou das discussões para a elaboração da Lei do Audiovisual, o "alarme que se estabelece num momento de crise como este se deve à política cultural brasileira estar apoiada apenas na iniciativa de empresas privadas".
"A cultura não pode ser uma atividade sazonal. Se os recursos são sazonais o Estado tem que desenvolver uma política pública para preencher a lacuna que se cria quando a rentabilidade das empresas diminui", disse Araújo.
"Temo que a reforma fiscal que será anunciada pelo governo venha alterar as conquistas da cultura. Se o Estado resolver fazer um corte nos incentivos fiscais ele terá que assumir politicamente o ônus de que a cultura vai parar."
A mesma opinião tem a produtora Mariza Leão, que está no momento produzindo "Amores Possíveis", de Sandra Werneck, orçado em R$ 2 milhões, dos quais já captou 25%, e "Quase Memória", baseado no livro homônimo de Carlos Heitor Cony, dirigido por Ruy Guerra e orçado em R$ 3 milhões, dos quais já captou 30%.
"O governo diz que o setor de audiovisual é estratégico para o país. Mas esquece que é preciso dar condições para essa atividade caminhar, crescer e se desenvolver. Só com a Lei do Audiovisual isso não ocorre, porque os produtores ficam à mercê da rentabilidade das empresas", disse Leão.
O secretário do Audiovisual, Moacir de Oliveira, informou que estão sendo pensadas alternativas para solucionar o problema. Uma delas seria a criação de um fundo de captação.
Dessa forma, os interessados poderiam comprar cotas de participação do fundo, que financiaria a produção de filmes, sem vinculação com incentivos fiscais.
Para Antônio Fernando De Franceschi , diretor-superintendente do Instituto Cultural Moreira Salles, braço cultural do Unibanco, "é sensato esperar uma redução de investimentos na área cultural dentro de uma conjuntura de redução de atividades econômicas".
"Nossa prioridade em 1999 será para a exibição, já que a manutenção de nossas 23 salas nas cidades de São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Porto Alegre fazem parte dos custos fixos do instituto. Investimento em produção, só se houver sobra de dinheiro, o que num momento de crise é pouco provável", disse Franceschi.
A coordenadora de projetos da Shell, Simone Guimarães, disse que, apesar da recessão que pode acontecer no próximo ano, a empresa não pretende deixar de investir em cultura. O orçamento para 1999 será o mesmo deste ano: US$ 1,9 milhão, sendo que, deste valor, US$ 600 mil serão investidos em cinema. (ANNA LEE)



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