São Paulo, segunda-feira, 13 de novembro de 2000

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RELÂMPAGOS

Pecuária

JOÃO GILBERTO NOLL

Ninguém entrava. Ninguém saía. Já falavam em escassez de gêneros. De minha parte, sem um pingo de terrorismo, não sei por que comecei a gostar de que nos faltasse pouco a pouco tudo o que costumava nos manter de pé. Pensava, na minha circunspecta meninice: "Se a coisa ficar bem rasa, pode ser que se tire, enfim, daí uma saída!". Sensação que eu não sugeria nem para uma pedra. Ficava paradão, remexendo na terra. Já disse que ninguém entrava. Ou saía. Perto de fazer um mês, vi um boi na coxilha. Os homens que no passado só sabiam argumentar aproximaram-se dele, com jeito. Com pedras o esfolaram, abateram-no. Coube a mim o coração. Com uma posta na boca ensanguentada, crua, gelatinosa, maior que a minha garganta, eu soube, sim, ressuscitar.


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