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DISCO/CRÍTICA
"Uma Idéia de Café" faz homenagem a Armando Albuquerque
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
"A gente sai dum café... e
logo surge uma idéia." Era
assim que Armando Albuquerque (1901-86) explicava o título de
"Uma Idéia de Café", para piano
solo, composta em 1928 -dois
anos depois da inaugural "Pathé-Baby" e quase 50 anos antes de
"Sonho III" (1974), sua última peça para piano, dedicada ao "aluno
e amigo" Celso Loureiro Chaves.
Agora, no ano de seu centenário,
o amigo e aluno (seu sucessor no
departamento de música da
UFRGS, em Porto Alegre) homenageia o mestre com uma gravação definitiva, um disco "independente" no sentido mais forte
da palavra.
Armando Albuquerque está para a música de sua cidade como
Mário Quintana para a poesia ou
Erico Verissimo para o romance:
confunde-se com a própria alma
das ruas. O fato de que nem mesmo lá sua arte seja bem conhecida
não muda nada. A cidade chega a
si em composições como "Outono" (1941) ou "Tocata" (1948), escritas num estilo que esse homem
modestíssimo e original descrevia
como a reunião de "pedacinhos
de música".
"Peça para Piano 1964", o tour
de force do disco, leva a um extremo o impulso antigo de escrever
formas livres -música gerada a
partir de si, coincidindo a cada
momento com sua expressão.
Harmonias basicamente tonais,
com expansão de acordes e encadeamentos. Ritmos e texturas
cambiantes, num caleidoscópio
sonoro.
Só num caso ele se permitiu escrever sem fraturas. Foi na "Evocação de Augusto Meyer" (1970),
composta após a morte do grande
poeta e crítico. Um lá agudo pontua o tempo fatidicamente. A música cresce, depois se esvai. Uma
última figura desenha um esboço
sonoro de Meyer, um farrapo magro cortando o teclado, até desaparecer nas profundezas. Armando Albuquerque chega aqui ao
que de mais fundo a música pode
chegar. Evocou um homem; e escreveu a morte.
Ninguém que o tenha conhecido esquece de sua própria figura,
os cabelos brancos lisos e longos,
a voz nunca mais que um sussurro, a imaginação mais livre do que
a de qualquer aluno. Num país de
tão pouca memória, esse disco
resgata, com a devida distinção e a
devida dose de simpatia também,
a presença musical e humana de
um dos nossos maiores compositores.
Uma Idéia de Café
Artista: Armando Albuquerque
Distribuição: independente
(cglchave@portoweb.com.br)
Quanto: preço não definido
Lançamento: hoje e amanhã, no
Instituto Goethe em Porto Alegre (av. 24
de Outubro, 112), às 20h, entrada franca
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