São Paulo, Sábado, 13 de Novembro de 1999
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BRASIL 500 ANOS
Jorge Molder está em SP para selecionar obras que irão para a fundação Calouste Gulbenkian
Portugal verá o "Redescobrimento"

JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha

Sete artistas brasileiros de destaque nos anos 90 vão expor na fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a partir de outubro de 2000. A exposição vai somar-se aos dois módulos da "Mostra do Redescobrimento" que seguirão para Portugal depois de finalizado em São Paulo o megaevento em comemoração aos 500 anos.
Tudo somado, essa será a maior exposição de arte brasileira que Portugal vai ter visto, segundo afirmou Jorge Molder, diretor do Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão (que integra a Fundação Gulbenkian), em entrevista exclusiva à Folha anteontem.
Molder veio a São Paulo para definir, com Nelson Aguilar, curador-geral da "Mostra do Redescobrimento", quais obras do módulo "Arte do Século 20" irão para Portugal. A seleção faz-se necessária por dois motivos: seria inviável transportar todo o módulo e há aspectos do tema que estão contemplados em outras partes da exposição, o que exigirá que peças de outros módulos integrem a mostra portuguesa.
"O século 20 povoa de maneira bastante intensa a exposição, tem desdobramentos nos módulos "Imagens do Inconsciente", "Arte Afro-Brasileira" e "Arte Popular", por exemplo", explica Nelson Aguilar, referindo-se a três dos 11 segmentos em que a mostra, que acontece de maio a outubro de 2000 em três edifícios do parque do Ibirapuera, está dividida.
Para Portugal vão o módulo dedicado à arte do século 20 -que inclui de Tarsila do Amaral a Leonilson- e o referente à arqueologia, com peças dos primeiros habitantes do Brasil. "Queríamos levar primordial e atual, alfa e ômega", diz Molder. A exposição dos sete artistas vai ficar na sede da fundação, junto com "Arqueologia", para criar um contraste.
Conhecido por suas fotografias metafísicas em preto-e-branco, principalmente retratos, Molder é um dos artistas portugueses mais importantes da atualidade. E dirige o setor de arte moderna da instituição que provavelmente é a maior incentivadora das artes plásticas no país.
Criada pelo armênio Calouste Gulbenkian em 1956, a fundação atua em diversas áreas em Portugal, principalmente música. O Museu Calouste Gulbenkian surgiu em 1969 do acervo de 6.000 obras que seu fundador deixou. "O Gulbenkian tinha um critério absolutamente extraordinário: só comprava a partir de uma idéia de excelência. Tem dois dos melhores rembrants que eu conheço na coleção", conta Molder.
Em 1983, foi criado o Centro de Arte Moderna, primeiro espaço de exposição permanente de arte moderna e contemporânea em Portugal, que tem demonstrado grande interesse pela arte brasileira, já tendo exposto Hélio Oitica e Sérgio Camargo, entre outros. Atualmente está em cartaz uma mostra de Antonio Dias.
Para Molder, a importância da Mostra seguir para Portugal é simbólica e criativa, devido à importância da arte brasileira. "O que eu acho mais estimulante nessa exposição é que há um mundo de coisas novas a descobrir que são coisas que retomam o paradigma de Gulbenkian."
A fundação está preparando para integrar a celebração dos 500 anos de descobrimento um festival de artes brasileiras, buscando manifestações inovadoras. "Esse festival vai contemplar trabalhos de áreas que se entrecruzam, como música e imagem. Também abarcará teatro e dança, dentro desse espírito. Não tratamos de arte tradicional. Interessam-nos obras experimentais e híbridas."
O diretor do CAM afirmou que há vários nomes sendo cogitados para a exposição dos sete brasileiros, mas preferiu não citar nenhum até estarem definidos, decisão que também será tomada em conjunto com Nelson Aguilar.
As preparações da Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais para a itinerância da "Mostra do Redescobrimento" estão bem avançadas. Depois da visita do diretor da Fundação Gulbenkian ao país, já está confirmada a vinda do curador do British Museum, Colin Mc Ewan.


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