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DISCO LANÇAMENTOS
Béla Fleck vence preconceitos com banjo
CARLOS CALADO
especial para a Folha
Eles estão na estrada há 10 anos,
mas só agora chegam ao Brasil.
"Left of Cool" é o sétimo CD de Béla Fleck and the Flecktones, banda
que transita entre gêneros aparentemente incompatíveis, como o
jazz e o bluegrass.
Além das heterodoxas fusões de
seu quarteto, o líder Béla (pronuncia-se "bêila") Fleck, 40, chama
atenção por seu virtuosismo em
um instrumento incomum para
um nova-iorquino: o banjo.
Atração cada vez mais frequente
em festivais de jazz internacionais,
a banda vem ampliando seu público, especialmente depois que abriu
shows da Dave Matthews Band
(atração do Free Jazz, que acontece
neste fim-de-semana).
Em entrevista exclusiva à Folha,
por telefone, Fleck fala dos preconceitos musicais que já enfrentou.
Revela que está aprendendo a tocar chorinho e que gostaria de se
apresentar no Brasil.
Folha - Como você se decidiu a
tocar banjo?
Béla Fleck - Eu me apaixonei pelo
som do banjo ao ouvi-lo nos filmes
"Bonnie and Clyde" e "Deliverance" ("Amargo Pesadelo"). Comecei a ter aulas e, ao mesmo tempo,
ouvia todos os tipos de música. Fui
um grande fã dos Beatles, gostava
de Joni Mitchell e de tudo dos anos
60.
Folha - E como o jazz entrou nessa mistura?
Fleck - Quando estava no colégio,
assisti a um concerto de Chick Corea e ouvi vários discos de Charlie
Parker. Esses músicos me impressionaram muito. Senti que poderia
tocar o banjo do mesmo jeito que
eles, com aquelas notas rápidas.
Desde então venho trabalhando
nisso.
Já toquei quase todos os tipos de
música: bluegrass, música irlandesa, rock, música clássica, country e
música indígena.
Folha - Os Flecktones circulam
hoje tanto no pop como no jazz. Já
enfrentaram preconceitos?
Fleck -Sim. No início, muita gente da comunidade do jazz nos via
como uma mera armação, mas essas pessoas foram mudando suas
opiniões. Acho que temos sorte
por sermos tão diferentes de outros grupos. Muita gente jovem,
que não costuma ouvir jazz, gosta
de nossa música.
Folha - Vocês têm tocado em um
número cada vez maior de festivais de jazz. Esses eventos estão ficando mais abertos ou vocês estão
mais jazzísticos?
Fleck - Boa parte disso é porque
somos mais populares, e os festivais sabem que vamos atrair mais
público.
Hoje, os números de público são
mais importantes para os promotores do que o fato de se tocar jazz
ou não. Para nós, o melhor disso é
a chance de surpreender, porque
alguns ainda nos encaram com
preconceitos.
Talvez o nosso nome atrapalhe,
por ser engraçado. Essas pessoas
acham que vão ouvir piadas ou
jazz contemporâneo, como o dos
Rippingtons, mas acabam se surpreendendo.
Folha - Críticos já chamaram sua
música de "fusion" contemporânea. Que tal esse rótulo?
Fleck - Há uma certa verdade nele. O problema é que hoje, quando
se usa o termo "fusion", as pessoas
pensam em um determinado período do jazz e não em seu real sentido. O fato é que fazemos mesmo
fusões musicais. Somos uma das
poucas bandas verdadeiras de fusão e não uma banda de jazz-rock.
As raízes de nossa música estão no
bluegrass, na música irlandesa e
em elementos diversos de outras
partes do mundo.
Folha - Você tem interesse pela
música brasileira?
Fleck - Estou começando a
aprender. Tenho um amigo que é
louco por chorinho, e ele tem me
mostrado coisas. Já estou praticando alguns. Espero poder tocar aí
no Brasil em breve.
Folha - O que o atrai no choro?
Fleck - As melodias são ótimas,
além da técnica e da agilidade dos
músicos. Acho que há uma relação
entre o choro e o bluegrass. Eles
devem ser primos.
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