São Paulo, terça, 13 de outubro de 1998

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DISCO LANÇAMENTOS
Béla Fleck vence preconceitos com banjo

CARLOS CALADO
especial para a Folha

Eles estão na estrada há 10 anos, mas só agora chegam ao Brasil. "Left of Cool" é o sétimo CD de Béla Fleck and the Flecktones, banda que transita entre gêneros aparentemente incompatíveis, como o jazz e o bluegrass.
Além das heterodoxas fusões de seu quarteto, o líder Béla (pronuncia-se "bêila") Fleck, 40, chama atenção por seu virtuosismo em um instrumento incomum para um nova-iorquino: o banjo.
Atração cada vez mais frequente em festivais de jazz internacionais, a banda vem ampliando seu público, especialmente depois que abriu shows da Dave Matthews Band (atração do Free Jazz, que acontece neste fim-de-semana).
Em entrevista exclusiva à Folha, por telefone, Fleck fala dos preconceitos musicais que já enfrentou. Revela que está aprendendo a tocar chorinho e que gostaria de se apresentar no Brasil.

Folha - Como você se decidiu a tocar banjo?
Béla Fleck -
Eu me apaixonei pelo som do banjo ao ouvi-lo nos filmes "Bonnie and Clyde" e "Deliverance" ("Amargo Pesadelo"). Comecei a ter aulas e, ao mesmo tempo, ouvia todos os tipos de música. Fui um grande fã dos Beatles, gostava de Joni Mitchell e de tudo dos anos 60.
Folha - E como o jazz entrou nessa mistura?
Fleck -
Quando estava no colégio, assisti a um concerto de Chick Corea e ouvi vários discos de Charlie Parker. Esses músicos me impressionaram muito. Senti que poderia tocar o banjo do mesmo jeito que eles, com aquelas notas rápidas. Desde então venho trabalhando nisso.
Já toquei quase todos os tipos de música: bluegrass, música irlandesa, rock, música clássica, country e música indígena.
Folha - Os Flecktones circulam hoje tanto no pop como no jazz. Já enfrentaram preconceitos?
Fleck -
Sim. No início, muita gente da comunidade do jazz nos via como uma mera armação, mas essas pessoas foram mudando suas opiniões. Acho que temos sorte por sermos tão diferentes de outros grupos. Muita gente jovem, que não costuma ouvir jazz, gosta de nossa música.
Folha - Vocês têm tocado em um número cada vez maior de festivais de jazz. Esses eventos estão ficando mais abertos ou vocês estão mais jazzísticos?
Fleck -
Boa parte disso é porque somos mais populares, e os festivais sabem que vamos atrair mais público.
Hoje, os números de público são mais importantes para os promotores do que o fato de se tocar jazz ou não. Para nós, o melhor disso é a chance de surpreender, porque alguns ainda nos encaram com preconceitos.
Talvez o nosso nome atrapalhe, por ser engraçado. Essas pessoas acham que vão ouvir piadas ou jazz contemporâneo, como o dos Rippingtons, mas acabam se surpreendendo.
Folha - Críticos já chamaram sua música de "fusion" contemporânea. Que tal esse rótulo?
Fleck -
Há uma certa verdade nele. O problema é que hoje, quando se usa o termo "fusion", as pessoas pensam em um determinado período do jazz e não em seu real sentido. O fato é que fazemos mesmo fusões musicais. Somos uma das poucas bandas verdadeiras de fusão e não uma banda de jazz-rock. As raízes de nossa música estão no bluegrass, na música irlandesa e em elementos diversos de outras partes do mundo.
Folha - Você tem interesse pela música brasileira?
Fleck -
Estou começando a aprender. Tenho um amigo que é louco por chorinho, e ele tem me mostrado coisas. Já estou praticando alguns. Espero poder tocar aí no Brasil em breve.
Folha - O que o atrai no choro?
Fleck -
As melodias são ótimas, além da técnica e da agilidade dos músicos. Acho que há uma relação entre o choro e o bluegrass. Eles devem ser primos.



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