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MÚSICA
Cantora radicada nos EUA, elogiada pela revista de jazz "Downbeat" , faz hoje último show de temporada paulistana
Luciana Souza exibe "green card" artístico
EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO
Quem acha que usar a voz como
instrumento musical é balela tem
hoje uma chance de enxergar o
equívoco em que está metido. Luciana Souza, cantora brasileira radicada nos EUA, faz no Bourbon
Street o último show de sua curtíssima temporada paulistana.
Aliás, chamar a moça de cantora limita o alcance e a variedade
de seus talentos, que em boa parte
vieram do berço -ela é filha do
violonista Walter Santos e da letrista Tereza Souza. O outro tanto
foi lapidado em bancos de escolas
de música norte-americanas.
Luciana passou quatro dos seus
36 anos estudando composição
no Berklee College of Music, em
Boston, escola que diplomou gente como o arranjador Quincy Jones, o saxofonista Branford Marsalis e o guitarrista John Scofield,
entre outros bambas do jazz.
"Ali eu aprendi a dar nome aos
bois, pois muita coisa eu já sabia
intuitivamente", diz ela, por telefone à Folha, sem deixar de lembrar que, antes de ir para os EUA
nos anos 80, teve aulas de piano e
violão em território nacional.
Apesar de graduar boa parcela da
mais competente mão-de-obra
jazzística contemporânea, a Berklee -onde Luciana é professora- é criticada por uniformizar o
vocabulário de seus alunos.
"Quem critica vê parte da foto.
A escola fornece apenas as ferramentas para que o estudante desenvolva a musicalidade que tem
em si. Agora, se a pessoa vai fazer
arte ou comércio, isso não é responsabilidade da Berklee."
Para encerrar o capítulo aprendizado, é preciso dizer que a cantora tem pendurado na parede o
título de mestre obtido no New
England Conservatory of Music.
E tanta teoria ajuda a moça a
usar a voz para se expressar musicalmente? Muito. Com base em
"Brazilian Duos" -CD que Luciana vem lançar no Brasil-, nota-se que ela pensa e age como um
instrumentista de sopro.
Domina o tempo da respiração
para estar com os pulmões sempre com as libras de ar necessárias
para ir do sussurro ao discurso
veemente com pleno controle. A
herança afro-brasileira deixa as
marcas na pulsação rítmica com
que ela permeia as frases. E os
anos de escola se fazem sentir na
riqueza dos "scats" (canto sem
palavras) que ela produz.
Tudo somado, Luciana é um
daqueles produtos musicais que
soam como brisa aos ouvidos
norte-americanos. Isso dá à cantora uma espécie de "green card"
artístico e faz dela mais uma candidata a brasileiros que foram para não mais voltar, como Airto
Moreira, Flora Purim e Sérgio
Mendes.
"Minha vida está aqui. Dou aulas, gravo e faço shows nos EUA.
Quando junto dinheiro suficiente,
vou ao Brasil, onde meus shows
são bem recebidos", afirma a dona de uma discografia que já foi
elogiada pelas duas mais renomadas publicações de jazz dos EUA,
"Jazz Times" e "Downbeat".
"Brazilian Duos" é seu quarto
trabalho solo. Ela estreou em 92
com um disco que leva seu nome
e depois lançou "An Answer to
Your Silence" (98) e "The Poems
of Elizabeth Bishop and Other
Songs" (2000). Além disso, participou de discos do pianista Danilo
Perez, do baixista John Patitucci e
do mago Hermeto Pascoal, entre
outros.
O clima do show de hoje no
Bourbon estará muito próximo
da atmosfera registrada no mais
recente disco da cantora. Para
acompanhá-la, sobem ao palco os
violonistas Marco Pereira -que
participou de "Brazilian Duos"-
e Swami Júnior, além do percussionista Marcos Suzano.
LUCIANA SOUZA - quando: hoje, às
22h30. Onde: Bourbon Street Music Club
(r. dos Chanés, 127, Moema, São Paulo,
tel. 0/xx/ 11/5561-1643). Quanto: de R$
35 a R$ 75.
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